Como era o Natal dos imigrantes, que moldou as tradições, em Pomerode
Tradições como as velas na árvore de Natal e a produção das bolachas foram heranças dos imigrantes
Foto: Divulgação / Rota do Imigrante
Na Rota do Imigrante, localizada na região Sul de Pomerode, moradores e empreendedores estão sempre engajados em resgatar tradições que faziam parte do dia a dia e das celebrações na época em que os primeiros imigrantes se instalaram no território.
O Natal, por exemplo, tinha algumas particularidades na maneira como era comemorado pelos imigrantes, com uma preparação que começava dias antes da data do nascimento de Jesus.
“Um dos primeiros sinais de que o Natal estava próximo era o som das cigarras na mata (weihnachtskäfer), pois como ela começa a se manifestar de forma mais consistente nos dias quentes, as pessoas compreendiam que faltava pouco para o Natal. E ainda, para muitos, os pais diziam que elas eram as ‘vigilantes do Nicolau, então se comporte para ganhar bons presentes!’ Alguns costumes eram bem enraizados, como a faxina do pátio, da casa e de todo o entorno, tudo precisava ficar impecável. Por sua vez, a fabricação dos doces de Natal que reunião a família, era uma festa para as crianças”, conta o presidente da Rota do Imigrante e estudioso da história local, Genemir Raduenz.
Também havia o ritual do advento, começando quatro domingos antes do Natal, quando era acesa a primeira vela e, assim, consecutivamente os próximos domingos de advento até a noite de Natal, quando então muitas velas eram e continuam sendo acessas no pinheiro natural.
Nas casas, a decoração natalina também já tomava conta no início do mês de dezembro. Porém, segundo Raduenz, era diferente do que é feito hoje em dia.
“Tudo era muito simples, para se ter uma ideia, as primeiras árvores de Natal eram galhos ou pequenos arbustos nativos, não haviam pinheiros nas matas por aqui. Mais tarde foram introduzidos à Araucária e demais pinheiros com sementes importadas. Da mesma forma, a decoração se resumia as bolas de Natal de vidro, muito frágeis por sinal e por isso eram usadas e guardadas com muito zelo, bem como o algodão espalhado pela árvore, uma clara referência à memória afetiva dos natais nevados das suas vilas de origem na Europa. O algodão era guardado de um ano para outro e reaproveitado”, conta.
Na noite da véspera de Natal, o que predominava nos natais dos imigrantes eram as celebrações ligadas à fé, levando em conta o real significado da data, que era bem levado a sério pelos imigrantes.
Segundo Raduenz, a fé era o ponto central. Participar dos cultos/missas era rigor e fazia parte da rotina de quase todos, pois o Natal tem seu fundamento celebrado no nascimento do filho de Deus.
“Então, o ritual era ir à igreja ou, em casa, fazer orações e ler trechos bíblicos ao redor da árvore de Natal. Nesse ato ao redor da árvore de Natal, muitos hinos sempre foram entoados, era um dos pontos altos no Natal, os cânticos a redor do pinheiro com as velas acessas. Os presentes eram muito modestos, muitas vezes somente balas e singelos brinquedos feitos de forma artesanal. Me lembro que minha Oma Lylly sempre contava que não via a hora de chegar o Natal quando criança, pois era quando recebiam maçãs de presente”, comenta.
Já na manhã de Natal, alguns elementos faziam parte do momento que sempre era vivido em família, com destaque para um item que despertava água na boca.
“A bolacha de Natal certamente é a estrela no café da manhã deste dia especial. Aquelas bolachas produzidas na véspera e guardadas a ‘sete chaves’ em latas bem seladas, eram abertas na manhã de Natal e irradiavam a alegria em todo o ambiente. Era um dia excepcional na vida dos adultos e das crianças”.
Atualmente, embora algumas das tradições sejam mantidas, muitos elementos e outras influências externas foram sendo incorporados, o que é parte de um processo de evolução, na avaliação do presidente da Rota do Imigrante.
No entanto, graças a um trabalho de resgate de memórias, é possível registrar e manter algumas tradições de antigamente. “Em especial muitos relatos de idosos contribuíram, bem como literatura do período da imigração aqui no Vale do Itajaí e também alguns aspectos ainda foram vivenciados em minha infância. Compreendo que o mais importante é entender a essência das celebrações, por que usamos algodão na árvore? Como o canto da cigarra influencia nossa cultura? Temos muitas doceiras na cidade, o que tem haver com o Natal? São reflexões importantes para fortalecer cada vez mais esse momento especial do ano que une fé, tradições e enaltece nossa cultura”, frisa.