“O mundo evoluiu muito e ainda tem muito a evoluir”: moradora de Pomerode fala sobre os desafios de quem possui o Transtorno do Espectro Autista
No Dia Mundial de Conscientização do Autismo, Larissa Roberta Borges Turinelli, diagnosticada já na fase adulta, fala sobre a evolução do assunto e a importância da sociedade para a inclusão de verdade
Fotos: Arquivo pessoal
O Dia Mundial de Conscientização do Autismo, celebrado nesta terça-feira, 02 de abril, tem como principal objetivo difundir informações sobre essa condição do neurodesenvolvimento humano e reduzir o preconceito que cerca as pessoas afetadas pelo Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Os primeiros sinais de que uma pessoa é portadora do TEA podem surgir já no segundo ano de vida, mas há quem chegue a fase adulta sem ter o laudo positivo e tenha esta confirmação apenas nesta fase da vida.
É o caso da moradora de Pomerode Larissa Roberta Borges Turinelli, de 29 anos, garagista, e estudante de pedagogia e psicologia. A confirmação de que é autista veio somente neste ano, mais especificamente no dia 12 de março.
“No fundo eu já sabia. Sou mãe de duas crianças: a Sophia e o Matteo, ambos autistas. O Matteo foi o primeiro a ser diagnosticado, há dois anos, depois a Sophia e, por último, eu. No decorrer do processo do diagnóstico de ambos, fui lendo sobre o assunto e me identifiquei muito. Os terapeutas e a geneticista também fizeram um trabalho incrível, porque sempre perguntavam se um dois pais poderia ser e sempre me incluíam em tudo. Em 2022, procurei meu neurologista, relatei a ele tudo e ele solicitou uma avaliação com uma neuropsicóloga, porém os custos da avaliação eram muito altos e na época não conseguimos, afinal já estávamos tendo os gastos com o diagnóstico dos dois. Portanto, de 2022 até agora, focamos mais nas crianças, na nossa adaptação. No entanto, neste ano, comecei a faculdade presencial de psicologia e os desafios começaram, porque são muitos estímulos, muitas pessoas, barulho, e acabei tendo várias crises por isso. Retornei ao neurologista e recebi o diagnóstico”, conta Larissa.
Mesmo que a confirmação do TEA tenha vindo apenas na fase adulta, a garagista afirma que já tinha alguns comportamentos e sinais de que poderia ser autista na infância, porém percebe isso hoje, apenas, com o conhecimento adquirido a partir do diagnóstico dos filhos.
“Eu sempre fui uma menina muito solitária, vista como tímida, comportada porque era quietinha e isso torna o diagnóstico de meninas tão difícil, pois é muito confundido com timidez. Eu não interagia, me escondia atrás das pessoas, não falava, na escola não fazia amigos, me retraía muito e sempre corria para a biblioteca, no recreio, porque não gostava de estar no meio de várias pessoas, o barulho me incomodava demais. Fui vista como depressiva desde a infância, justamente porque não gostava de socializar”, relembra.
Larissa também recorda que não conseguia apresentar trabalhos escolares na frente de todos e acabava ficando com nota zero, justamente por isso. Mesmo com o passar do tempo, pouca coisa mudou e a garagista continuou tendo poucos amigos, pelo fato de fazer amizades ser uma tarefa por vezes complicada.
“Porém, fui começando a mascarar muito isso e mudei bastante meu comportamento, apesar disso me deixar muito cansada e com bastante dor de cabeça no fim do dia. Comecei a me forçar muito a interagir com as pessoas, socializar, acho que para ser mais aceita”, revela.
Mudanças de paradigmas
Larissa comenta, ainda, que o crescimento da busca por informação e conhecimento sobre o TEA auxiliou no desenvolvimento do assunto, fazendo com que o número de autistas diagnosticados também crescesse.
“Na época da minha infância, os diagnósticos ainda eram bem difíceis, eram mais autistas severos que eram diagnosticados, e também não tinha tantos profissionais capacitados como hoje em dia. E é por isso que aumentou tanto o número de autistas. Muitos foram diagnosticados agora, passaram a vida toda sabendo que tinha algo diferente, porém não tinham ajuda. Hoje temos mais profissionais capacitados, que estão buscando sempre se especializar, estão estudando, fazendo pesquisas. O mundo evoluiu muito e ainda tem muito a evoluir em termos de respeito, inclusão de verdade”, pondera a estudante de pedagogia e psicologia.
A aceitação em sociedade e seu papel na inclusão
Felizmente, para Larissa, não houve tanta dificuldade a ser enfrentada na parte da aceitação, com ela e sua família. Para a garagista e mãe de filhos autistas, ter o diagnóstico foi mais uma libertação.
“Eu sempre falo que o diagnóstico não é o fim, e sim o começo, porque aí sabemos o que está acontecendo e podemos buscar ajuda. O que pega muito é o mundo lá fora, como o mundo nos vê, e a inclusão de verdade! Uma das frases que ouvi nesse processo foi o ‘porquê?’ e ‘para quê? Você já é adulta, por que vai mexer nisso agora? O que vai mudar?’. De fato, infelizmente, não consigo voltar no tempo e mudar o que aconteceu e como aconteceu a minha infância, mas posso mudar meu futuro e como ele vai ser, consigo buscar ajuda, terapia, profissionais que possam me ajudar nesse processo”, destaca Larissa.
Por fim, como uma pessoa que tem o autismo presente em sua vida de todas as formas, ela destaca o papel da sociedade na promoção da inclusão de pessoas com autismo, e destaca que algumas medidas são importantes para criar um ambiente mais acolhedor e acessível para todos.
“Eu vejo o papel da sociedade como fundamental na promoção da inclusão de pessoas com autismo. É essencial que todos tenhamos consciência da importância de criar um ambiente acolhedor e acessível para todos, independentemente de suas habilidades ou diferenças. Para isso, medidas como educação inclusiva em todas as etapas do ensino, sensibilização e treinamento para profissionais em diversas áreas, políticas públicas que garantam acessibilidade em espaços públicos e privados, e a promoção de uma cultura de respeito e aceitação são fundamentais. Além disso, incentivar a participação ativa das pessoas com autismo na comunidade e no mercado de trabalho, oferecendo oportunidades de desenvolvimento e crescimento, é crucial para construir uma sociedade verdadeiramente inclusiva”, finaliza.