Um sonho interrompido por uma tragédia
Bernardo Pisetta, indaialense que faleceu no incêndio no Centro de Treinamento do Flamengo, saiu de casa com o sonho de se tornar jogador profissional. Após a confirmação da morte do jovem, a Prefeitura de Indaial decretou luto oficial de três dias
Ser chamado para jogar em um dos maiores clubes do Brasil. Oportunidade que muitos jovens, praticantes do futebol, gostariam de ter, um dia. Bernardo Pisetta, 14 anos, começou a atuar pelo rubro-negro carioca, em agosto de 2018. Antes de chegar ao Rio de Janeiro, o futebol sempre esteve presente na infância do garoto, que nunca deixou a bola fora do seu alcance. Em Indaial, começou a jogar no campo da Associação Unidos, no bairro de Tapajós, local que ficava bem pertinho da escola onde sua mãe trabalhava. Também atuava pelas quadras, por onde jogou em times da cidade e, também, da região.
A habilidade do jovem despertou a atenção de olheiros, quando atuava no futebol de campo. Logo aos 12 anos de idade, a segurança de defender o gol surpreendeu o Athletico Paranaense, que resolveu convidá-lo para atuar no time de Curitiba. Por quase dois anos, Pisetta teve ótimas atuações no time titular do Athletico, fato que chamou muito a atenção de outro rubro-negro, o Clube de Regatas do Flamengo.
Time de coração de Pisetta, jogar pelo clube a qual torcia seria a realização de um sonho, sendo um orgulho imenso para toda a família, principalmente para os pais, Darlei e Leda Pisetta. Até o pai, que torce para o Fluminense, um dos maiores rivais do Flamengo, vestia com orgulho a camisa do rubro-negro carioca. Após aceitar o convite, o garoto passou a ter como sua segunda casa o alojamento que abrigava a categoria de base do clube carioca. Por estar de folga, o jovem assistiu a final do Torneio de Verão de Indaial entre Cachorrões, time da cidade, contra o Loes, de Blumenau. Por influência de amigos e primos, Pisetta tinha um carinho gigante pelo time de futsal de Indaial e gostava de vestir o uniforme amarelo da equipe quando treinava no município.
A final realizada no sábado, dia 02 de fevereiro, teve o Cachorrões como o grande campeão da noite, levando euforia ao jovem indaialense. Mas, na segunda-feira, chegava a hora de voltar ao Rio de Janeiro e retomar às atividades no Ninho do Urubu, Centro de Treinamento do Flamengo, onde iria continuar a busca pelo sonho de se tornar um goleiro profissional de futebol. Porém, na madrugada do dia 08 de fevereiro de 2019, uma tragédia interrompeu os sonhos do garoto. Nesta data, o alojamento onde Pisetta e mais 25 jovens estavam pegou fogo após um curto-circuito no ar-condicionado, vitimando ele e mais nove meninos que tinham o mesmo objetivo e propósito.
Após a confirmação da morte do jovem, a Prefeitura de Indaial decretou luto oficial de três dias. O velório foi realizado na Câmara Municipal de Indaial, reunindo familiares, amigos e pessoas que fizeram questão de prestar uma última homenagem. Uma bandeira e o uniforme que usava do Flamengo, e a camisa do Cachorrões, que tanto gostava de usar quando estava em Indaial, foram colocadas sobre o caixão. Marcado por emoções, orações e salva de palmas, o sepultamento foi realizado no Cemitério Municipal de Indaial.
“O sorriso que ele tinha”
A frase é de Jobson Batista Santos, professor de história do Colégio Adventista, que teve Pisetta como seu aluno em 2015 e 2016, no sexto e sétimo ano. Ele nos conta que o garoto era dedicado e sempre tratou com respeito os professores e os colegas de classe.
“Bernardo sempre foi um excelente aluno, menino dedicado nos estudos, educado com os professores e com os amigos. Dei aula para o irmão dele também, o Murilo, que se formou no Ensino Médio em 2018, outro menino incrível. O Murilo andava de Jipe e sempre brincava com ele perguntando quando ia me convidar pra dar umas voltas, e o Bernardo falava, para brincar com irmão, ‘diz pro Murilo que eu te convidei pra dar umas voltas de Jipe’. Esse era o Bernardo, menino querido por todos. Quando vi ele no Athletico, e depois, no Flamengo, fiquei muito feliz e tive a certeza que ele iria conseguir conquistar o sonho que queria, pela sua dedicação em tudo que fazia e pelo menino incrível que era”.
Em sua rede social, o Colégio Adventista de Indaial publicou uma nota de pesar, lamentando a perda do seu ex-aluno, citando uma passagem bíblica na postagem.
As outras vítimas
Além de Pisetta, outros nove jovens perderam suas vidas durante o incêndio que atingiu por completo, o alojamento da categoria de base, no Ninho do Urubu. Arthur Vinicius, Athila Paixão, Christian Esmério, Gedson Santos, Jorge Eduardo, Pablo Henrique, Rykelmo de Souza Viana, Samuel Thomas e Vitor Isaías, não sobreviveram. 13 conseguiram escapar do fogo e três jovens foram encaminhados ao hospital com ferimentos. Jonatha Cruz Vieira é quem está com a situação mais crítica, pois teve 30% do seu corpo queimado, sendo transferido a um hospital que é referência neste tipo de tratamento, no RJ. Cauan Emanuel Gomes Nunes e Francisco Dyogo Bento Alves já saíram da UTI e estão no quarto, com previsão de alta até o fim desta semana. De acordo com sobreviventes, a tragédia poderia ter sido ainda maior, pois o clube havia dado folga aos jogadores, devido às fortes chuvas que atingiram a capital carioca, dois dias antes do incêndio. Quem ficou alojado no Ninho do Urubu, na grande maioria, eram jovens que vieram de outros estados e que não possuíam uma moradia fixa no RJ.
Auxílio do Flamengo
Logo após a tragédia, o Flamengo montou um comitê de crise, para amparar as famílias desses jovens que perderam suas vidas, em uma das maiores tragédias do futebol brasileiro. Os familiares ficaram hospedados sob custas do clube carioca, em um hotel no Rio de Janeiro. Um médico e dois psicólogos estavam prestando auxílio para quem havia acabado de perder um ente querido. O clube assumiu ao Ministério Público carioca a responsabilidade no caso e se comprometeu indenizar essas famílias o mais rápido possível.