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Pomerodense é um dos dois brasileiros a apresentar trabalho em congresso mundial de biossensores

Dagwin Wachholz apresentou a pesquisa de seu doutorado no World Congress on Biosensors, realizada em Busan, na Coreia do Sul

18 de junho de 2023

Foto: Arquivo pessoal

Um pomerodense foi um dos dois participantes de universidades brasileiras na 33ª Edição do World Congress on Biosensors, realizada em Busan, na Coreia do Sul, entre os dias 05 e 08 de junho.

Dagwin Wachholz Junior, doutorando no Instituto de Química da UNICAMP, e seu orientador, Prof. Dr. Lauro Tatsuo Kubota, representaram o Brasil no Congresso. O Dr. Lauro Kubota é reconhecido internacionalmente pela experiência e conhecimento no tema de biossensores eletroquímicos, e um dos maiores pesquisadores na área do Brasil e do mundo.

O pomerodense Dagwin é formado em Química pela UFSC e mestre em Química Analítica pela UNICAMP. Atualmente, é aluno de doutorado no Instituo de Química da UNICAMP, no Laboratório de Eletroquímica, Eletroanalítica e Desenvolvimento de Sensores.

O evento reúne os maiores pesquisadores, cientistas, acadêmicos e profissionais da área de biossensores de todo mundo. O congresso ocorre a cada dois anos e tem como objetivo promover a troca de conhecimentos, avanços tecnológicos e discussões sobre os mais recentes desenvolvimentos nessa área. O congresso atrai os principais especialistas e pesquisadores renomados em biossensores de todo o mundo, proporcionando um ambiente propício para networking e interações científicas. Além disso, é comum a presença de representantes da indústria e de empresas relacionadas, o que permite o compartilhamento de ideias entre a academia e o setor empresarial.

Segundo o doutorando, biossensores são dispositivos que podem ser considerados pequenos detetives que nos ajudam a entender e monitorar o que está acontecendo dentro de nossos corpos.

“Eles são como sistemas em miniatura, altamente sensíveis e inteligentes projetados para detectar e analisar moléculas ou eventos biológicos específicos. Simplificando, os biossensores são como super-heróis com a capacidade de sentir e medir diferentes aspectos de nossos corpos, como os níveis de certos produtos químicos, gases ou mesmo a presença de células ou microrganismos. Eles fornecem informações valiosas sobre nossa saúde, permitindo-nos detectar doenças, monitorar nosso bem-estar e tomar decisões sobre nosso estilo de vida”, explica Wachholz.

Dagwin e seu orientador, no World Congress on Biosensors. (Foto: Arquivo pessoal)

 

Os palestrantes do World Congress on Biosensors são escolhidos após uma rigorosa etapa de seleção feita pela comissão científica do congresso. “Nesse caso, após submeter o trabalho de pesquisa que estou conduzindo no meu doutorado, o trabalho foi aprovado e convidado para uma apresentação oral, na forma de palestra. Minha apresentação focou em uma tecnologia de ponta chamada CRISPR, que ganhou atenção nos últimos anos devido ao seu potencial em engenharia e edição genética, tendo ganho o Nobel de Química em 2020”, comenta Dagwin.

 

Como funciona a tecnologia CRISPR

Os biossensores baseados em CRISPR empregam o sistema CRISPR/Cas como ponto central, um mecanismo de defesa natural encontrado em bactérias. As bactérias usam essa sequência para se defender contra vírus. Os cientistas descobriram que podem aproveitar esse sistema de defesa bacteriana e usá-lo como uma poderosa ferramenta em diversas aplicações.

“Resumindo, o sistema CRISPR é como uma tesoura molecular que pode cortar DNA em um local específico. Para guiar essas tesouras, nós cientistas criamos um pequeno pedaço de material genético chamado ‘RNA guia’ que corresponde ao local-alvo no DNA. Uma vez que a tesoura é guiada para o local certo, ela pode cortar a fita de DNA na posição que escolhemos com muita precisão e rapidez”, explica.

Para criar o biossensor, foi projetado um sistema CRISPR/Cas para reconhecer sequências específicas de DNA ou RNA nas quais estão interessados.

“No caso do meu trabalho, o objetivo era detectar o DNA de bactérias causadoras de infeções bacterianas graves, como por exemplo, Staphylococcus aureus, que está presente na pele de quase 20% de todas as pessoas e pode levar a graves complicações. Quando nosso biossensor encontra essa sequência alvo, ele desencadeia uma reação que nos dá um sinal que podemos detectar facilmente, como uma luz brilhante, uma mudança de cor ou um sinal eletroquímico. Esse sinal é relacionado à concentração do alvo e serve como forma de quantificar as bactérias que estamos interessados. Em minha apresentação, explorei as aplicações dessa tecnologia CRISPR na detecção eletroquímica de DNA de bactérias, avaliando como esse sistema pode influenciar na detecção e na quantidade de alvo de detectado. Além disso, no trabalho que estou desenvolvendo de forma pioneira no Brasil, buscamos a criação de um sensor que pode detectar vírus ou bactérias de forma bastante rápida e precoce, antes mesmo dos primeiros sintomas da doença aparecerem”, enaltece o doutorando.

O pomerodense apresentou o trabalho desenvolvido em seu doutorado, no congresso mundial (Foto: Arquivo pessoal)

 

“O que torna o nosso trabalho tão interessante e empolgante é que nosso biossensor é altamente preciso e pode encontrar sequências genéticas únicas do nosso alvo. Além disso, ele também é incrivelmente rápido, fornecendo resultados em apenas alguns minutos, o que melhora, em dias ou até semanas, o diagnóstico de infecções bacterianas”, complementa.

 

A importância do estudo

Segundo o doutorando, a importância dos biossensores baseados em CRISPR está em sua versatilidade e especificidade. Eles podem ser projetados para identificar sequências genéticas únicas, tornando-os altamente sensíveis e precisos. Além disso, a tecnologia CRISPR permite uma detecção rápida e em tempo real, fornecendo resultados em questão de minutos.

O futuro desses sistemas é considerado muito promissor e pode ter um grande impacto em diferentes áreas, como saúde, agricultura e meio ambiente. Na área da saúde, esses biossensores podem ajudar os médicos a diagnosticar doenças com mais rapidez e precisão, especialmente distúrbios genéticos e infecções.

Isso significa que os pacientes podem obter o tratamento certo mais rapidamente, levando a melhores resultados e menores custos de saúde.

 

A experiência no World Congress on Biosensors

Para o doutorando, a experiência de estar no congresso foi enriquecedora e muito estimulante, uma vez que a reunião de especialistas oferece uma oportunidade única de interagir com os principais pesquisadores, acadêmicos e profissionais da área, promovendo um ambiente propício para a troca de conhecimentos, ideias e experiências.

“Essa imersão em um ambiente rico em conhecimento permitiu que me atualizasse sobre as tendências e descobertas mais recentes, ampliando meu próprio entendimento e perspectiva na área. Além disso, o Congresso foi uma excelente oportunidade para estabelecer contatos e construir redes profissionais. A presença de pesquisadores renomados, acadêmicos de destaque e representantes da indústria criou um ambiente propício para o networking.”, frisa.

Wachholz também enaltece a sua paixão pela pesquisa, em busca de participação em avanços significativos para a ciência mundial.

“Desde de cedo em minha formação, possuo uma paixão pela academia e pela pesquisa, e tenho como objetivo seguir na carreira acadêmica e me dedicar ao avanço do conhecimento em minha área de formação. Minha motivação e entusiasmo pela pesquisa científica são evidentes em toda minha trajetória acadêmica e sempre me guiaram nesses anos. Reconheço a importância de aprofundar ainda mais meus conhecimentos e ampliar minha experiência, buscando oportunidades de pós-doutorado em instituições de renome internacional. Essa etapa adicional de pesquisa pós-doutoral permitirá que eu me envolva de forma mais direta em projetos de vanguarda, trabalhe ao lado de pesquisadores de destaque e contribua para avanços significativos na ciência mundial”, destaca.

Os biossensores são empregados na segurança alimentar para garantir a qualidade de nossas refeições. Exemplos clássicos de biossensores são os testes feitos em casa de glicose, os testes de gravidez, os testes de HIV e até mesmo os testes rápidos de Covid-19, que ficaram famosos após a pandemia.

“Essas aplicações demonstram a importância do estudo em biossensores pois esses revolucionaram a maneira como detectamos, monitoramos e entendemos os eventos biológicos. Eles fornecem soluções mais rápidas, precisas e econômicas para saúde, segurança alimentar, proteção ambiental e avanços científicos. A importância dos biossensores reside na sua capacidade de melhorar a saúde humana, melhorar a qualidade de vida e contribuir para o desenvolvimento sustentável”, finaliza Wachholz.

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