Especiais

O Hotel Central: memórias valiosas de um ponto popular da Pomerode de antigamente

Família Kath, que administrava o local, relembra com carinho do antigo Hotel, Bar e Restaurante Central Victor Kath e fala sobre as histórias vividas no ponto

7 de abril de 2024

Foto: Isadora Brehmer / JP

Hotel, Bar e Restaurante Central Victor Kath. Há mais de 60 anos, este era um nome comum na paisagem do Centro de Pomerode, de um estabelecimento muito frequentado durante 20 anos.

Raulino, de 79 anos, e Ruth Kath, 77, trabalhavam no Hotel, que era propriedade dos pais de Raulino, Victor e Alidia. “Eu nasci em Jaraguá do Sul, mas depois saímos da cidade. Também moramos em Curitiba, onde meus pais foram sócios da Sociedade Duque de Caxias e tivemos uma pensão na Avenida Silva Jardim. Depois viemos para Pomerode, no ano de 1963, quando meus pais alugaram o Hotel Central e passaram a gerenciá-lo”, conta o aposentado.

Depois, nos anos de 1967 e 1969, os pais de Raulino adquiriram o Hotel por completo, comprando-o em duas partes. Na época, Ruth e Raulino já estavam casados.

“Conheci Raulino antes de eles virem morar em Pomerode. Eu morava em Jaraguá do Sul, na região de Rio Cerro e nos conhecemos em uma das vezes em que Raulino foi visitar o tio dele, que morava próximo da minha família. Conversamos e namoramos por cartas, por cerca de seis anos. Lembro que Raulino sempre vinha me visitar usando terno e gravata, e depois íamos para algum baile de bicicleta. Noivamos em 1965 e nos casamos em 1967, passando a morar no Hotel logo depois. No dia seguinte ao casamento, já estávamos vivendo no Hotel Central”, relembra Ruth.
Os três filhos do casal, duas meninas e um menino, nasceram no Hotel, mas infelizmente uma faleceu ainda bebê. Rosely e Rogério foram criados depois, na rotina do Hotel Central Victor Kath.

“Eu trabalhava com meu pai, Victor, no balcão do Hotel e do Restaurante. Algumas vezes eu também ficava na bilheteria onde eram vendidas as passagens de ônibus da Viação Penha e da Catarinense. Já a Ruth trabalhava com a minha mãe na cozinha”, conta Raulino.

“Nós tínhamos alguns empregados para faxina, para atender as mesas do Restaurante, mas eu também ajudava na arrumação dos quartos e fazia o que fosse necessário. Morávamos no andar de cima, nosso quarto tinha a janela de frente para a esquina, que na época tinha uma sinaleira. Era tudo bem diferente. Ao todo, tínhamos 24 quartos no hotel”, completa Ruth.

Ainda segundo Ruth, uma das memórias mais vívidas era de um grupo de hóspedes que vinha do Rio de Janeiro todos os anos. “Era um médico, a esposa dele, com dois filhos, e a sogra. Vinham sempre de ônibus e daqui iam visitar outras cidades. Nosso Hotel era bem simples, não tínhamos elevador, nada, mas as pessoas gostavam”.

Foto: Arquivo pessoal

 

A parte do Restaurante do prédio do Hotel Central também era muito frequentada, segundo o casal.

“São muitas memórias do Hotel, especialmente do Restaurante, que era muito movimentado. Quem vinha muito ao Restaurante eram os membros da família Weege, da família Laemmel, o Juvenal, um homem que sempre estava aqui no Centro, ficava muito no Chapéu Farinhas, e era muito querido por todos aqui. Todos os dias ele estava aqui no Restaurante. Quando havia reuniões do prefeito e vereadores, depois eles vinham ao restaurante, se sentavam em volta de uma mesa grande e conversavam ali. Lembro de Henrique Drews, Mario Jung, Eugênio Zimmer, Nelson Kickhoefel, a maioria dos prefeitos de antigamente vinham aqui. Motoristas dos ônibus que vinham de outras cidades e até outros estados paravam no restaurante e almoçavam ou jantavam ali”, relembra Raulino.

O Restaurante do Hotel Central Victor Kath também tinha um outro atrativo especial: a única televisão das redondezas em um local que recebia público. “Nos domingos, era como se fosse cinema, pois na época o restaurante tinha a única TV da região do Centro, então todos queriam se reunir ali para assistir. O sinal era de Curitiba, cheio de chuvisco, em preto e branco, mas todos adoravam. Eu sempre ia mexer na antena, seguindo orientação das pessoas até que captasse o sinal. Se vinha um vento mais forte, já saía do lugar e tínhamos que arrumar novamente”, comenta o filho do antigo proprietário do Hotel Central.

Ruth relembra que, aos sábados também era comum o Restaurante estar cheio, pois era moda que, após as cerimônias de casamento, alguns convidados e noivos passassem ali para beber alguma coisa, comprar licores e balas, para depois seguirem para o salão a fim de receber os convidados.

Foto: Divulgação

 

No mesmo prédio do Hotel Central Victor Kath ficava também o Cine Mogk, o único cinema de Pomerode, o que também atraia muitos clientes e visitantes para o Hotel e Restaurante, além de ser um passatempo também para a família. “Aos fins de semana, lembro que a fila do Cine Mogk dobrava a esquina. Nosso quarto ficava ao lado da sala das máquinas e nós escutávamos tudo. Quando tinha um filme de ‘bang bang’ nós não dormíamos (risos)”, recorda Ruth.

Rogério Victor, o filho do casal foi criado no Hotel e relembra com carinho das aventuras junto de um grupo de amigos. “Brincávamos juntos nos corredores, nos reuníamos para comer aqui e depois seguir em nossas aventuras pelas redondezas. Temos memórias muito especiais”, conta Rogério.

O Hotel, Bar e Restaurante Central Victor Kath foi vendido no ano de 1983, após 20 anos de funcionamento. “Depois que vendemos o hotel, formos morar em outra casa, passei a trabalhar na Prefeitura, com Eugênio Zimmer, no turismo, depois passei por vários setores, em outras gestões. Trabalhei na prefeitura até 2001, quando me aposentei, com a prefeita Magrit Krueger. Mas muitas memórias ficaram e, até hoje, temos alguns móveis e objetos que eram usados nele. É uma lembrança de carinho e orgulho pelos bons anos que passamos nele”, finaliza Raulino.

O prédio que existe atualmente no local, na esquina da Rua Luiz Abry com a Rua Paulo Zimmermann não é o mesmo do antigo Hotel Central Victor Kath, mas a lembrança segue viva na memória de quem o conheceu e admirou.

Notícias relacionadas