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Coluna da CLiP: Ritual de verão

Mais um feriado de final de ano inicia e enquanto isso, nas praias, os rituais se perpetuam, pois fazem parte do inconsciente coletivo.

17 de fevereiro de 2023

Foto: Envato Elements

Mais um feriado de final de ano inicia e enquanto isso, nas praias, os rituais se perpetuam, pois fazem parte do inconsciente coletivo.

A areia da praia, rapidamente, vai se congestionando pelos guarda-sóis, cadeiras, toalhas, sacolas e térmicas repletas de água, refrigerantes e latas de cerveja, que em sua maioria ficarão deixadas na praia, ajudando assim a poluir o planeta.

O desfile de corpos é presenciado por todos que se comparam silenciosamente, achando-se cada qual, o baluarte da perfeição.

As fêmeas, após abrirem as cadeiras e sobre elas colocarem suas toalhas, ou estendê-las na areia, lançavam um olhar discreto escondido pelos óculos de sol, imaginando que alguém da plateia perceba seus corpos, enquanto soltam os cabelos, que estavam presos em rabo de cavalos, para em seguida amarrá-lo novamente da mesma forma, com o mesmo elástico. O barulho das ondas quebrando na praia é a sinfonia para aquele ritual.

Lentamente, olhando para os lados, retiram seus micros vestidos que servem de saída de praia, ajeitando a parte superior e a calcinha do minúsculo biquíni e novamente prendendo o cabelo no mesmo gesto anterior.

Os machos, que fazem questão de expor seus músculos peitorais, alguns deslocados mais abaixo do que o desejado, marcam seus territórios, enterrando o guarda-sol na areia.

Os adultos voltam à infância, brincando na areia, mergulhando ou praticando algum esporte com o melhor amigo, a parceira ou seu filhote que perpetuará a espécie.

No início do feriadão a alegria é percebida nos rostos de todos, desde as crianças até as pessoas da melhor idade, termo esse inventado por alguém mais velho para aceitar que não pertence mais ao grupo de jovens em idade de acasalamento, mas nem por isso menos alegres.

O burburinho das vozes, risos e discursos dos vendedores abafam o ruído silente dos raios solares que fritam as carnes dos corpos humanos empapados pelos óleos bronzeadores, que serão em poucos minutos, cobertos pelos grãos de areia, qual bife à milanesa.

As crianças, alienadas da realidade dos mais velhos, travam uma luta feroz com a marola interminável que insiste em desaguar na praia, puxando sorrateiramente seus pés, derrubando-os e molhando seus corpos e suas gargantas, com goles indesejados de água salgada.

Os apitos dos ambulantes, legalmente cadastrados na prefeitura, são disputados pelo barulho da abertura das latas de cerveja das mais variadas marcas, abertas com a desculpa de se desestressarem.

A pequena faixa entre a água e a areia fofa, regada pelo vai e vem das ondas, fica congestionado por pedestres que conseguem por algumas horas, afastarem-se dos volantes de seus veículos.

Os corpos esculturais, em sua maioria desproporcionais, refletem a realidade dos excessos de alimentos e bebidas, expondo às vezes incorretas alimentações, acrescidas pela falta de exercício nos outros dias do ano.

A insolação e a desidratação são amenizadas por algumas garrafas de água e uma ou outra térmica de água quente que abastece o chimarrão dos nativos das terras gaúchas ou dos Hermanos.

Assim segue a manhã e quando o astro rei e o relógio biológico indicarem, a areia da praia esvaziará com a mesma velocidade que encheram e depois da vasta refeição e da pestana prolongada, o ritual da manhã será repetido a tarde.

Assim, pelos próximos dias, quando iniciar o ano novo, alguns agradecerão pelo termino da pausa para voltarem as suas rotinas, pois não sabem mais o que fazer em suas horas de folga, tão acostumados estão as correrias do dia a dia.

E a vida seguirá e no próximo verão a cena se repetirá enquanto aguardamos a chegada de mais um ano.

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