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Coluna da CLiP: Espera(r) para ver

Ouvi pai, mãe, avós e muitos adultos, provavelmente até professores, falando que devagar se ia ao longe e quem esperava, sempre alcançava.

4 de novembro de 2022

Foto: Envato Elements

Ouvi pai, mãe, avós e muitos adultos, provavelmente até professores, falando que devagar se ia ao longe e quem esperava, sempre alcançava.

Durante minha infância aprendi a aguardar e que para cada desejo havia um tempo certo para a espera. As coisas mudaram e uma geração fortemente impulsionada pelo consumo industrial surgiu destruindo a bandeira do “depois” e erguendo o “agora” diante de seus interesses.

Esse momento foi o avesso de tudo o que eu até então ouvia e assim, ditava o ritmo de tudo também. Eu marchei junto com multidões e me tornei uma jovem aprendiz do consumo. Eu e o mundo inteiro! Quisera eu ser exceção, mas realmente não fui.  A velocidade tornou-se a bola da vez!

“Seja feliz agora! Não espere para depois! Você merece!” e com esses chavões uma grande massa de indivíduos imediatistas, consumistas, extremamente ansiosos, permanentemente aflitos e pasmem, com alto grau de endividamento pessoal e de obesidade surgiu.

Esse “eu quero agora!” passou a ser exclamado a toda hora e por todos os cantos pelas circunstâncias mais inusitadas. De “eu quero” em “eu quero” devastamos boa parte da Amazônia, extinguimos e ameaçamos diversas espécies animais, provocamos o crescimento desenfreado da indústria farmacêutica para aliviar nossas dores e nos tornamos campeões em cirurgias bariátricas e estéticas.

Tudo passou a ser descartável e a disciplina e a constância foram diminuídas diante dos milagres do momento presente. Esses jovens tornaram-se adultos que tiveram filhos e os criaram com a mesma intensidade da urgência. Algumas pessoas disseram “esperem um instante!” e foram caladas. Alguns poucos lúcidos surgiram da ciência ou da longa existência e sim, todos foram silenciados pelo poder do agora, da experiência de conforto e pelo capital.

Hoje, a população observa o estrago do consumismo e dizem em coro: “é preciso esperar!”. Não é fácil! É preciso lutar contra o padrão estabelecido. É necessário pisar no freio e desacelerar o consumo, mas toda atenção é pouca! Quando o carro está em alta velocidade e o freio é acionado bruscamente, o resultado é um inevitável acidente.

Acabamos de atravessar uma pandemia e sentimos os estragos causados na pele. O veículo voltou a rodar velozmente! Saímos de casa e queremos viver todos os prazeres do instante presente. Convido cada a pisar levemente no freio. Vamos desacelerar por vontade e consciência. Vamos ensinar as crianças que o tempo de espera é importante. Vamos dar o exemplo! Quisera eu pudesse estar falando sem culpa no cartório. Não posso! Também gosto da conveniência e do conforto. Também respiro o agora. A diferença talvez esteja na minha predisposição para a mudança. É isso. É sobre isso. Não há o que fazer. É preciso esperar para ver!

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