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Um trabalho sesquicentenário na educação de Pomerode

Série de reportagens enaltece as histórias dos 150 anos da EBM Dr. Amadeu da Luz

26 de junho de 2021

O bairro de Testo Alto é nacionalmente conhecido por ser um dos redutos de conservação da cultura herdada dos colonizadores pomeranos, com as várias construções em estilo enxaimel e com a manutenção do estilo de vida rústico, em diversas propriedades. E, ainda, a comunidade tem mais um motivo para se orgulhar: a Escola Básica Municipal Dr. Amadeu da Luz, que completou 150 anos de um trabalho de excelência na educação, em 2021.

Ao longo das próximas edições, o Jornal de Pomerode apresentará, em suas páginas, uma série especial, trazendo os personagens desta trajetória cheia de conquistas, realizações e de contribuições à educação pomerodense.

A história da criação da escola se entrelaça com a história do próprio bairro, um dos locais em que se instalou boa parte dos imigrantes vindos da Europa, no século XIX. Ao chegarem em Pomerode, e na região do Vale do Itajaí, uma das primeiras preocupações dos colonos foi a construção de um prédio que tivesse, inicialmente, dupla função: funcionar como escola para os filhos dos imigrantes e celebrar os atos religiosos.

 

 

Baseado em documentos originais em alemão, a escola foi fundada pelos moradores da parte superior do Testo no ano de 1871, tendo como primeiro professor o Sr. Friedrich Schümann. Como primeira escola, serviu uma cabana construída com palmitos e só alguns anos mais tarde, depois que os moradores de Rega se uniram a essa comunidade, foi edificada uma casa maior, tipo enxaimel, com paredes de barro. 

No ano de 1886, a comunidade, estimulada pelo Pastor Runte, construiu no mesmo terreno uma igreja de alvenaria, com uma pequena torre de madeira que continha dois sinos. Depois que a Igreja ficou pronta, as paredes de barro da escola também foram substituídas por paredes de tijolos. Em julho de 1886, os moradores de Rega se desligaram após terem construído sua própria escola em Rega.

Entre os primeiros diretores da escola estavam Karl Siewerdt, Christian Frahm, Franz Hornburg, Karl Maske. Em 1939, por alguns meses, a escola teve como professor Leopoldo Wachholz, que foi exonerado em virtude da eclosão da 2ª. Grande Guerra Mundial, quando houve o fechamento de todas as escolas particulares, política conhecida como Nacionalização. Assim, assume a escola a professora Gertrudes Soares, vinda de Blumenau, que ficou até o final daquele ano. Também, nesta época, a escola foi transformada em municipal e recebeu o nome de “Dr. Amadeu da Luz”. Em 5 de maio de 1941 foi fundada a Associação de Pais e Professores “Christian Frahm”. A partir de 1944, o cargo de professor foi ocupado pelo Sr. Rudolfo Hornburg, que lecionou em dois turnos e teve até 1948 como assistente o professor Hugo Frahm, sendo este último substituído, a partir deste ano, pelo professor Christian Frahm, neto do cido Christian Frahm, que permaneceu como substituto até 1957, quando foi transferido. Sua vaga foi ocupada pela professora Úrsula Hornburg, filha do professor regente Sr. Rudolfo Hornburg, como substituta até 1960, ano em que foi efetivada e trabalhou até se aposentar no ano de 1985. Seu pai, Sr. Rudolfo, também lecionou até se aposentar em 1968.

Na época do professor Rudolfo Hornburg, em 02 de janeiro de 1962, a escola em estilo enxaimel foi demolida e reconstruída pela comunidade, juntamente com a Prefeitura no governo de Arnoldo Hass, tendo a obra uma sala de aula inaugurada em 10 de março de 1962. Em 1969, foi construída mais uma sala de aula pela Prefeitura Municipal no governo do prefeito Sr. Mário Jung e vice-prefeito Sr. Rudolfo Hornburg.

 

Inauguração das instalações da escola, em 1986. (Foto: Arquivo Amadeu da Luz)

 

Em 26 de fevereiro de 1985, no governo municipal do Prefeito Sr. Eugênio Zimmer e Vice-Prefeito Sr. Nelson Riemer, a escola foi transformada em Escola Básica Municipal “Dr. Amadeu da Luz”, assumindo como diretora Therezinha da Silva Baptista. Através do parecer aprovado pelo Conselho Estadual de Educação, aprovando a instituição como Escola Básica, foi construído por este governo municipal um prédio novo de arquitetura moderna em terreno de 5.041m² doado por Oscar Volkmann, sendo que a antiga sede onde funcionava a escola foi devolvida à comunidade.

Ainda no ano de 1985, foi criado na escola o ensino Pré-escolar, tendo à frente a professora Lilian Strobel, que lecionou até o final deste ano. Quando no ano seguinte, em virtude do elevado número de alunos, foi desdobrado em Jardim e Pré-escolar, funcionando em dois turnos diferentes, assumindo as turmas a professora Simone Haut.

A Escola Básica Municipal “Dr. Amadeu da Luz” foi oficialmente inaugurada em 19 de outubro de 1986, com presença de autoridades municipais, estaduais e federais, sendo realizada uma festa com o apoio da comunidade local. Na época, a diretora era Therezinha da Silva Baptista, que permaneceu na direção da escola por mais de 20 anos.

Ano após ano, a escola foi crescendo, juntamente à comunidade de Testo Alto, tornando-se uma das maiores da cidade. Atualmente, a escola possui 683 alunos matriculados no ensino regular e acumula conquistas no âmbito educacional. 

A atual diretora é Scheila Maas, que faz parte do corpo docente da escola 2013. Ela assumiu a direção da instituição no ano de 2019, continuando o legado de liderança à frente de um importante pilar da comunidade da região norte da cidade.

 

Scheila Maas, atual diretora. (Foto: Isadora Brehmer / Jornal de Pomerode)

 

“Eu comecei a atuar na escola como professora de Língua Portuguesa e tive a oportunidade de assumir a direção da escola em 2019. É uma grande responsabilidade assumir como gestora logo de cara uma escola tão grande, que tem um enorme prestígio na cidade. Eu busco devolver a confiança que foi depositada em mim com trabalho, com muita seriedade, para que os projetos e toda esta história de 150 anos possam ser perpetuados e para que possamos da continuidade àquilo que já é bom”, enaltece a diretora.

Um dos destaques da Escola Amadeu da Luz é a participação em concursos como a Olimpíada Brasileira de Matemática (Obmep), o Concurso de Leitura em Alemão, a Olimpíada Canguru de Matemática, nas quais a escola soma centenas de premiações. Além disso, a Escola Amadeu da Luz se destaca pelo Ensino Bilíngue, que fomenta a prática do idioma alemão, herdado por muitos alunos de suas famílias, e que se torna um diferencial, ao longo dos anos.

 

Conquistas de um trabalho conjunto

A diretora da Escola Amadeu da Luz destaca a importância da comunidade na construção da trajetória da instituição. “A escola tem uma APP muito atuante, como em boa parte de sua história, um resultado de gestões anteriores, que trouxeram a comunidade para junto de si. Temos trabalhos de diretores que estiveram muitos anos à frente, que conseguiram, aos poucos, que a comunidade percebesse que a escola faz parte do bairro, é importante e merece ser apoiada tanto nos projetos quanto no dia a dia”, destaca.

E, como a educação fala, também, da formação de novos cidadãos para a sociedade, a sustentabilidade é um dos valores estimulados, diariamente, pela Escola Amadeu da Luz. Desde 2017, há um projeto de arrecadação de lacres, que são trocados por cadeiras de rodas. Scheila relembra que a campanha começou de forma tímida, mas se expandiu ao longo dos anos, sendo ampliada, inclusive, para outros materiais.

“Hoje temos os lacres, com os quais já conseguimos a compra de duas cadeiras de rodas, emprestadas à comunidade sempre que precisam, além da coleta de tampinhas de garrafa pet, óleo de cozinha usado, jornais, para o Sítio Dona Lúcia, uniformes e raspas de lápis. Tudo o que é possível recolher, sugerimos à comunidade e eles abraçam a causa. O sucesso destas campanhas se devem ao engajamento da comunidade, é impressionante”, enaltece.

 

Memórias valiosas

A primeira turma a concluir o ensino básico na Escola Amadeu da Luz, sendo a turma pioneira da 8ª série, formou-se em 1988, com oito alunos. Um destes estudantes, que tem seu nome escrito na história da escola, é Rosalete Siewerdt Dahlke. Ela foi aluna da instituição de 1980 até 1988, totalizando nove anos no local. 

“Após terminar a quarta série, no ano seguinte, comecei na escola básica, na Escola Amadeu da Luz. Foram anos maravilhosos, eu tive professores realmente incríveis, que ensinavam, tudo muito certo, ao pé da letra, que cobravam ortografia e qualquer errinho. E foi assim que a gente realmente aprendeu o certo”, relembra Rosalete.

 

Rosalete S. Dahlke. (Foto: Raphael Carrasco / Jornal de Pomerode)

 

Outro ponto destacado pela ex-aluna é a união da comunidade, em torno da escola. Segundo Rosalete, desde o tempo em que estudou na Amadeu da Luz, havia a horta, na qual vários pais ajudavam e os próprios alunos faziam a horta na escola, plantavam, cuidavam do jardim, das flores e de todo o resto no pátio da escola.
E, claro, há a amizade construída com os antigos colegas, que fica na memória. “Nós éramos sempre bem unidos e tenho vários amigos que levo no coração, para a vida toda. Uma das coisas que mais me marcaram foram os desfiles de Sete de Setembro, nos quais sempre fazíamos alguma apresentação. Tenho muito orgulho de ter feito parte desta história, ainda mais sendo da primeira turma que se formou”, enaltece.

 

Primeira turma de oitava série formada na escola. (Foto: Arquivo Amadeu da Luz)

 

 

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