Saúde mental: um assunto necessário
Equipes de saúde do município realizaram ações de conscientização, visando quebrar estigmas
Palestra abordou o tema com mais profundidade. (Foto: Isadora Brehmer / Jornal de Pomerode)
Na edição anterior do Jornal de Pomerode, abordamos a temática do mês Setembro Amarelo, que trabalha a conscientização sobre saúde mental e que, neste ano, tem o tema “A Vida é a Melhor Opção”.
Com base nesta temática, a Secretaria de Saúde de Pomerode, por meio do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), organiza uma série de ações para fomentar a conscientização a respeito da importância do tema saúde mental e, neste ano, houve uma atenção maior às ações externas, para atingir a um número ainda maior de pessoas.
Na programação, há uma palestra no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), no dia 29, além de duas palestras para um público que normalmente não era contemplado nas ações: os colaboradores das empresas. Nos dias 22 e 23, ocorreram palestras em empresas do município, sobre o tema depressão e ansiedade.
O principal evento da programação do Setembro Amarelo foi uma palestra nesta terça-feira, 20 de setembro, no Teatro Municipal, com apresentação de dados da Vigilância Epidemiológica e também uma conversa em torno da temática nacional. A palestra contou com a presença de 93 pessoas.
A gerente de Vigilância Epidemiológica de Pomerode, Simone Steffens, apresentou dados a respeito de ocorrências de autoagressão, tentativas de suicídio e suicídio do município, além de mapear quais os perfis com maior ocorrência e quais os meios mais comuns.
Depois, o Dr. Carlos Rodrigues, médico psiquiatra do Caps, abordou mais sobre a temática nacional do Setembro Amarelo, falando sobre fatores de risco e o que fazer quando houver alguma percepção deste risco.
Entre os dados compartilhados pela gerente da Vigilância Epidemiológica, de 2018 até setembro/2022, vale destacar que 80% dos casos registrados de violência autoprovocada foram tentativas de suicídio.
Ainda falando sobre autoagressão, 90% dos casos ocorrem entre as mulheres e 50% são entre jovens de 10 a 14 anos.
No período de 2018 até o presente momento, em 2022, o ano com maior número de tentativas de suicídio foi 2019, com mais de 40 sendo registradas. Também em cinco anos, 66% das tentativas foram de mulheres. 76% das tentativas de suicídio foram por abuso de algum tipo de substância, 88% delas com medicação.
Entre homens, a tentativa ocorre com mais frequência com violência física e entre mulheres com intoxicação exógena. Por fim, segundo os dados apresentados, nos últimos cinco anos, houve 18 suicídios em Pomerode, sendo: 2018 (4), 2019 (4), 2020 (3), 2021 (4) e 2022 (3, até o mês de junho).
A psicóloga e coordenadora do CAPS de Pomerode, Michelle Vitório Marchetto, afirma que, recentemente, o município teve um acréscimo grande nos problemas relacionados à saúde mental.
Normalmente, o CAPS registrava uma média de 35 acolhimentos, e em meses mais complexos, como agosto e setembro, chegava a 50 acolhimentos por mês. No entanto, no mês de agosto deste ano, o CAPS realizou 86 acolhimentos. Ainda, segundo a secretaria de Saúde de Pomerode, de agosto de 2021 a agosto deste ano, os psicólogos da SESA realizaram 4.692 consultas.
“Como CAPS, acolhemos todas as situações de saúde mental, com porta aberta, ou seja, qualquer pessoa pode procurar o CAPS. Aqui, ela recebe atendimento inicial e é avaliada, para sabermos se é um caso leve, moderado ou grave. Nos últimos meses, nos questionamos se a população está adoecendo e percebemos que há muitos casos de ansiedade e depressão em nossa população, que são os problemas de saúde mais comuns”, comenta Michelle.
A coordenadora também afirma que esta é uma consequência da pandemia, relacionada ao isolamento social. E, ainda, os adolescentes foram os grandes prejudicados neste sentido, pensando em sua saúde mental.
“Principalmente com os jovens, percebemos um acréscimo na procura do serviço. Hoje, cerca da metade dos acolhimentos são de adolescentes. Isso porque a escola era o local de maior contato social e sabemos que, na adolescência, a questão do grupo é muito importante, devido ao desenvolvimento da personalidade e dos contatos sociais. Como foram privados disso, há consequências de saúde mental”, destaca.
A coordenadora enaltece, ainda, a importância do diálogo acerca de problemas de saúde mental, pois é com conscientização que se previne casos extremos, como as tentativas e os suicídios consumados.
“O que a gente percebe, no município, é que há muito estigma, em relação aos pacientes com algum tipo de transtorno mental. Mas precisamos quebrar estes estigmas, deixar de lado alguns jargões que muitos utilizam, comparando problemas de saúde mental à preguiça ou à má vontade de fazer algo. É necessário entender que, da mesma forma como nosso corpo adoece, nosso cérebro, responsável pelas emoções, também fica doente. Aos poucos, vamos tentando quebrar estigmas a respeito do assunto e contribuir com a saúde mental da nossa população”, finaliza Michelle.