Arquitetura de resiliência
Cidade-esponja, de que forma a arquitetura pode contribuir para a mitigação de desastres naturais relacionados às chuvas
Foto: Xuhui Runway Park / Sasaki. © Sasaki
Os eventos relacionados a mudanças climáticas e suas consequências não são mais apenas alertas e, sim, uma realidade a ser enfrentada. Desastres naturais relacionados às chuvas, como no Rio Grande do Sul, e os que enfrentamos em Santa Catarina e até mesmo na nossa cidade, devem ser repensamos e estudados para trazer soluções mitigadoras de forma resiliente.
A resiliência é um conceito multifacetado que pode ser aplicado a várias disciplinas. Na arquitetura, entendemos o conceito como a capacidade de edifícios, espaços urbanos e comunidades de resistirem e se adaptarem a eventos adversos (como desastres naturais, mudanças climáticas ou crises sociais), mantendo a funcionalidade, segurança e habitabilidade, e se recuperando rapidamente dos danos.
Assim, a arquitetura e o urbanismo não podem evitar eventos adversos do clima, porém, possuem um papel importante nas estratégias urbanísticas para minimizar os danos associados a esses eventos e ajudar a proteger os cidadãos.
Um dos exemplos que podemos trazer e que pode ser aplicado diretamente na nossa cidade e região, seria o conceito de cidade-esponja. São cidades projetadas para aumentar a capacidade das áreas urbanas de absorver, reter e reutilizar a água da chuva, reduzindo o risco de enchentes e outros desastres relacionados à precipitação intensa.
Inspirado pela forma como esponjas naturais absorvem líquidos, o conceito envolve a integração de várias disciplinas que permitem que o ambiente urbano lide melhor com grandes volumes de água.
Como principais estratégias da cidade-esponja temos a implantação de uma infraestrutura verde, como parques e jardins urbanos, associados à edifícios sustentáveis com telhados e paredes verdes, que cumprem com uma agenda coletiva social. Outra estratégia seria a implantação de um sistema de drenagem sustentável, no qual a cidade tenha pavimentos permeáveis, jardins de chuva e plantações de agricultura urbana, sendo necessário também, a gestão e reuso da água, como a implantação de um sistema de captura e armazenamento de água da chuva e áreas úmidas com jardins de plantas filtradoras que tratam e retêm a água da chuva. (Wetlands urbanos)
Além da redução de enchentes e prevenção de desastres relacionados a chuva, as contribuições da cidade-esponja pontuam também para o reabastecimento dos aquíferos, pois ao filtrar a água da chuva através das plantas e solo, elas reduzem a quantidade de poluentes que entram nos cursos de água, melhorando a qualidade dela. Auxiliam também, na regulagem da temperatura e umidade do ar, contribuindo para um clima urbano mais ameno e confortável. E uma das suas principais vantagens seria a integração com os espaços verdes urbanos, que aumentam a qualidade de vida dos habitantes, e biodiversidade local, proporcionando espaços de lazer e recreação para a comunidade.
É importante frisar que implementar toda essa infraestrutura verde não é fácil, exige a integração de vários estudos e disciplinas e um diálogo e planejamento muito importante entre comunidade e órgãos municipais, sendo assim, trata-se de um planejamento a longo prazo, mas que é possível de ser implantado e possui inúmeros benefícios. Ao fazer isso, as cidades podem não apenas reduzir o risco de desastres relacionados à chuva, mas também criar ambientes urbanos mais sustentáveis e habitáveis.
Por Flávia Andressa Bankhardt, Arquiteta e Urbanista – CAU Nº A172275-1