Reflexão sobre riscos
Artigo escrito pelo senador Paulo Bauer
No último dia 15 de março, mais de dois milhões de brasileiros foram às ruas em protesto. Não pude ser um deles: recuperava-me de uma delicada cirurgia cardíaca. Dias antes, exames de rotina haviam apontado a probabilidade iminente de infarto. Foi um choque, pois sentia-me perfeitamente bem. Os médicos foram taxativos: a operação traria riscos, mas não enfrentá-la representaria um perigo ainda maior.
Do leito do hospital, acompanhando as manifestações pela tevê, minha “pequena” provação pessoal levava-me a refletir sobre nosso gigantesco drama nacional: se um processo de impeachment implica riscos para a estabilidade do país, evitá-lo ou posicionar-se contra ele não poderia ser ainda pior?
Pensava nos argumentos do cientista político Carlos Pereira, da FGV, em recente entrevista à jornalista Miriam Leitão, alertando para os “custos” da falta de impeachment. Segundo ele, a ausência de punição para um governo identificado com a corrupção ou com partidos políticos com ela envolvidos alimentaria uma sensação de vale-tudo, um sentimento de “cinismo cívico” devastador para a sociedade e para a economia de um país.
Por outro lado, todos os processos de impeachment levados a cabo no mundo, nas últimas décadas, resultaram na consolidação da democracia e das instituições, na redução da instabilidade econômica e social, e numa recalibragem do jogo político. Enfim, os riscos do impeachment seriam sobrevalorizados, diante dos benefícios que ele poderia gerar.
A aversão ao risco é da natureza humana. É um instinto que muitas vezes nos protege, mas que, outras vezes, simplesmente nos imobiliza. Precisamos, como nação, saber identificar qual é o risco maior, e saber como agir para evitá-lo. A voz das ruas demonstra que não aceita a paralisia.
Meu coração também não a aceita. Ele segue batendo, reformado, renovado, agradecido a todos aqueles que o ajudaram com orações e pensamentos positivos. Em breve, ele estará novamente pulsando em Brasília, reassumindo o enfrentamento a este governo reprovado pela sociedade. E sem temer risco algum.