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O amor de pai e filho, a mais de 12 mil quilômetros de distância

No mês dos pais, contamos a história de Douglas e Jairo Roeder, que relatam a experiência de estarem a 12.679 km de distância um do outro

18 de agosto de 2023

Foto: Arquivo pessoal

A relação entre um pai e um filho é sempre especial, mas quando associada ao trabalho, pode ficar ainda mais próxima. Porém, quando a distância física surge no dia a dia, é um desafio manter o coração tranquilo e evitar a saudade.

Este é um pequeno resumo inicial da relação entre Jairo Marcio Roeder, 64 anos, e seu filho, Douglas Rafael Roeder, 43 anos. Em agosto de 2000, Douglas e o pai criaram a CDR Informática e passaram a gerir o negócio juntos, conforme relata Jairo. “O Douglas foi o idealizador da CDR Informática e, além de filho, ele era meu braço direito em tudo, companheiro e confidente”, comenta.

No entanto, em setembro de 2009 a relação mudou com a mudança de Douglas para São Paulo, onde residiu por cinco anos, em busca de novas oportunidades profissionais. E depois, em 2014, houve uma nova mudança, para o outro lado do mundo, literalmente, já que Douglas foi morar na Austrália.

Jairo comenta que, no início, a decisão de Douglas de se mudar para longe foi algo surpreendente. “A sua decisão de procurar seu crescimento pessoal e profissional, de início, me abalou, mas em nenhum momento deixei de apoiar e incentivar seus anseios”, garante.

Douglas também comenta que a relação sempre foi muito boa e que ter a distância física fortaleceu a relação, de certa forma.

“Nossa relação era bem legal, sempre admirei tudo o que ele fazia, desde jovem segui seus passos e acabamos fundando uma empresa e trabalhamos juntos por muitos anos. Fora o trabalho, sempre compartilhamos gostos similares por filmes e hobbies, acho que também o fator da distância e poucas oportunidades de encontro acabaram fortalecendo a nossa relação, aproveitamos com muito mais intensidade o pouco tempo que temos juntos”, destaca Douglas.

 

Contato à distância e alegria nos reencontros

Atualmente, para controlar a saudade e colocar as novidades em dia, Jairo e Douglas se comunicam por vídeo-chamadas, pelo menos uma vez por semana, sempre aos sábados ou domingos, já que a diferença de fuso horário é de mais de 11 horas. Geralmente, Douglas entra em contato com a família sábado pela manhã (na Austrália), o que corresponde a sexta-feira à noite no Brasil.

“Para mantermos o papo em dia também temos um canal da família no WhatsApp, que é o canal que utilizamos para compartilhar fotos, novidades e fofocas”, complementa Douglas.

Quanto às visitas presenciais, em nove anos nos quais Douglas mora na Austrália, houve três encontros presenciais, sendo duas viagens ao Brasil e uma visita dos pais dele à Austrália.

Com a pandemia, houve um longo intervalo entre as viagens, o que acabou atrapalhando os planos, mas a ideia da família é se encontrar pelo menos uma vez ao ano, o que ainda é muito pouco, segundo Douglas.

O que também complica os encontros presenciais, para a família são a longa viagem e, na melhor escala, leva em torno de 24 horas e os valores de passagem não são dos mais atrativos.

O último encontro presencial de Douglas com Jairo, foi em maio do ano passado, quando a Austrália liberou a saída de pessoas do país e ele pôde planejar o reencontro, após cinco anos seguidos sem se verem pessoalmente.

Foto: Arquivo pessoal

 

“Foi muito épico, eles sabiam a data da nossa chegada, mas adulteramos as fotos da passagem com datas erradas e chegamos dias antes. Planejamos tudo com minha irmã, que inventou uma desculpa para sair de casa e nos buscar no aeroporto, no caminho de volta compramos pizzas da Tarthurel (as pizzas nem se comparam com o estilo brasileiro), e aparecemos de surpresa, um momento bem legal e emocionante para nós, com muitas lágrimas rolando”, relembra Douglas.

“Agora irei, em agosto, visitá-lo em Melbourne, cidade atual onde se encontra. Sempre é bom dar aquele enorme abraço apertado, minimizar um pouco a saudade, a falta que faz, aliviar o coração apertado”, completa Jairo.
Ainda, Douglas comenta que o fato de morar tão longe provoca mudanças na mentalidade de quem vive esta experiência.

“Acho que viver longe da família e seu país acaba fazendo com que você dê muito mais valor a coisas simples, como tomar um simples café da tarde com seus pais no fim de semana, sentir falta da culinária brasileira que antes você nem gostava tanto assim, etc. Na Austrália, 30% da população é composta de estrangeiros, onde a maioria provavelmente vive separado de sua família ou parte dela, muitas propagandas acabam tendo esse apelo emocional por aqui”, explica.

 

Lidando com a saudade

Falando sobre o início desta mudança, quando a distância começa a se fazer presente, Douglas admite que as primeiras semanas são mais fáceis, pois as novidades causam animação e euforia, principalmente pensando em um novo país, com idioma, cultura e tudo diferente.

“Entre o 2º e 3º mês, os sentimentos começaram a mudar e a ideia de que aquilo não seriam apenas férias estendidas se torna real. Acredito que a nossa experiência morando em São Paulo nos preparou um pouco (e aos meus pais também) para o que estava por vir. Eu visitava meus pais uma vez a cada três meses, então já estava acostumado com esse sentimento, mas era mais simples, apenas 600 quilômetros separavam a gente”, explica.

O pai afirma que, quanto à saudade, é quase impossível não sentir, mas que com a tecnologia fica mais fácil amenizá-la. Além disso, existe a preocupação natural de um pai com seu filho. “Sinto a falta de ele estar ao meu lado, mas o desafio dele com certeza tem sido muito maior que o meu. Morando em terras estranhas, numa língua diferente da portuguesa e tendo a opção de vencer ou vencer. Mas se não desse certo ele sabia que sempre poderia voltar e contar comigo para o que quiser que fosse. Quanto à preocupação, sempre vai existir e se algo inesperado acontecer, tanto eu quanto ele sabemos que não há tempo hábil para uma última despedida, é no outro lado do mundo. De resto, tudo tem solução”, frisa.

No entanto, mesmo com todo o peso da saudade e da distância, o orgulho pelas conquistas de Douglas é muito maior, segundo Jairo.

“Qual pai não teria este sentimento? Mas resumindo, me sinto realizado com o sucesso e realização dele, que foram por empenho próprio, visão de programador, empreendedor e com muita garra. Gostaria de agradecer a Deus, não só por ter me permitido ser o pai dele, mas também por estar cuidando dele e ter permitido seu crescimento, não só pessoal, mas também profissional e social”, enaltece Jairo.

Para Douglas, o sentimento trazido pela distância da família é conflitante, mas faz os pequenos momentos juntos serem ainda mais intensos e valiosos.

“É um sentimento estranho, por um lado você está feliz pelas oportunidades e a realização profissional, pelo outro você vive analisando se estas escolhas e decisões de ficar tão distante das pessoas que você ama valem a pena, tudo passa tão rápido e sinto que posso estar perdendo um tempo valioso. Em relação a saudades, com certeza, acredito que a mente acaba camuflando a saudade para tornar tudo mais suportável”, finaliza.

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