Especiais

Os contos de quem fugiu da guerra

Casal sírio visita Pomerode e conta os motivos de buscar refúgio no Brasil, conflitos e dificuldades que passaram até chegar ao nosso país. Tarek Areeshah e Hanan Yasin residem em Florianópolis há quatros e, recentemente, escolheram Pomerode como destino para uma viagem no estado

11 de fevereiro de 2019

Uma história de quem teve que fugir de uma guerra para ter uma vida melhor. Imagine conviver diariamente com mísseis passando por cima de sua casa, bombas caindo na sua rua, viver no meio de tiroteios diários e não saber se irá acordar vivo no dia seguinte. Mas, por que será que estamos falando sobre isso? 

Tarek Areeshah e Hanan Yasin são sírios e moravam na cidade de Damasco, capital do país. O casal mora em Florianópolis há quatro anos e decidiu vir para o Brasil para fugir da guerra civil que acontece no país desde 2011 e permanece até os dias de hoje. O confronto é tratado pela ONU como a pior crise humanitária deste século. Com o medo de perder a vida ou o seu patrimônio, o casal e o primeiro filho, Yahya, decidiram sair do país e escolheram o Brasil para poder se refugiar.

“Nós não tínhamos vida por lá. Não havia empregos, só condições ruins, além da insegurança diária, afinal, todos os dias, havia bombardeios no nosso bairro ou, até mesmo, na nossa rua. Mísseis passando no céu a todo momento, pessoas morrendo toda hora, realmente era um caos. Escolhemos o Brasil pois já tínhamos familiares que moravam em Florianópolis e eles falaram que o país os acolheu bem e decidimos nos mudar para cá”, explica o refugiado.

Hanan, esposa de Areeshah, chegou grávida ao Brasil, em 2015. Segundo a família, a principal dificuldade encontrada foi o idioma. A adaptação ao português demorou um pouco, mas graças à ajuda de uma professora voluntária, o casal já consegue falar com menos dificuldade a nossa língua. “Eu estava com medo da adaptação ser muito difícil. Mas encontrei um povo receptivo, recebi muita ajuda e tudo acabou sendo mais fácil do que pensava. Estou muito agradecida”, relata Hanan.

No dia 22 de outubro de 2015, veio ao mundo o primeiro “sírio manézinho”. Yousef Tarek Areeshah, o primeiro brasileiro com descendência síria a nascer na capital catarinense. Como havia perdido um bebê na Síria, após uma tentativa de parto normal, amigos e familiares ajudaram o casal e o procedimento de parto foi realizado pelo sistema particular. Ela também necessitou de uma equipe médica que se adaptasse aos requisitos da religião muçulmana. Por isso, o médico acabou por dispensar o exame de verificação de dilatação, pois um homem não poderia olhar para Hanan dessa forma. Yousef nasceu saudável e, hoje, está com três anos de idade. 

Atualmente, Areeshah é gerente de uma galeria em Florianópolis. Hanan é fotógrafa e sonha em trabalhar para uma renomada revista internacional. Mas, por enquanto, está em casa, no centro da capital, cuidando dos filhos.

O filho mais velho, Yahya, de sete anos, está na escola e aos poucos, começa a dominar a língua portuguesa. Já Yousef ainda está em casa junto com a mãe e deve ingressar na rede de ensino pública de Florianópolis, ainda neste ano.

Visita a Pomerode 

O casal resolveu viajar por Santa Catarina e escolheu Pomerode como destino, após sugestões de amigos e ver reportagens sobre a cidade na televisão e internet. Por aqui, ficaram hospedados por três dias e conheceram os vários pontos turísticos da cidade mais alemã do Brasil. Como estavam com as duas crianças, procuraram atrações que pudessem deixá-las felizes, portanto, foram até o Zoo Pomerode e à Vila Encantada.

“As crianças amaram o Zoológico. Ficavam encantadas com os animais e não queriam sair de lá, de maneira alguma. O mesmo sentimento na Vila Encantada, onde amaram os dinossauros e aproveitaram bastante os brinquedos. Foi diversão garantida para meus meninos”, conta Hanan. Já Areeshah se encantou com a tranquilidade e receptividade do povo pomerodense.

“Eu fiquei maravilhado com a tranquilidade da cidade, a segurança que ela passa. A receptividade do povo pomerodense foi muito boa, fomos tratados da melhor maneira possível. O curioso é quando a Hanan passava na rua, por estar trajando um Hijabe (vestuário tipicamente muçulmano), olhavam para ela e achavam diferente, mas é claro, sem nenhum olhar preconceituoso. Até pensei em morar aqui, mas não saberia como seria a nossa adaptação, afinal é uma cidade maravilhosa”, finaliza.

O casal voltou na quarta-feira para Florianópolis e pensa em retornar, em uma outra oportunidade, para Pomerode.

A guerra na Síria 

Os confrontos na Síria acontecem desde 2011. O conflito entre as forças do governo de Bashar al-Assad e opositores já causou a morte de cerca de 250 mil pessoas e acarretou em mais de quatro milhões de refugiados. Enquanto 95% foi para países vizinhos, como Turquia, Egito, Jordânia e Líbano, e milhares arriscam na travessia do Mar Mediterrâneo para chegar à Europa, sem a certeza de serem acolhidos, cerca de 2.100 sírios vieram reconstruir a vida no Brasil.

O conflito também abriu caminho para que grupos radicais ganhassem força e, desde agosto de 2014, a facção Estado Islâmico controla mais de 50% da Síria. Até agora, mais da metade da população de 21 milhões de pessoas foi forçada a deixar suas casas.

Notícias relacionadas