Na beleza do vidro, memórias mágicas da produção de enfeites de Natal
Família de Lourival Sabin mantém exemplares e memórias da Marlou Indústria de Enfeites Ltda, que já foi a maior produtora de SC
Filhos de Lourival, os irmãos, Sonia, Albert e Rosa, mantém alguns exemplares de enfeites produzidos pela fábrica. (Foto: Isadora Brehmer / JP)
O sentimento de nostalgia sempre aflora na família de Lourival Sabin, falecido dono da Marlou Indústria de Enfeites Ltda. Mesmo que a fábrica não exista mais, os filhos do antigo proprietário, Albert Sabin, Sonia Maria Sabin Schroeder e Rosa Maria Sabin Wachholz, ainda mantém viva a memória dos tempos áureos da fábrica de enfeites de vidro, inclusive com relíquias guardadas como tesouro pela família.
A história da Marlou Indústria de Enfeites Ltda começou em 1976, quando Lourival comprou uma fábrica de enfeites de Natal do Sr. Otwin Ittner. “Nosso pai tinha uma oficina mecânica nos fundos de um posto de gasolina, no Centro e, depois de comprar a fábrica, ele passou a tocar a produção no local onde era a oficina. No ano de 1987 nós viemos para este galpão aqui na Rua Presidente Costa e Silva, continuando com a produção de enfeites de Natal de vidro”, contam os filhos.
Rosa, Sonia e Albert contam que a produção era grande, com muitas bolas vidro sendo produzidas. As bolas de vidro eram feitas com lâmpadas fluorescentes, que eram encaixadas no maçarico e moldadas com sopro, pois não existiam formas para fazer os enfeites.
Com o passar dos anos, a produção da Marlou Indústria de Enfeites Ltda foi crescendo, até se tornar a maior produtora de enfeites de Natal do Estado de Santa Catarina. “Houve uma época em que chegávamos a produzir cerca de 30 mil dúzias de bolas de vidro. No mês de junho já começávamos a fazer hora-extra, pois já tínhamos toda a produção prevista vendida. Nossos produtos iam para o estado todo, para o Rio Grande do Sul, Paraná e alguns outros estados. O auge da empresa foi durante a década de 80. Vinham várias carretas estacionar e carregar aqui, inclusive de algumas empresas”, contam os irmãos.
Em sua “época de ouro”, a Marlou Indústria de Enfeites Ltda produzia, além dos enfeites de vidro, árvores de Natal, guirlandas e castiçais de vela.
Para a produção dos enfeites de vidro, segundo os filhos de Lourival Sabin, o processo era considerado artesanal, com mão-de-obra que poderia ser considerada especializada.
“Uma pessoa deveria limpar a lâmpada fluorescente, tirar o pó de dentro dela, depois outra pessoa deveria lavá-la e, então ela ia para um tambor. Próximo dele, estavam as pessoas que moldavam o enfeite de vidro, com o maçarico. Depois, o enfeite ia para a espelhação, onde recebia o ‘banho’ de nitrato de prata. Então o próximo passo era o descanso, para que depois o enfeite fosse para a pintura e, após, para a estufa, para a secagem. Por fim, era necessária fazer a marcação, onde seria o corte, para depois ser colocada a tampa do enfeite, onde ficaria preso o gancho ou cordão para que o enfeite fosse colocado na árvore. Em resumo, era um processo que exigia a participação de muitas pessoas”, relembram.
Segundo os filhos de Lourival Sabin, uma das irmãs dele, que é a única tia ainda viva, por parte de pai, era uma das “artistas” que fazia os detalhes em alguns enfeites, pois era a única que acertava alguns dos detalhes necessários para a confecção do enfeite.
Abertura para a importação iniciou o declínio
A Marlou Indústria de Enfeites Ltda manteve-se com boa saúde financeira até por volta dos anos 1993 e 1994, quando começaram a chegar os produtos de importação no mercado.
A possibilidade de importação trouxe os enfeites de Natal de plástico, que tinham um preço inferior em relação aos enfeites de vidro, devido à produção mais artesanal das decorações de vidro. “Enquanto a bola de vidro era feita praticamente toda manualmente, a bola de plástico era feita em injetoras, o que barateava o processo de produção e, por consequência, o preço final. Em 1994, nosso pai decidiu diminuir o quadro de funcionários. De cerca de 30 funcionários, ficaram apenas oito, ficando mais com a família. Continuamos por mais um tempo, mas depois abrimos a loja Marlou, já que a competição no mercado de enfeites de Natal não era mais ‘justa’, por assim dizer.
Nosso pai até comprou uma injetora, investiu nisso para produzir alguns enfeites de plástico, também. Mas como o processo não era o mesmo, ele acabou perdendo o gosto pela produção dos enfeites de Natal”.
Mesmo que a fábrica e a produção de enfeites de Natal de vidro não exista mais, as memórias deste tempo de alegria e magia seguem vivas para a família Sabin, que guarda uma coleção de alguns dos enfeites produzidos pela empresa, antigamente.
Além disso, a cada vez que ficam sabendo de outras pessoas que guardam com carinho os enfeites da fábrica, os filhos de Lourival comentam que o sentimento é de muita alegria.
“É sempre uma emoção muito grande, pois foi um resumo da nossa infância, era a nossa vida. Por exemplo, há algum tempo, um advogado de Florianópolis entrou em contato com a tia dele, para que ela viesse aqui para perguntar se ainda tínhamos enfeites de vidro, pois ele queria fazer uma árvore de Natal para o filho, como era na infância dele. Isso é muito gratificante e traz um sentimento de saudade daquela época. Até poucos anos, nós ainda fazíamos as nossas árvores de Natal apenas com bolas de vidro, até porque nosso pai não admitia que fizéssemos com enfeites de plástico”, relembram.
Na propriedade da família, em Testo Alto, também havia os pinheiros naturais, parte da tradição familiar dos Sabin. Inclusive, Lourival costumava doar alguns pinheiros, na época do Natal, como por exemplo para a igreja e até para a Prefeitura, na época do Prefeito Eugênio Zimmer.
“Uma coisa que também nos enche de alegria é receber as fotos de um amigo da Alemanha, chamado Cristian Krause, que nos manda todos os anos uma foto da sua árvore de Natal, feita com nossos enfeites, que foram dados pelo nosso pai e que ele guarda até hoje”, contam.
Com diversas memórias e sorrisos nostálgicos de uma época repleta de magia, os irmãos mostraram as fotos guardadas em quadros, dos estandes montados na Festa Pomerana, desde a primeira edição. No espaço, a beleza dos enfeites de vidro ficava em evidência e, inclusive, chamou a atenção do Ministro de Estado do Trabalho, Almir Pazianotto Pinto, que visitou a Festa Pomerana em 1987.
“O ministro visitou o nosso estande e, depois, já em Brasília, escreveu uma carta ao nosso pai, relatando o quanto havia se sentido honrado em ter visitado o espaço e que não esqueceria aquele momento, pois nossas decorações o lembravam da sua infância, vivida no interior, quando seus pais e avós montavam a árvore de Natal com enfeites de vidro. Tudo isso, todas estas memórias, nos enchem de orgulho”.
Hoje, a família ainda guarda alguns enfeites que foram produzidos pela Marlou Indústria de Enfeites Ltda, que já decoraram algumas árvores de Natal, naturais, na propriedade da família.
Muito bem guardados, os enfeites são relíquias, mantidos como tesouros e que, desta forma, mantém viva a memória da empresa que foi a principal produtora de enfeites de Natal do Estado, em seus tempos de ouro.