O Segredo dos Ciganos
Artigo escrito por Luiz Henrique da Silveira – Senador da República
O 8 de abril é comemorado, em todos os continentes, como o dia mundial dos ciganos.
Quem são? De onde vieram? Qual é a origem desse nome?
Conta a lenda que descendem de antigas tribos do oriente, a partir de um reinado estabelecido na cidade de Sind, na Índia, há uns mil anos. Desse radical, “sind”, surgiu a palavra greco-bizantina “attigano”, que evoluiu para o português “cigano”. Na língua italiana que os chama de “Zingaros”, o radical “sind” está mais presente.
Negando-se a viver em um lugar fixo, como passou a comportar-se a humanidade desde os primórdios da era agrícola, os ciganos continuam a migrar, de um lado para o outro, montando acampamentos como faziam há séculos.
Calculam os demógrafos que seis milhões de ciganos ainda vivam nessa condição, sendo uns oitocentos mil no Brasil.
Por ser um povo distante e arredio desperta curiosidade sobre seus hábitos, suas crenças, sua cultura.
Na Hungria, onde ainda são muitos, tiveram as suas canções folclóricas, as “czardas”, retratadas pelas melhores orquestras sinfônicas do mundo.
Há uns trinta anos, em Budapest, tive oportunidade de ouví-las ao vivo, na interpretação fantástica de violinistas magiares.
Quem não lembra de Carmem, a cigana irresistível da obra “espanhola” do francês Georges Bizet? Seu drama, seus amores, sua morte violenta, dão o clima de uma erupção feminina, de um vulcão, de um terremoto que passa chamando a atenção de todos, balançando os quadris rumo ao trabalho na fábrica de cigarros.
Na Ópera de Paris, New York ou Moscou, ela é celebrada por sua beleza, sua impulsividade, sua feminilidade extrema, sua procura inconstante, que se expressam na sua dança lasciva e chamativa.
Minha filha, Marcia, chorou copiosamente quando, no Teatro Nacional de Brasília, ela foi interpretada pela companhia de dança de Antonio Gades, o maior ícone da dança flamenca, falecido em 2004. Um balé perfeito, irretocável, superlativo.
Foi uma apoteose! Sob aplausos intermináveis, tiveram que abrir e fechar as cortinas umas doze vezes. Ninguém queria ir embora.
A atmosfera mística dos ciganos também inspirou outro francês, Maurice Ravel, a fazer uma de suas obras mais aplaudidas: o “Bolero”. Imagina-se uma taberna onde, após uma noite inteira de bebedeira, uma música começa a tocar distante, até que, nos acordes mais altos, despertam da embriaguez vendo uma bela cigana dançando sobre a mesa. Logo a transformam em objeto de disputa.
A mesma chama sensual que evocam a Carmem, de Bizet, e a dançarina cigana, do Bolero de Ravel, fez o italiano Gianni Morandi dedicar-lhe um amor explosivo, na inesquecível canção popular “Zingara”: (…) ” segura a minha mão (…) /olha nos meus olhos/ diga que me ama/ dá-me a esperança/ é só isso que importa para mim.”
Na Romênia, encontrei a versão mais próxima da flauta grega de Pan, que fez a glória mundial de Gheorghe Zanfir. Lá, a música é impregnada de emoções e sentimentos da alma cigana. Lá, como na Hungria, os sons, as danças e os cantos refletem aquela cultura milenar.
Em todos os lugares essa cultura é evocada como elemento de brumas, de mistério, de ansiedade, de beleza e de paixão ardente.