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O dia em que Pomerode foi invadida pelo rio

Nesta semana, enchente que ficou marcada na história dos pomerodenses, completa 10 anos

13 de março de 2021

11 de março de 2011. Nesta data, o Japão enfrentava o maior terremoto já registrado no país, ocasionando um grande tsunami, além do acidente nuclear em Fukushima, cidade localizada no nordeste japonês. 

E, exatamente neste dia, a fúria da água também mostrou a sua força em Pomerode. Há 10 anos, o município sofria a pior catástrofe natural de sua história, deixando grande parte da cidade ilhada, por conta da invasão do Rio do Testo, tanto nas ruas, quanto em residências.

Para se ter uma ideia, segundo os arquivos do Jornal de Pomerode, que fez uma ampla cobertura sobre a grande enchente pomerodense, naquela quinta-feira, das 18h e 20h de quinta-feira, choveu 144 milímetros, quantidade estava prevista para todo o mês de março, daquele ano.

 

Cerca de 80% da cidade teve prejuízos por conta da invasão da água ou com deslizamentos. Quando o sol raiou, na manhã do dia seguinte, o que se via pela cidade era quase um cenário de guerra. A lama tomou conta das ruas e a correnteza do rio espalhou a sujeira dos galhos das árvores que acabaram caindo por conta da força da água. O que se mais via, no dia seguinte, além de todos os resíduos que ficaram espacejados pelas ruas da cidade, eram os móveis revirados, eletrodomésticos que sofreram danos, cercas e paredes que deixavam rastros bem claros da altura que a água do Rio do Testo chegou. 

Logo pela manhã, a Prefeitura decretou situação de emergência e teve o reconhecimento do Estado de Santa Catarina. Cerca de 40 pontes e pontilhões foram vistoriados e constatadas situações de risco em algumas estruturas e muitas tiveram que ser reconstruídas.

 

10 anos depois da grande enchente em Pomerode, separamos algumas histórias de quem viu de perto todo aquele momento angustiante, na noite de 11 de março de 2011. Dona Dircéia Pereira, que teve seu registro marcado na história na edição do Jornal de Pomerode, estava atravessando a rua Paulo Zimmermann, no Centro de Pomerode, com a água batendo na região da cintura. Ela conta que estava ali, naquele momento, após verificar a situação do comércio em que trabalhava, localizado na Rua Vila Nova, que já começava a registrar a entrada da água da enchente.

 

“Havíamos nos deslocado de casa, para ‘socorrer’ nosso comércio, que estava cheio de água. Quando percebemos que o rio não parava de subir, resolvemos abandonar e tentar voltar para a minha casa, que fica localizada na Rua Jerusalém. Quando chegamos na Rua Paulo Zimmermann, tivemos a noção do que tinha acontecido. Na caixa econômica, haviam vidros quebrados, lojas tomadas pela água, realmente uma cena impressionante. Ficamos sem ação, não sabíamos o que fazer e só queríamos chegar em casa. Tinha muitas pessoas também tentando atravessar e, diante do cansaço que estávamos, resolvemos no arriscar e fomos em frente, pois meu pai, idoso, havia ficado em casa sozinho”, relata.

Dircéia também explica que as cenas daquele dia 11 de março foram difíceis de superar, por conta de toda a carga emocional de ver a cidade de baixo d’água.
“Sou nascida em Pomerode e nunca tinha visto parecido na cidade. Sinceramente, eu diria que, além das perdas materiais, o que mais pesou foram as dores emocionais que sofremos. No dia seguinte, fiquei sabendo que 80% da cidade havia sido atingida e percebi que fazia parte desta porcentagem. Por muito tempo, demorei para superar todas aquelas cenas, pois foram momentos tensos e tristes, pois vimos, diante dos nossos olhos, uma destruição”, acrescenta.

O bombeiro voluntário Lucas Loures Alichandre, estava de serviço naquela noite do dia 11 de março. Ele também falou sobre a experiência que viveu naquela data.
“Fomos acionados para uma ocorrência de queda de barreira, no Alto da Serra e ali tomamos um pouco de conhecimento do que estava acontecendo e do que estava por vir. Quando estávamos no deslocamento, percebemos que a chuva aumentava ainda mais e que algumas ruas já estavam alagadas. Quando estávamos na praça, próxima à antiga Malwee, percebemos que ali já não tinha como passar e então, fomos por Testo Alto para chegar até lá. E, passando pela Ernesto Blank, algumas pessoas pediram para a gente parar o caminhão e ajudar uma senhora que havia se machucado e se encontrava em sua residência, pois um móvel acabou caindo sobre ela, já que a família estava retirando os mesmos por causa da água que invadiu a moradia. A partir daí, começamos a atuar em vários pontos da cidade, onde o caminhão conseguia passar. A gente via muitas casas tomadas pela água, pessoas nas ruas sem saber o que fazer e ainda sem entender o que estava se passando”, relata. 

Indo um pouco para a região sul da cidade, mais precisamente na Rua dos Atiradores, ainda na parte central do município, Célio Utech, morador da região, também relatou os momentos vividos naquela noite e também no dia seguinte. Utech, felizmente, não teve a sua casa atingida pela grande enchente, porém, familiares e amigos sofreram com a invasão da água, dentro de suas residências. Ele, então, resolveu ajudar essas pessoas.

 

“Na minha casa, graças a Deus, não fomos atingidos, mas, logo pela manhã, resolvi ajudar os meus familiares e amigos que tiveram suas casas atingidas pela enchente. Também ajudei o meu genro a tirar os cavalos que ele cuidava, já que estavam ilhados no pasto. Naquela hora, tinha cerca de 10 cavalos. Até tem uma foto, que vocês do Jornal tiraram na época, desse momento da retirada desses animais. Todo mundo perdeu, naquela enchente. Olhando, aqui de cima, dava para ver o estrago todo”, comenta o aposentado.

Utech também falou sobre os estragos causados pela chuva que impactaram diretamente o clube Águia Verde. Essa parte da história, você confere na nossa editoria de Esportes, que irá abordar os impactos causados pela grande enchente, no ramo esportivo de Pomerode. 

Retornando ao norte da cidade, um dos locais que também sofreu grandes prejuízos, foi a empresa de transporte coletivo Volkmann. De acordo com o diretor, Peter Volkmann, nunca na história da empresa, havia sido registrado uma ocorrência desta magnitude. A água do rio, que invadiu a sede da Volkmann, chegou a quase dois metros. O estrago impactou tanto a estrutura do local, que teve que passar por reformas em anos seguintes, além das peças, ferramentas e até mesmo ônibus que sofreram danos com a enxurrada.

Retornando ao Centro da cidade, outro local que sofreu com a invasão da água em suas estruturas, foi a sede do Corpo de Bombeiros Voluntários de Pomerode. De acordo com Marcos Krahn, bombeiro voluntário, que também estava de serviço na quinta e sexta, ver a destruição da corporação foi algo marcante na memória. 
“Praticamente, 1,70m de água entrou na sede dos bombeiros. Tivemos várias perdas de equipamentos e até viaturas, sendo uma cena muito marcante, um momento de tristeza, em ver nossa corporação naquela situação. Mas logo começamos a limpeza e começamos a reconstrução. Muitos bombeiros se envolveram, a comunidade também nos ajudou com doações, empresários que também nos auxiliaram e os bombeiros de Indaial, Blumenau e Timbó, que nos auxiliaram nestes dias”, explica. 

E, depois de tudo isso, a força do povo pomerodense entrou em ação. Com o passar dos dias, a cidade voltava a sua normalidade e começou a se transformar novamente na pequena Alemanha que todos nós conhecemos, com suas flores nos canteiros, espalhados pela cidade e a beleza que Pomerode proporciona aos seus moradores e aos que chegam até o município para conhecer um pouco mais da “Cidade mais alemã do Brasil”.

 

 

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