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Um dia para estimular a compreensão e a empatia

Dia Mundial da Conscientização do Autismo enaltece o respeito às diferenças e a necessidade de mais respeito a quem tem uma maneira diferente de ver o mundo

3 de abril de 2021

A sexta-feira, 02 de abril, é lembrada não só como a Sexta-Feira Santa, para os cristãos, mas também como o Dia Mundial de Conscientização do Autismo. O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um transtorno do neurodesenvolvimento que pode ser acompanhado de deficiência intelectual ou não. Os sintomas no espectro variam de leves a graves, com atrasos cognitivos e do desenvolvimento.

Tudo pode ficar mais fácil quando há a compreensão dos desafios enfrentados por quem possui o Autismo.

Valdira Duarte Ringenberg, de 49 anos, é mãe de Gabriel Ringenberg, 16 anos, que possui o TEA. A descoberta veio quando o menino tinha apenas três anos e meio de idade. “Foi um ‘choque’ receber essa notícia, mas, nós, pais do Gabriel, já estávamos preparados, pois estávamos lendo sobre o assunto e pesquisando sobre o autismo, já que ele não falava e não engatinhou, e logo aprendeu a andar com 10 meses”, conta a mãe.

 

 

A hipótese de que ele teria Autismo começou a ser discutida pelos pais do menino, Valdira e Marcos, quando ele demorou a falar, demonstrou hiperatividade, e gosto por coisas que giravam e eram repetitivas.

“Ele não gostava de ouvir barulhos de liquidificador, batedeira, secador de cabelo, pois o barulho o incomodava muito, sendo que nesses momentos ele tampava seus ouvidos. Então, levamos ele em um neuropediatra, Dr. Egon Frantz, o qual encaminhou o Gabriel para fazer um exame para ver se ele sabia ouvir. No entanto, os médicos que fizeram o exame disseram que ele ouvia muito bem (brincando que ouvia até demais). Ele não falava, não gostava de barulho e se desenvolvia rápido com o tempo. Após, fizemos uma avaliação com uma psicopedagoga, e chegamos à conclusão que o Gabriel tinha autismo, o qual se caracteriza por dificuldades na interação social, dificuldades na comunicação e com comportamento incomum e repetitivo”, revela a mãe de Gabriel.

O início do contato com o Autismo, segundo Valdira, foi bastante difícil. A família evitava sair para festas e viagens, pois o Gabriel sempre foi muito agitado e não gostava de sons altos de festas. Além disso, de acordo com a mãe, o menino não conseguia perceber algumas situações de perigo, não tinha medo, o que poderia colocá-lo em situações de risco. Quando mais novo, ele gostava de entrar mato, subir no telhado, e a família precisava estar com os olhos nele sempre.

 

 

“Não podíamos sair em festas de aniversário também, pois ele ficava muito agitado e era muito difícil ficarmos muito tempo. O Gabriel ficava bravo com barulhos de música alta e muitas pessoas reunidas. Com o tempo e o amadurecimento dele, mas frisa-se que precisou de muito amor, carinho, paciência e cuidado, o Gabriel conquistou muitas coisas. Hoje, ele é mais independente, apesar de não falar, consegue pronunciar algumas sílabas que conseguimos identificar e associar com coisas do dia a dia, por exemplo, “bi”, sendo uma forma de se referir a irmã mais velha dele, Gabriela Duarte Ringenberg e pronuncia “mã” para se referir a mim”, afirma Valdira. 

Quando o Gabriel era pequeno, conforme o relato da mãe, era como se ele vivesse em seu “próprio mundo”, pois não interagia com os pais e a irmã, não sentava com eles à mesa para as refeições e não falava nada. O Gabriel era muito hiperativo e não conseguia ser paciente para aguardar em algum lugar. 

Porém, com o tempo, a ajuda da medicina e da ciência e com muito amor e carinho, a família pôde notar grandes evoluções nele. 

“Hoje, o Gabriel faz as refeições conosco à mesa, bem como sabe pronunciar algumas poucas sílabas. É muito organizado e gosta bastante de ajudar nas tarefas domésticas, principalmente cozinhar. O Gabriel ama ajudar sua mãe a fazer bolos e preparar alimentos. Ele também gosta muito de andar de bicicleta e tocar gaita de boca. Percebemos que ele se desenvolve a cada dia, sempre com um pequeno avanço a cada dia”, enaltece Valdira. 

 

 

Gabriel faz acompanhamento com neuropediatra, fonoaudióloga e, hoje em dia, foi incluído na rotina um novo método, que vem contribuindo muito para o seu desenvolvimento: o método Padovan, que é realizado pela fonoaudióloga Audrey Zimmer Ravazzani em Blumenau. A família revela que notou uma grande melhora nele a partir desse tratamento, pois estimula a criança a recriar alguns movimentos que geralmente são feitos de dentro do útero ou quando a criança é muito pequena.

E, como ainda há desconhecimento e preconceito em relação ao Transtorno do Espectro Autista, Valdira revela que houve situações em ele sofria preconceito. Segundo a mãe, muitas pessoas não sabiam o que era o autismo e achavam que o Gabriel não tinha nada e que merecia alguns castigos físicos. 

“Nunca aceitamos isso, acreditamos no amor e carinho para a educação de um ser humano. Quando o Gabriel começou na escola, alguns pais souberam da notícia que uma criança especial entraria na turminha e acabaram por tirar seus filhos da turma e transferir para o turno da tarde, com medo que o Gabriel prejudicasse o ensino de seus filhos. Com o tempo, percebemos que aquela turminha que permaneceu e que estudou com o Gabriel se tornaram adolescentes melhores e que entendem mais o outro, pois sempre o ajudaram e sempre gostaram dele. Com a ajuda de alguns professores, a inclusão foi sempre possível e, alguns, sempre lembram do Gabriel com muito carinho e como um grande ensinamento. A parte mais difícil eram os olhares de reprovação de algumas pessoas, achando que os momentos de aborrecimento do Gabriel fossem ‘birra’. No mais, muitas pessoas sempre dizem que o Gabriel é um menino muito querido, muito carinhoso, simpático e sensível”, ressalta a mãe.

O apoio e amor incondicional da família foram fundamentais para que Gabriel pudesse evoluir cada vez mais e ter uma vida feliz. Agora, com a pandemia, de acordo com Valdira, essa proximidade aumentou ainda mais e puderam ter pequenas realizações, como se sentarem juntos, à mesa, e aproveitar o tempo em família.
“Relembro de toda a trajetória que tivemos com o Gabriel até o momento: seu nascimento, festas de aniversário, quando foi para a escola e sua formatura no ensino fundamental. Foram muitos momentos difíceis, mas tivemos bons e alegres momentos, porém todos tiveram grandes ensinamentos. Ele representa ‘esperança e fé’. Devemos sempre acreditar que os autistas têm capacidade de aprender e nós de aprendermos com ele. No meu caso, eu aprendo muito com o Gabriel. As crianças especiais são transmissores de amor, alegria e felicidade. O próprio nome já diz tudo: são especiais. E, por fim, posso garantir que são transmissores do verdadeiro valor da vida e da gratidão”, finaliza.

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