Uma prática moderna de golpe
Por meio do Instagram, estelionatários hackeam contas e utilizam para vender produtos não existentes, por preços baixos
Foto: Raphael Carrasco / Jornal de Pomerode
As modalidades de golpes também acompanham a evolução da tecnologia. E, a cada ano que passa, há sempre um novo tipo de crime cibernético que começa a aparecer, principalmente nas redes sociais.
A “bola da vez” é um golpe praticado por meio do Instagram, no qual os criminosos invadem a sua conta e utilizam-na para fazer vendas de produtos que não existem, com preços baixos, o que acaba atraindo pessoas que procuram pagar um menor valor. Um fator que faz com que as pessoas caiam com mais facilidade no golpe é o fato da venda ser feita diretamente no perfil da pessoa e muitos acabam não desconfiando que se trata de um estelionato.
Mas como os criminosos conseguem ter acesso às nossas contas? A explicação é simples: o ponto de partida para o golpe é uma ação de “phishing”, uma das principais ameaças cibernéticas no Brasil, atualmente.
Os indivíduos criam perfis falsos de hotéis, restaurantes ou locais públicos. Através deles, entram em contato com os usuários por mensagem direta (DM), oferecendo preços altamente atrativos ou até mesmo premiações. Para receber esses possíveis prêmios, é preciso fornecer o número do celular e clicar em um determinado link, que é utilizado pelos cibercriminosos a fim de conseguir as informações da conta de uma pessoa. Em sua grande maioria, quando a vítima percebe que seu perfil foi invadido, já não tem mais acesso à conta original.
Segundo a Cyxtera, empresa segurança digital especializada em fraudes eletrônicas, cerca de 90% dos ataques começam com algum tipo de campanha de phishing. As formas mais comuns são campanhas por e-mail e podem atingir tanto grandes redes de usuários, como funcionários de empresas ou consumidores de um aplicativo, quanto indivíduos específicos.
Foi o que aconteceu com uma pomerodense, que por segurança, preferiu que sua identidade não fosse revelada à reportagem.
A vítima teve a conta de seu estabelecimento comercial invadida pelos criminosos. Através dos stories, era postado produtos que no mercado possuem um valor alto mas que estavam sendo oferecidos com preços abaixo do normal, como por exemplo, uma TV de 50 polegadas, que custa originalmente cerca de R$ 4 mil, sendo anunciada por R$ 1.100. A vítima do golpe conta que ficou assustada quando começou a receber mensagens de amigos próximos perguntando sobre o ocorrido.
“Uma vez, um perfil de um resort, que no caso era falso, entrou em contato comigo dizendo que estaria participando de um sorteio entre os mais novos seguidores da página. Me falaram que iam mandar um código por SMS e que este deveria repassar. Em segundos de ‘bobeira’ acabei caindo na cilada e fui hackeada. Depois disso, pessoas próximas me mandaram dizendo que o Instagram do meu estabelecimento foi invadido e que lá estavam vendendo vários produtos. Peço para as pessoas denunciarem, para que possamos inibir esse tipo de golpe”, comenta a vítima.
Como evitar o golpe?
A equipe do Jornal de Pomerode conversou com o delegado de Polícia Civil Antonio Godoi, para falar sobre essa prática de golpe cibernético que está ocorrendo com frequência, no país. Ele conta que na cidade já houve registros de Boletim de Ocorrência deste caso. Godoi ressalta que a criminalidade segue em constante evolução e que acompanha o desenvolvimento tecnológico.
“A criminalidade sempre está se modernizando. Percebe-se uma migração muito grande dos crimes patrimoniais, como furto e roubo, se transformando em estelionato. Esse tipo de crime cibernético, geralmente são praticados por quadrilhas especializadas nesta modalidade criminal. São crimes evitáveis, porém de difícil investigação, já que poucos rastros são deixados por esses indivíduos que praticam o estelionato, desta forma”, comenta o delegado.
Godoi também reforça para que as pessoas desconfiem do preço baixo e procurem saber mais do produto de forma presencial. Caso não houver a possibilidade de encontro com o negociador, é importante que a pessoa peça uma vídeo-chamada para que a mesma possa mostrar a identidade e também o produto.
“Quando falamos de produtos e transações com valores altos, a dica que eu dou é procurar fazer uma vídeo-chamada com a pessoa, para que ela possa mostrar o seu rosto e se identificar. Também seria interessante fazer esta ‘live’ para ver realmente se o produto vendido existe. Se o negociador começar a negar a chamada e enviar apenas fotos, é hora de ligar o sinal de alerta e desconfiar. Isto vale não só apenas para este tipo de golpe específico do Instagram, mas de uma maneira geral, em compras feitas através de qualquer rede social, seja no MarketPlace do Facebook ou em perfis de lojas, no próprio Insta”, explica Godoi.
O delegado comenta que, se você for vítima de um golpe, o recomendado é de se fazer um boletim de ocorrência.
“O boletim de ocorrência é de extrema importância para se fazer, se você for uma vítima. Como disse anteriormente, não são crimes fáceis para a investigação, mas qualquer rastro que possa ter sido deixado, as equipes vão apurar e investigar o caso. O BO pode ser feito até mesmo de forma on-line, facilitando o trabalho da vítima”, finaliza.
Dicas de segurança
Para evitar que sua conta seja invadida, o próprio Instagram dá dicas de como evitar este tipo de “dor de cabeça”.
A rede social compartilhou instruções para manter a conta segura. Entre elas estão ativar a autenticação em dois fatores e não compartilhar links ou códigos de acesso recebidos do Instagram por SMS ou WhatsApp. O Instagram também pede aos usuários para verificar se o número de telefone e e-mail estão atualizados no aplicativo. Segundo a empresa, esses dados permitem tentar a recuperação do acesso à conta, mesmo que as informações tenham sido alteradas por um hacker.
Outra dica é: após desconfiar que a conta não pertence à pessoa, avise-a para que a mesma possa tentar recuperar a conta ou explanar, através de outra rede social ou em uma conversa com pessoas próximas, de que a conta foi alvo de invasão dos hackers.
Agora, se você foi vítima do estelionato e depositou/transferiu dinheiro acreditando que compraria o produto da conta que havia sido hackeada, a recomendação é entrar em contato com sua instituição financeira, reportar a fraude e solicitar o estorno do valor enviado.