Arquivos JP

DE BEM COM HISTÓRIA

Vamos entender porque a encrenca entre sérvios e kosovares de origem albanesa, que motivou a intervenção da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) no que hoje ainda resta da antiga Iugoslávia.

19 de dezembro de 2019

A.G.

Vamos entender  porque a encrenca entre sérvios e kosovares de origem albanesa, que motivou a intervenção da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) no que hoje ainda resta da antiga Iugoslávia. A região dos Balcãs, na Europa, depois da fragmentacão do Império Romano, passou a ser habitada por eslavos vindos da Ucrânia e da Rússia (dos quais descendem os atuais sérvios) e por povos albaneses, cujos ancestrais foram os ilíaros. Até 1359, tanto eslavos como albaneses professavam a religião cristã, convivendo pacificamente entre si. Naquele ano, os turcos otomanos, praticantes do islamismo, dominaram toda a região, impondo, além de costumes e cultura diferentes, a conversão à doutrina de Maomé. Os sérvios, cristãos ortodoxos, opuseram-se violentamente ao conquistador, e jamais aceitaram a conversão ao islamismo, o que motivou inúmeros massacres e perseguições, ao longo dos séculos da conquista, já que esta só terminou no início do século atual, quando a Itália e a Áustria derrotaram os turcos otomanos. Já os kosovares de origem albanesa, além de aceitarem a religião do conquistador, tornaram-se colaboradores deste; não sofrendo, em conseqüência, nenhuma perseguição; pelo contrário, tiveram sempre a proteção dos sultões turcos. Quando o Império Otomano se esfacelou, muitas outras nações européias andaram botando o bedelho nos Balcãs, até que, derrotados os nazistas alemães na Segunda Guerra Mundial, criou-se a Iugoslávia (Federação dos Eslavos do Sul), juntando a Sérvia, Croácia, Eslovênia, Macedônia e Montenegro (majoritariamente cristãs) à Bósnia-Herzegovina e Kosovo (majoritariamente islâmicas). Enquanto viveu o idealizador da Federação, o croata Josip Broz Tito (marechal Tito), que a governou sob um regime socialista, os povos balcânicos conviveram pacificamente. Morto o marechal, e logo a seguir dissolvida a União Soviética e derrubado o Muro de Berlim, a Iugoslávia começou a fragmentar-se, com cada povo querendo sua autodeterminação. A Eslovênia, em cujo território praticamente não existiam sérvios (primos dos eslovenos), tornou-se independente sem muitos traumas. Já com a Croácia e a Bósnia-Herzegovina, com aproximadamente um terço de população sérvia, estamos ainda lembrados que houve muito derramamento de sangue, principalmente de bósnios muçulmanos. Também independentes estas, após intervenção da ONU, a Macedônia aproveitou a carona e assumiu sua autodeterminação. A Iugoslávia ficou restrita às Repúblicas da Sérvia e Montenegro e à Província de Kosovo. Como a Sérvia é quem manda no pedaço, o ditador Slobodan Milosevic resolveu fazer mais uma “faixa étnica”, barbarizando e matando os kosovares de origem albanesa, justamente por invocar o passado do tempo da conquista otomana; quando, como já vimos, os albaneses aliaram-se ao conquistador e os sérvios foram barbarizados incessantemente. Quer dizer, Milosevic resolveu exagerar no “olho por olho e dente por dente”, matando os kosovares de origem albanesa e obrigando os sobreviventes a fugirem para as vizinhas Albânia (que nunca fez parte da Iugoslávia) e Macedônia, deixando o espaço kosovar livre para os sérvios, que até alegam razões históricas, visto que teriam sido eles os primeiros a habitarem a Província de Kosovo. E, se não conseguiu realizar o sonho megalomaníaco da Grande Sérvia, dominando tudo o que foi a Iugoslávia até a morte do marechal Tito, Milosevic quer porque quer uma Sérvia maiorzinha do que a atual.

Notícias relacionadas