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Quebra-Nozes, uma figura já tradicional do Natal de Pomerode

Relembre como a figura passou a fazer parte do nosso Natal e se tornar um símbolo da época, em Pomerode

28 de dezembro de 2024

Foto: Arquivo JP

Figura já tradicional nos natais de Pomerode, o Quebra-Nozes é um item do Natal da Alemanha, incorporado à nossa cultura, assim como outras figuras tradicionais de um Natal alemão.

Os Quebra-Nozes passaram a fazer parte do Natal de Pomerode a partir do ano de 2009, mas a pesquisa que trouxe esta figura para nossa celebração começou muito antes. Gladys Sievert, ex-secretária de turismo da cidade e quem iniciou os trabalhos que resultaram na incorporação do Quebra-Nozes ao Natal pomerodense, afirma que a ideia começou a ganhar forma ainda em 1998.

“Na época, o então prefeito de Pomerode Henrique Drews Filho me chamou para assumir a Secretaria de Turismo e, naquele momento, eu estava terminando uma especialização em turismo pela FURB, e estava inserida no mundo acadêmico. Um dos meus colegas de turma, Wilson Tomio fez um curso, um mestrado em como o turismo pode influenciar na economia de um local. Então ele escreveu um livro sobre o case de turismo em Pomerode. Eu li essa produção e conversei muito com ele, momento em que ficou muito claro que o maior valor turístico da nossa cidade é o patrimônio cultural herdado dos nossos antepassados”, conta.

Naquela época, segundo Gladys, a Secretaria, com o apoio do Conselho de Turismo, buscava estratégias, ações e políticas públicas para promover resgates culturais, coisas que já estavam se perdendo no dia-a-dia da sociedade de Pomerode.

“Nosso objetivo era solidificar a marca de ‘Cidade Mais Alemã do Brasil’, aumentando essa conexão com a cultura alemã, não só por meio das casas em estilo enxaimel, mas também em aspectos como jardins, música, dança, gastronomia, e, principalmente, nos eventos. Queríamos fazer com que o nosso povo se orgulhasse da sua herança cultural e das suas raízes. Uma das ações era a identidade cultural com o artesanato alemão, nós tínhamos pessoas que faziam trabalhos manuais, mas sem identidade. A partir daí, entendemos que, para desenvolver o turismo como atividade econômica, era importante o artesanato, então começamos a pesquisar o que seria o artesanato”, relembra Gladys.

Desta forma, a ex-secretária de turismo conversou mais frequentemente com pessoas da Alemanha e, quando teve a oportunidade de ir para o país europeu, observava como era o artesanato, os eventos, as figuras retratadas, além de pesquisar em bibliotecas e livrarias.

“Foi desta forma que começou a ideia de fomentar os artesãos a produzirem artesanato em madeira, e um dos que a gente buscava fazer aqui era o Quebra-Nozes, junto com a pirâmide de Natal, o arco de natal, que são tudo estruturas também do Natal da Alemanha. Eu consegui tirar a principal ideia para fomentar esse artesanato do papel em 2009, quando conseguimos fazer um projeto e enviar uma professora para aprender essas técnicas lá, trazer para cá”, conta Gladys.

Esta professora foi Sandra Prochnow Greuel, artesã e que hoje dá aulas na Escola de Tornearia de Pomerode. Ela foi para a cidade de Annaberg-Buchholz, na Saxônia, para participar do Curso de Torneadir de figuras. “Eu já sabia que aprenderia a confeccionar Quebra-Nozes em madeira torneada. E, estando na região da Alemanha considerado o berço do Quebra-Nozes, senti que precisava estudar sua origem e todos os detalhes que o caracterizam como símbolo do Natal alemão. Conversei muito com meu professor Jens Breitfeld e sua esposa sobre toda a magia do Quebra-Nozes. Eles, então, me presentearam com um livro em alemão que continha toda a particularidade desse objeto tão encantador”, comenta Sandra, que utilizou também como fonte livros da região de Erzgebirge – Alemanha.

Para a professora de tornearia, foi um grande desafio aprender a fazer o Quebra-Nozes, em madeira. “Nos três meses que estive no Curso na Alemanha não havia muito tempo para aprender a fundo toda a técnica de confecção do quebra-nozes. As madeiras que utilizei na Alemanha eram muito fáceis e apropriadas para fabricar o quebra-nozes. Aqui, tive que fazer muitos testes com madeiras diferentes até encontrar aquela que fosse adequada. Enquanto não encontrava aquela adequada, fabricava o boneco sem a alavanca (abre e fecha da boca). Até que com mais pesquisas aprofundadas e discussão com um aluno marceneiro a mais de 30 anos, Sr. Horst Falk, começamos a trabalhar com a madeira marupá (caxeta). Nela encontramos a maleabilidade e a textura perfeita para fazer os quebra-nozes originais com alavanca. Já a pintura nunca foi difícil pra mim, desde criança sempre gostei de pintar. Na pintura de figuras aprendi muito com Gladys Sievert”, afirma.

Sandra também fala sobre algumas informações interessantes descobertas sobre o Quebra-Nozes, enquanto estava na Alemanha.

“Durante as pesquisas o fato que achei mais interessante foi a questão do rosto do Quebra-Nozes. O formato dos olhos, a barba e os dentes grandes e o motivo que ele aparenta estar bravo. Tem dois motivos: o primeiro que ao morder as nozes com a boca ele faz uma cara mais fechada pois precisa fazer força com os dentes. A segunda que os artesãos de Erzgebirge retratavam nos quebra-nozes a aversão que tinham pelas imagens que indicavam poder como o rei, soldado e policial, por esse motivo a pintura do rosto eram de expressão nada simpática. Por isso que os quebra-nozes produzidos na Alemanha tem o formato do corpo mais robusto, musculoso, lembrando a força necessária para quebrar as nozes. Além disso, o quebra-nozes traz uma imagem de alegria ao Natal, lembrando da história do escritor alemão E.T.A Hoffmann (1776-1822) em seu conto “O Quebra-nozes é o Rei Rato” em que o príncipe Quebra Nozes defende a pequena Marie das Maldades do Rei Rato. Outro fato muito interessante que em Seiffen (Erzgebirge) na Saxônia a Família Füchtner está na nona geração de fabricantes do quebra-nozes. Os mais famosos da Alemanha. Tradicionalmente a cor original do primeiro quebra nozes fabricado pela família Füchtner é aquele de paletó vermelho e calça amarela e detalhes em dourado e ainda cabelos e barba brancos e os olhos azuis”.

 

Os Quebra-Nozes como parte do Natal em Pomerode

Como dito, a figura foi introduzida no Natal de Pomerode no ano de 2009, pela equipe da Secretaria de turismo. “Na prefeitura estávamos com dois funcionários, o Lúcio e o Carneiro, que eram torneiros e eu coloquei esse projeto para eles, que aceitaram o desafio e trabalharam gratuitamente para fazer essas peças. Para o desenho, o tamanho e dimensões, eu tive muito apoio da Nani, que era artesã, professora aqui, e também da Maria Helena, da Aninha Diniz, que eram de Florianópolis, mas estavam trabalhando na prefeitura. Depois veio a segunda parte, que era a pintura. Novamente eu contei com o auxílio de artesãs, que trabalharam voluntariamente, na época a minha secretária Shirley, a Sandra da escola, a Izilda, que capitaneava toda a equipe de artesãs, nós trabalhávamos à noite, depois do expediente da prefeitura, sábados, domingos, para conseguir fazer os Quebra-Nozes”, destaca Gladys.

Com o trabalho em equipe, foi possível apresentar os Quebra-Nozes no Natal, o que gerou grande repercussão. Houve alguns percalços, como dúvidas e críticas a respeito daquela figura, mas no ano seguinte foi realizado um trabalho com os alunos das escolas de Pomerode, contando a história daquela figura, como ela se conectava com a nossa cultura, a partir do Natal na Alemanha, e, desta forma, foi criada uma identidade para o Natal de Pomerode.

“Felizmente tive uma equipe maravilhosa que acreditava nas minhas ideias e agradeço a todos que apoiaram e confiaram nesta ideia. Ver que conseguimos, juntos, fazer com que as pessoas passassem a admirar o Quebra-Nozes e que ele se tornasse parte importante do nosso Natal, me deixa muito feliz e honrada, com um sentimento de dever cumprido”, finaliza Gladys.

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