Cultura

Preservação da Língua Pomerana, em Pomerode: cultura e essência

Ações realizadas na cidade visam preservar a herança cultural dos antepassados

8 de dezembro de 2024

Elvira lê, em casa, o Novo Testamento em Platt. (Foto: Isadora Brehmer / JP)

Quando falamos na cultura herdada dos imigrantes que povoaram Pomerode, há um aspecto que, por vezes passa despercebido, pois se trata de uma manifestação oral da cultura.

Estamos falando do Plattdeutsch, que possui uma variante na região da antiga Pomerânia, de onde os imigrantes que povoaram o Vale do Rio Testo vieram. Esta variante é o Pomerano, também falado em Pomerode.

Claudio Werling é professor de alemão e um dos moradores de Pomerode que tem conhecimento do Platt. Ele aprendeu o Pomerano em casa e, quando seus avós viviam, era comum que conversassem utilizando o Platt em casa.

“Atualmente utilizamos o Pomerano ainda em casa, mas com menos frequência. Além do que aprendi em casa, pude conhecer mais do Platt por meio de entrevistas realizadas com a comunidade, junto de Roseli Zimmer, com o sr. Egon Tiedt e com o sr. Aristeu Klein, fazendo trabalhos de resgate histórico oral, assim como participei de um curso de pomerano há alguns anos”, revela Werling.

O professor também conta que costuma conversar em Pomerano em sua casa, com os pais, ou com um amigo, Ralf Reinke, e com um professor do idioma. “Não é mais tão frequente, porém quando há a oportunidade eu pratico o idioma”, afirma.

Claudio é integrante do grupo Pomeranos no Vale Europeu e do professor João, que por volta de 2016 e 2017, começaram a promover rodas de conversa em Pomerano, a fim de ajudar a preservar o idioma. Os encontros foram realizados nos bairros Testo Central, Testo Alto, Testo Rega, Testo Central Alto, com a participação da comunidade.

Hoje, uma equipe do Museu Pomerano e do Centro Cultural segue promovendo as rodas de conversa, estimulando o encontro de pessoas que sabem o idioma e de quem tem curiosidade de conhecê-lo. Desta forma, o aspecto cultural segue sendo preservado, em Pomerode.

 

Elvira Eggert, aposentada e moradora do bairro de Testo Rega, é uma das pessoas que ainda sabe como dialogar em Pomerano. Ela revela que aprendeu a falar o dialeto por uma necessidade e que teve o primeiro contato com o dialeto em casa. “Eu morava com meus pais e meu avô paterno. Eles, entre si, falavam em Platt, mas não com as crianças. Quando eu tinha cerca de 12 anos de idade, eu precisava ir para os encontros da Doutrina, na Igreja Luterana, e comigo iam duas amigas, que só falavam em Platt. Então, para conversar com elas, eu aprendi a falar o Pomerano”, relembra.

A aposentada afirma que não foi tão difícil aprender a falar o dialeto, pois já conhecia um pouco, do que ouvia em casa e também ouvia com atenção as amigas falarem. Depois de adulta, ela continuou a praticar o Pomerano, pois tinha uma outra mulher que ajudava na manutenção do terreno, que só sabia falar em Platt

“Eu também lia livros em Platt e continuo lendo algumas coisas em Pomerano. Quando minha sogra ainda vivia, eu ia ao banco fazer algumas tarefas para ela, e do outro lado dele tinha uma biblioteca. Nela havia livros em Platt e eu pegava alguns para ler em casa. Hoje, por exemplo, eu leio o novo testamento em Platt. E converso também com pessoas que também sabem o Pomerano”, enumera.

Segundo Elvira, seus filhos entendem algumas palavras em Platt, mas não muitas e os netinhos já não sabem, apenas um pouco do alemão. “Nos almoços, em minha casa, eu tento conversar um pouco com eles em alemão. Tenho livrinhos aqui que foram distribuídos na Roda de Conversa, em Platt, e eles gostam daquelas figurinhas, então leio um pouco em Platt para eles”, destaca.

Para Werling, a Língua Pomerana é uma herança que deve ser mantida, pois é parte da história do povo de Pomerode e tem uma importância cultural imensa.

Uma das primeiras rodas de conversa feitas pelo grupo em Pomerode em 21 de maio de 2016, na propriedade de Vilson Werling em Testo Central Alto. (Foto: Janete D. Werling)

 

“O Platt, como é conhecido no Brasil, Pomerano, é a essência da nossa imigração, das pessoas que se estabeleceram no Vale do Rio do Testo, por isso merece ser mantida, preservada, pelo máximo de tempo que pudermos. Temos que dar visibilidade, divulgar e estimular o idioma na cidade, embora, entre as pessoas mais novas, em Pomerode, é difícil haver alguém que ainda saiba o Pomerano”, pondera.

Ele também enaltece a importância de tais ações, como as rodas de conversa, que têm dado boa continuidade ao idioma, que possui grande valor e importância para a cultura local neste momento. “Nestas rodas de conversa, algumas vezes definimos alguns temas para promover a conversa, os debates e as trocas de histórias, o que é muito legal e às vezes conversamos também em alemão e português durante a roda, porque é algo natural para quem é bilíngue na nossa região”, afirma.

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