Especiais

Na empolgação da juventude, a beleza da tradição

Jovens tocadoras de Bandoneon falam sobre o gosto pelo instrumento tão tradicional da cultura germânica

29 de outubro de 2023

Foto: Isadora Brehmer / JP

Um instrumento que tem a cara da cultura germânica, já possui os adeptos na nova geração. Inclusive, entre as meninas, o Bandoneon vem ganhando espaço no coração das tocadoras, com alguns talentos recebendo notoriedade em Pomerode.

Uma delas é Anna Letícia Schulze, de 17 anos, que vem se destacando em eventos e estabelecimentos da cidade pelo talento e pela felicidade em poder tocar o Bandoneon.

Sua vontade de aprender a lidar com o instrumento veio ainda na infância, graças ao avô, Teobaldo Schulze. “Desde pequena eu ia na casa do meu Opa e ficava ao lado dele, ouvindo-o tocar, acompanhando, no ritmo da música. E sempre dizia para a minha mãe que queria aprender a tocar Bandoneon um dia, mas não tinha nenhum lugar em que houvesse aula. Até que um dia, na escola onde eu estava, comentaram sobre aulas de Bandoneon e, assim que eu cheguei em casa, comecei a insistir que gostaria de começar nas aulas. Então, com 11 anos eu comecei a aprender, de fato, a tocar Bandoneon”, relata Anna Letícia.

A jovem admite que, no início, foi difícil aprender, mas que aos poucos começava a entender melhor o ritmo e a ganhar prática na hora de tocar o instrumento. Atualmente, Anna Letícia tem duas aulas por semana, uma em Pomerode e a outra em Joinville, além de praticar diariamente em casa.

Mesmo lidando com um instrumento não tão comum quanto o violão, teclado ou guitarra, Anna comenta que recebeu apoio e incentivo dos amigos, que sempre estavam na “bagunça” com ela, tocando Bandoneon e cantando.

Além disso, o instrumento lhe proporcionou experiências únicas. “Eu entrei em um Grupo Folclórico, como convidada, e tive a oportunidade de ir para a Europa com eles, tocando Bandoneon, foi uma experiência super especial. Também toco desde 2018 na Festa Pomerana, ano passado no Biergarten, nos outros anos no encontro de Bandoneon. É muito gratificante ter este contato com o público, principalmente com quem é de fora, pois eles acham muito diferente e ver esta curiosidade, esta emoção, é muito gratificante para mim”, destaca a jovem.

E o avô continua presente no dia a dia de Anna, mesmo após o seu falecimento, em 2016. Isso porque o Bandoneon que era do Sr. Teobaldo foi a herança deixada por ele para a neta.

“Este Bandoneon, que foi do meu avô, é o meu favorito. Ele sempre sonhou em me ver tocando o mesmo instrumento que ele, mas infelizmente, faleceu uma semana antes da minha primeira apresentação, que inclusive seria ao lado dele. Me emocionei muito naquele dia, mas foi uma honra poder ter homenageado o seu legado, que quero levar adiante por muito mais tempo, ainda”, comenta Anna.

Anna Letícia Schulze, com o Bandoneon de seu avô. (Foto: Isadora Brehmer / JP)

 

A mãe de Anna, Terezinha Mareco, afirma que o sentimento é de completo orgulho pela trajetória da filha até aqui. “Para nós é muito gratificante, ver que um pedido dela está se tornando algo tão grande, além de ser a realização do sonho do avô dela, que sempre quis que ela viajasse o mundo tocando Bandoneon”.

A jovem também garante que tem o desejo de incentivar outras pessoas a adotarem o instrumento. “Meu objetivo é poder incentivar outras pessoas, para não deixar esta cultura morrer, porque é maravilhoso, e tenho amigos que fiz graças ao Bandoneon, em Pomerode e em Joinville”.

Incentivo que já acontece

Assim como é o seu desejo, Anna já consegue estimular outras pessoas a começarem a aprender a tocar Bandoneon. Uma delas é Sofia Nalu Jandre, que decidiu aprender o instrumento depois de ter conhecido Anna Letícia.

“Vi ela em uma apresentação na Festa de Natal e, desde lá, passei a gostar muito do instrumento, do som que ele é capaz de produzir. No ano seguinte já toquei com ela na Weihnachtsfest, o que motivou ainda mais a continuar. Inclusive, o Bandoneon que tenho hoje era da Anna”, conta Sofia.

O início das aulas para Sofia foi em 2020, mas logo depois veio a pandemia, o que tornou o estudo um pouco difícil. No entanto, nem mesmo esta dificuldade foi um obstáculo para a sua vontade.

Sofia Nalu Jandre. (Foto: Raphael Carrasco / JP)

 

“Meus pais são músicos e também me inspirei em outras meninas, a Júlia, a Maitê e a Anna Letícia, claro, para começar a tocar Bandoneon. No início meu pai quis que eu aprendesse a Gaita, mas eu sempre quis Bandoneon. Sabia que era bem desafiador, mas insisti muito até que fui colocada na aula. Preciso ainda treinar mais, estudar bastante, mas já percebi que músicas que tentei tocar ano passado e não conseguia, hoje já consigo tocar, o que me deixa muito feliz”, afirma Sofia.

As aulas para a jovem são realizadas uma vez por semana e têm duração de cerca de uma hora. Além disso, Sofia pratica diariamente em casa. Uma de suas primeiras experiências tocando em público foi durante um Encontro de Tocadores de Bandoneon e Sofia admite ter ficado muito nervosa.

“Foi uma experiência muito legal ter tocado no Encontro de Bandoneon, porque você conhece muitos tocadores, mas admito que fiquei nervosa, pois foi a primeira com um público maior. Tinha muito medo de errar e como o Bandoneon fica conectado à caixa de som, todos ouviriam se eu errasse (risos). Hoje já fico mais tranquila e me apresento sozinha, como na Caminhada da Rota do Enxaimel, por exemplo”.

Atualmente, já com certa vivência com o Bandoneon, Sofia busca evoluir cada vez mais, para conseguir executar músicas mais complexas, de estilos como Xote e Baião.

Rodrigo Kienen é professor de Anna Letícia e Sofia, e comenta sobre o aumento da procura dos jovens pelo conhecimento acerca do Bandoneon.

Anna Letícia Schulze e o professor, Rodrigo. (Foto: Isadora Brehmer / JP)

 

“É muito satisfatório perceber este interesse, pois quando eu comecei a aprender, há cerca de 20 anos, não havia muitos jovens interessados no instrumento. Mas de uns 10 anos para cá esta procura aumentou. Quando eu aprendi era visto somente como um instrumento apenas para tocar músicas germânicas, não era muito atrativo e conforme fui aprendendo, percebi que poderia ser qualquer tipo de música, e isso também chamou os mais jovens”, afirma.

O professor tem cerca de 30 alunos de Pomerode e também comenta que a procura das meninas pelo saber do instrumento cresceu. Hoje, são cinco alunas em Pomerode que fazem as aulas. E para Rodrigo, ver todos eles evoluindo e conquistando admiração é gratificante.

“É muito bom ver o crescimento de todos na música, é um orgulho imenso em vê-los se desenvolvendo, e também ver a procura por algo que faz parte da nossa tradição crescendo”, finaliza.

 

Notícias relacionadas