Voluntário de Pomerode revela experiência ao participar da guerra na Ucrânia
Dionas Martins se alistou no Exército Ucraniano e esteve na linha de frente, na guerra territorial
Foto: Arquivo pessoal
Participar de uma guerra parece um conceito utópico, uma situação em que apenas imaginamos, em meio a aulas de história. Mas para Dionas Martins esta foi uma vivência real, ao se colocar à disposição, de forma voluntária, para lutar ao lado do Exército Ucraniano, em meio ao conflito com a Rússia.
Segundo Dionas, a ideia de ir para Ucrânia e contribuir lutando na guerra surgiu de uma questão ideológica, pois desejava ajudar a lutar pela liberdade do País.
“Por volta de 2011 conheci o Instituto Mises Brasil, estudei sobre liberdade, macroeconomia e todos estes caminhos nos ajudam a nos desenvolver como seres humanos, até chegar à democracia. Também estudei sobre filosofia libertária, o que é socialismo, o que é capitalismo, me envolvi na política local, até o início na Guerra na Ucrânia. A partir daí, entendendo sobre macroeconomia, sei da importância desta guerra para nossa liberdade aqui e, além disso, conhecendo pessoas que moram na Ucrânia, guerreiros do Brasil que foram para lá, cheguei à opinião que não bastava apenas falar sobre o assunto, mas sim se voluntariar para contribuir nesta luta pela liberdade do povo ucraniano”, conta Dionas.
Então, junto de dois amigos, um da Ucrânia, que ainda não estava alistado no Exército, e um do Rio Grande do Sul, Dionas embarcou para a Ucrânia, há cerca de cinco meses para contribuir na guerra, lutando ao lado do Exército Ucraniano. No país europeu, permaneceu por cerca de três meses.
“Desembarcamos na Polônia e, de lá, fomos, de ônibus para a Ucrânia, nos alistamos e em menos de uma semana já estávamos com armas em mão, em Kherson, na linha de frente. Lá, percebi que qualquer ajuda era necessária, porque havia poucos soldados. O período de treinamento foi bem breve, treinávamos durante o dia e voltávamos à noite para a base, na linha de frente”, revela o brasileiro.
Dionas comenta, também, que a experiência foi diferente do que imaginava, e que o Exército é bem diferente do Brasil. Ele ingressou na brigada 124, na companhia 197, responsável pela defesa territorial.
“Quando você chega, naquela situação, não há como ter uma capacitação completa. Logo os soldados são enviados para a linha de frente e são feitos treinamentos conforme é possível, em meio à guerra. Mas o acolhimento dos ucranianos foi muito legal e havia vários integrantes do exército que são nascidos russos, mas que saíram de lá para lutar do lado ucraniano. O russo, em si, não quer a guerra e questiona o porquê desta invasão, muitos não apoiam o que está sendo feito”, conta.
Dionas optou por se alistar no Exército e utilizou os equipamentos dos ucranianos, que são da antiga União Soviética. Ele permaneceu na região da cidade de Kherson. Sua companhia do Exército Ucraniano estava de um lado do Rio Dniepre e o os russos do outro lado. “O início foi mais complicado, por ter menos familiaridade com estes equipamentos, mas com o tempo me adaptei. A comunicação foi complicada, eu me arrisco um pouco no inglês e eles também um pouco, apenas, então é bem complicado. Entender o ucraniano é quase impossível, então a comunicação era com tradutor e por sinais militares, na linha de frente quase não falamos”.
O brasileiro revela que ficou muito tempo na linha de frente e sua companhia retraía quando deveria ser feito algum treinamento. Ele contou que vivenciou experiências que jamais esquecerá.
“Em uma missão, com meus colegas brasileiros, estudando o que deveríamos fazer, percebemos que era algo até meio suicida, pois havia muitos drones, com muitos soldados mortos, dos dois lados. Mas havia companheiros feridos, então precisávamos resgatá-los. Conversamos com um comandante, e dividimos em dois grupos, o primeiro que saiu em missão e o segundo, no qual eu estava, fazendo a retaguarda. Eu estive presente na missão na qual o colega salvou a vida de oito pessoas, o que foi muito marcante. Depois disso ficamos mais na retaguarda, segurando a posição, nas trincheiras”, conta.
Foi após uma destas missões que Dionas decidiu retornar ao Brasil. “Não tinha mais missões e nem mais a companhia, por isso decidi voltar para o Brasil, pois percebi que ajudaria mais estando aqui e falando sobre a visão que eu tive do local, em prol de obter mais ajuda para a Ucrânia, que luta por sua liberdade. Acho que ajudarei mais buscando apoio aqui, para os ucranianos, que estão lutando por suas famílias e por seus lares, para reconquistar a liberdade”, finaliza.