Quebrando barreiras com superação
Pietra, de três anos de idade, teve problemas de saúde durante o nascimento e hoje estampa revistas de moda, pelo Brasil
Pietra é modelo fotográfica e está participando de várias campanhas publicitárias. (Foto: Divulgação / HUG)
A beleza de uma menina mais do que especial. Uma infância marcada por sustos, hoje, se transformou em superação. Pietra Grossklags tem três anos, é portadora da Síndrome de Down e hoje leva em seu Instagram muito seguidores que acompanham a rotina da menina, que também entrou no mundo da moda e é modelo fotográfica de empresas de roupas. A família tem uma forte ligação com Pomerode, já que o pai, Cássio Denis Grossklags, é natural da cidade.
Pietra nasceu com um pouco mais de seis meses. Quando a família foi fazer o exame de ultrassom morfológico, a médica acabou sugerindo o aborto da criança, já que havia a possibilidade de não chegar aos nove meses de gestação. Porém, a família acreditou até o fim de que o nascimento era possível. Na ocasião, Pietra veio ao mundo de maneira apressada e durante este processo, os pais ficaram sabendo de que a menina tinha Síndrome de Down.
Passados dias na UTI, o susto foi se transformando em alívio, já que a saúde da criança evoluía a cada dia que passava. Quando ela saiu do Hospital, iniciou o tratamento de fisioterapia e fonoaudiologia. Agora, além dos tratamentos médicos, Pietra pratica natação, faz balé e vai para a escola, em meio período. Vendo a evolução e superação da filha, a mãe, Sigrid, resolveu criar uma conta no Instagram, para compartilhar um pouco da rotina da menina.
E foi através de lá, que empresas começaram a entrar em contato com a família para participar de campanhas publicitárias. Uma delas, recente, foi publicada na revista de moda Harper’s Bazaar Kids, uma das maiores do seguimento de moda infantil. Agora, a mãe divide a rotina de trabalho com a agenda da filha, que está participando com frequência de ensaios fotográficos e “Jobs” para agências de modelo.
“Fiz a conta no Instagram, há cerca de sete meses. Durante esse período já fizemos inúmeras campanhas publicitárias com ela. É algo muito gratificante, pois você vê que sua filha superou várias barreiras antes das coisas boas. Acreditar sempre no melhor é algo que eu sempre prezo e poder ver a Pietra tendo esse espaço, é algo que é até difícil de descrever”, comenta a mãe.
Sigrid comenta que o preconceito acaba fazendo parte de suas rotinas. Porém, isso não é uma barreira para a família.
“Já sofremos preconceito e escutamos muitas ‘besteiras’ em relação a ela ter Síndrome de Down. A gente acaba absorvendo isso por um momento, mas olhamos sempre para frente e batemos de frente com o preconceito. Isso não vai fazer com que a gente deixe de acreditar na nossa filha e, com certeza, ela será uma pessoa, no futuro, muito independente, já que a gente consegue perceber que ela consegue fazer as coisas sozinha”, relata Sigrid.
A mãe de Pietra também fala do sentimento em ver a filha tendo seu espaço merecido na sociedade, que muitas vezes, acaba fechando portas para pessoas com deficiência. Ela falou da emoção em poder visualizar os passos da garota, no mercado profissional, já desde cedo.
“É algo muito gratificante. Nunca poderíamos imaginar que logo cedo ela seria capa de uma revista de moda ou fazer campanhas publicitárias, com as suas limitações, por conta da Síndrome de Down. E ela tem uma personalidade bem forte e gosta de fazer as coisas sozinhas, sem ajuda, isso nos faz a entender que ela vai conseguir muita coisa, daqui pra frente. Realmente, é algo muito emocionante poder ver o melhor da filha”, finaliza.
O lado psicológico
Para falar da inclusão, conversamos com a coordenadora pedagógica da Apae Pomerode, Luciana Riemer da Cruz. Graduada em pedagogia para educação especial, com especialização em psicopedagogia escolar, Luciana falou sobre a importância da inserção dos deficientes na sociedade e quanto mais espaço for proporcionado para estas pessoas mais do que especiais, mais estímulos terão.
“Ela receberá desse meio social, mais conhecimento do meio ela terá, e com isso mais habilidades cognitivas ela construirá, e assim conseguirá solucionar desafios com mais assertividade e coerência no seu dia a dia, tornando ela uma pessoa autônoma inserida em uma sociedade de forma digna. Essa inserção eleva a autoestima da pessoa com deficiência, torna ela importante, a pessoa com Síndrome de Down passa a sentir importância, como uma peça necessária em uma engrenagem, melhorando, assim, sua qualidade de vida e prevenindo demandas ocasionadas pela síndrome ao longo da vida, como o envelhecimento precoce”, comenta Luciana.
A psicopedagoga também falou sobre a importância para os pais de verem seus filhos com deficiência bem integrados na comunidade, em geral.
“Quando um pai ou uma mãe recebe a notícia de que seu filho possui uma deficiência é um momento muito delicado e complexo, muitos reagem de diferentes formas, mas a grande maioria passa por um período de adaptação, depois de aceitação, de lutas diárias para garantia de direitos e da qualidade de vida. Os pais começam a valorizar e comemorar pequenas conquistas, eles já não projetam grandes sonhos, eles vivem um dia de cada vez, e seja qual for a deficiência os pequenos acontecimentos como, ir para a escola, caminhar, conversar, se alfabetizar, ou só aprender seu nome, ou só aprender a primeira letra do seu nome, essas pequenas conquistas na infância enchem de alegria e esperança os corações dessas famílias, posso ir mais longe ainda o orgulho que um pai e uma mãe sentem quando veem seu filho pessoa com deficiência saindo de casa para trabalhar, esse sentimento é imensurável, é orgulho que transborda”, finaliza.