Especiais

Pomerodense fala sobre a tragédia da Boate Kiss: “eu poderia estar lá”

À época, caloura da UFSM vivenciou os momentos após o incêndio na casa de shows de Santa Maria (RS).

27 de janeiro de 2023

Foto: Agência Reuters

A tragédia da Boate Kiss, na cidade de Santa Maria (RS), completa 10 anos nesta sexta-feira, 27 de janeiro. Na ocasião, um incêndio deixou 242 jovens mortos, mais de 600 feridos e uma infinidade de pessoas dilaceradas, por conta da catástrofe.

Uma década depois, o sentimento que ainda fica, principalmente, dos familiares das vítimas, é o de impunidade. Mesmo que os responsáveis tenham sido condenados, o Tribunal de Justiça do estado anulou a sentença, revogando a prisão em agosto do ano passado, sob o argumento de descumprimento de regras na formação do Conselho de Sentença.

Apesar de não ter estado na Boate Kiss naquela fatídica noite, uma pomerodense vivenciou plenamente aqueles momentos. Paola Stéfany Maass de Souza, hoje com 27 anos, cursava Química – Licenciatura Plena pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Inclusive, por pouco, ela não esteve na festa, onde tudo aconteceu.

“Eu poderia estar lá, pois era uma festa de calouros. Só não fui, porque meu irmão Thiago pediu que eu ficasse em Pomerode, para o seu aniversário. E eu sou eternamente grata a ele, pois, possivelmente estaria na Boate Kiss aquela noite”, comenta.

Paola diz que a cidade de Santa Maria está no seu coração, apesar dos sentimentos antagônicos. “Feliz, pelos dias que vivi lá, onde fiz grandes amizades e passei bons momentos; e triste, por tudo o que aconteceu. Ao chegar na cidade, em fevereiro de 2013, ou seja, alguns dias após a tragédia, uma aura angustiante pairava sobre todos, com pessoas pedindo justiça por seus familiares e amigos. E, claro, você acaba conhecendo pessoas que vivenciaram essa tragédia. Houve pais que cometeram suicídio por não aguentarem a pressão. É uma dor que não dá para explicar. Viver lá, depois do que tudo o que aconteceu, foi muito pesado”, ressalta.

 

Paola, junto com o irmão Thiago | Foto: Arquivo pessoal

 

A pomerodense voltou para seu município natal em janeiro de 2014, para concluir a faculdade, em Blumenau. Ela diz que após 10 anos, mesmo não tendo mais o mesmo contato que tinha com as pessoas de lá, ainda há um sentimento muito forte.

“Conheci sobreviventes, conheci pessoas que, nos últimos cinco minutos, decidiram não ir para a festa e, também, algumas que estavam lá dentro e que, infelizmente, faleceram. Nada disso é fácil, tanto que, mesmo sentindo saudades daquela cidade, não estou pronta para voltar lá. Também não sei como irei me sentir quando assistir a série e vivenciar todo aquele desespero”, relata.

 

Foto: Fernando Frazao / Agência Brasil

 

Com relação ao sentimento de injustiça, Paola tem uma opinião muito forte. “Eu vejo que os verdadeiros (ir)responsáveis devem ser punidos. Eu só não consigo aceitar que coloquem a culpa no vocalista da banda, até porque, este tipo de sinalizador era utilizado em todas as festas. Muita gente pode pensar diferente, mas é um sentimento que eu tenho. Vejo que os verdadeiros responsáveis são os órgãos que liberaram o espaço. Mas a justiça precisa ser feita e que todos sejam punidos, até mesmo, para que a dor das famílias posse ser amenizada um pouco”.

A pomerodense espera que tudo isso tenha servido de lição, não somente para baladas, mas também, pata todos os onde há aglomeração de pessoas, como empresas, hotéis e teatros.

“Na maioria dos casos, economizar pode custar caro, inclusive, com a vida. Por isso, que essas 242 pessoas que perderam a vida possam servir de inspiração para nós, quando fizermos algo neste sentido”, finaliza.

 

Notícias relacionadas