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Uma vida cheia de experiências dentro e fora do campo: conheça a história de Quito Blank

Quito Blank, um dos fundadores vivos do Floresta Pomerode relembra a sua história como representante da Porcelana Schmidt e no esporte

1 de outubro de 2023

Foto: Raphael Carrasco / JP

23 de maio de 1929. Nesta data, nascia o Sr. Quito Blank, um pomerodense que hoje, está com 94 anos, trazendo em sua memória, momentos históricos que o mundo viveu, desde lá.

Com histórias e experiências vastas ao redor de todo o Brasil, como representante comercial da Porcelana Schmidt, Sr. Blank também foi um dos fundadores da Associação Esportiva Floresta, clube de expressão da Cidade Mais Alemã do Brasil. Nesta reportagem especial, vamos contar um pouco de sua história, desde a sua infância até quando parou de trabalhar, quando tinha aproximadamente 80 anos.

 

Infância e juventude: Amor pelo futebol, trabalho como sapateiro e servindo a pátria

Nascido em uma maternidade em Blumenau, Quito Blank veio ao mundo quando Pomerode ainda fazia parte da cidade vizinha. Algumas lembranças da infância ainda chegam na memória do pomerodense. Um dos fatos que Blank se lembra, com facilidade, foi quando, aos sete anos, acabou pegando Tétano, ficando meses com dificuldade de locomoção e muitas dores por conta da doença.

Outros detalhes que ele lembra é de quando organizava as partidas de futebol na escola e também com os amigos, nos fins de semana. Blank sempre jogou como ponta, tanto na esquerda, quanto na direita.

“Eu sempre amei futebol. Na escola e nas ‘peladas’ que jogávamos, era sempre eu que tomava a frente e montava os times. Eu sempre me diverti jogando bola. Tanto que é algo que, depois de adulto, quando me sobrava tempo, que era bem difícil, continuei praticando. Era uma época muito boa”, conta.

Quito Blank quando jogava pelo time da Porcelana Schmidt. (Foto: Arquivo pessoal)

 

Com o tempo, Blank também despertava a curiosidade pela sapataria, já que o pai atuava como sapateiro na região. Sempre quando podia, Blank o ajudava em seu trabalho. Os sapatos, que eram montados do zero, eram fabricados para pessoas que tinham pés de tamanhos diferentes, os quais não conseguiam encontrar, em lojas convencionais, calçados que correspondiam a estes tamanhos.

“Teve uma vez, que veio uma pessoa, que tinha um problema nos pés e por isso o tamanho deles eram maiores. Meu pai disse que era possível, sim, a gente confeccionar um calçado para aquela pessoa e conseguimos, no final. E, me lembro que aquele rapaz ficou totalmente emocionado, já que era o primeiro calçado que ele vestia, na vida. Foram momentos que com certeza guardo em minha memória”, relata.

Mas, em um certo tempo, um pouco antes do término da Segunda Grande Guerra Mundial, Quito Blank partiu rumo ao Rio de Janeiro para fazer parte do exército brasileiro. Por lá, passou um tempo em terras cariocas servindo à pátria. Mas, após pedidos do pai, acabou voltando para Pomerode para ajudar no trabalho de sapateiro.

 

O início na Porcelana Schmidt e as viagens pelo Brasil

Em 1946, logo após o término da Segunda Guerra Mundial, Quito Blank ingressou na Porcelana Schimdt, após recomendação de seu pai. Antes de atuar na empresa pomerodense, Quito chegou a trabalhar em Blumenau, porém, foi aqui em Pomerode que iniciou o que seria uma jornada de viagens, ao redor de todo Brasil.

No começo, Quito Blank trabalhava na produção, tanto nas gravuras das artes, nas porcelanas, quanto na montagem dos aparelhos. Com o tempo, foi ganhando promoções dentro da empresa até chegar como representante comercial. E, a partir de 1952, iniciou as viagens para vender as porcelanas, feitas em Pomerode, nas mais diversas cidades do país.

O pomerodense conta que acredita ter feito mais de 900 horas de voo, atravessando o Brasil de norte a sul, vendendo a porcelana que sempre foi referência no mercado nacional.

“Eu lembro que viajei muito com os aviões da Varig, Cruzeiro do Sul e da VASP, que hoje, são empresas aéreas que não existem mais. Geralmente, nunca viajava sozinho, sempre ia com colegas de trabalho e, de vez em quando, ia com minha esposa. Conheci muitos lugares nessas viagens e guardei momentos inesquecíveis”, relembra.

As viagens eram sempre acompanhadas de uma câmera fotográfica analógica. Quito Blank sempre foi um apaixonado pela fotografia e fazia questão de registrar a melhor imagem possível. E é por isso, que até hoje, álbuns com centenas de fotos daquela época são guardadas com muito carinho e cuidado.

Em uma dessas visitas, em cidades brasileiras, Quito Blank passou por Brasília, que ainda estava em fase de construção. Ele relembra que fez visitas a locais que na época já estavam prontos e aproveitou para fotografar alguns pontos da cidade que estavam construindo.

 

Fotos de Brasília ainda com alguns locais em construção. (Fotos: Arquivo pessoal)

 

Mas, para quem pensa que essas viagens eram apenas diversão e turismo, está enganado. O pomerodense conta que tinha vendia as porcelanas de porta em porta.

“Eu ia, de casa em casa, oferecer as nossas porcelanas. Nunca foi muito fácil, pois sabíamos que as porcelanas sempre foi um produto caro, por conta da qualidade e da beleza que os aparelhos possuíam. Então, era comum bater na porta, oferecer o produto e a pessoa virar as costas e voltar pra casa. É claro que, quando vendíamos, a sensação era de dever cumprido, porém não era fácil vender”, ressalta Blank.

 

O início do Floresta

No dia 06 de janeiro de 1949, nascia, em Pomerode, uma das mais importantes e emblemáticas agremiações de futebol da região: O Floresta.

Tudo começou no campo localizado entre as ruas Alex e Fritz Wachholz, com o nome de São Lourenço. Depois de um tempo, Hermann Weege ajudou financeiramente a construir o estádio que até hoje fica localizado na Avenida 21 de Janeiro. Como jogador, Quito Blank atuou por cerca de quatro/cinco anos, já que, a rotina de viagens pela Porcelana Schmidt impedia ele a atuar mais vezes com a camisa do clube.

Porém, ao longo dos anos, o pomerodense ficou à frente de outros cargos, dentro do clube, como tesoureiro, dirigente e outros. E, hoje, Quito Blank é um dos únicos fundadores da equipe, vivo. Neste ano, durante a final da Copa Pomerode, contra o maior rival do clube, o Vera Cruz, Blank foi homeageado pelo “Verdão da Avenida” e deu o pontapé inicial do primeiro jogo da grande final.

E, como presente, o Floresta foi o campeão de mais uma edição da Copa Pomerode, após vencer o Vera, em sua casa, nos pênaltis.

Foto: Raphael Carrasco / JP

 

Quito conta que não se lembra, ao certo, quantos títulos conquistou pela equipe pomerodense, porém, se lembra da época em que jogava pelo Floresta.

“Sobre títulos, não consigo me lembrar muito bem se ganhei ou não. Mas acredito que sim (risos). Porém, era muito legal jogar naquela época, pois tínhamos muitos amigos em comum. Inclusive, antes do Floresta ser fundado, tínhamos um time da Porcelana Schimidt e alguns desses jogadores passaram a jogar aqui, no Verdão”, explica.

O encontro com Pelé e Garrincha

Em umas dessas viagens pela Porcelana Schimidt, Quito Blank estava no Rio de Janeiro, na mesma época em que a Seleção Brasileira de Futebol realizava jogos-treino, na região metropolitana do RJ. Em uma visita até Barra Mansa, onde a seleção estava, Blank teve a oportunidade de conhecer e conversar, com nada mais e nada menos, que o Rei do Futebol: Pelé.

Ele conta que Pelé era de uma humildade imensa e que parou para conversar e “resenhar” com o pomerodense. E, quem também apareceu para “abrilhantar” ainda mais essa roda de conversa, foi Garrincha, um dos ídolos de Blank, que é torcedor do Botafogo, do Rio de Janeiro.

“Foi um momento em que nem deu tempo de pegar a câmera para tirar uma foto. Naquela época, não se fazia muita questão disto. Porém, me lembro que ficamos conversando por uns bons minutos, falando sobre futebol. Também disse que jogava em um time da minha cidade e ficamos falando muitas coisas sobre esporte. E, como jogador, o Pelé era o cara. Não é atoa que é o rei do nosso futebol. Ele era fantástico, vê-lo jogar era uma honra. E, falando do Garrincha, esse foi um dos melhores que vi jogar pelo meu time. Não tinha igual também”, relembra.

 

O futebol como ele é hoje

Quito Blank teve a honra de ver todos os cinco títulos do Brasil, na Copa do Mundo. Além de ser um torcedor do Botafogo, por morar um tempo em São Paulo, também teve uma adoração pelo Corinthians e, hoje, acompanha mais as duas equipes.

Por conta de um problema de visão, Sr. Blank não acompanha com tanta frequência o futebol. Porém, está animado e feliz com a liderança do Botafogo, no Campeonato Brasileiro. O último título do Fogão, em um campeonato nacional, foi em 1995, há cerca de 28 anos.

“Eu estou feliz que o Botafogo possa conquistar um título esse ano. Já o Corinthians não está muito bem. Não acompanho mais tanto o futebol, com frequência, por causa da minha visão. Mas sempre fico sabendo dos resultados através dos meus filhos. Mas, uma coisa que eu não consigo aceitar, são as brigas e violência que estão tendo hoje, nos estádios. Na minha época era tudo mais pacífico. Não consigo aceitar que o estádio de futebol está se tornando uma arena de luta, pois o futebol é algo para a família”, finaliza.

Hoje, Quito Blank é uma lenda vida do nosso esporte. E toda a família se sente orgulhoso do legado que o pai vai deixar, na sociedade. Vida longa ao Sr. Blank!

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