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Membro de grupo que planejou golpe na Alemanha tem empresa em Pomerode

Endereço da Acera Consultores Independentes Ltda está registrado na Avenida 21 de Janeiro. Residência já esteve em nome de sócio do suspeito, preso na semana passada

12 de dezembro de 2022

Foto: Boris Roessler/picture alliance/dpa

Cerca de três mil policiais militares participaram de uma operação contra um grupo terrorista que planejava derrubar o Estado alemão com um golpe armado. A ação ocorreu na semana passada e, dentre as 25 pessoas presas, o alemão Rüdiger Wilfred Hans Von Pescatore, hoje com 69 anos, que foi comandante do batalhão de paraquedistas 251 entre os anos de 1993 e 1996, e, posteriormente, ajudou a formar o KSK (Comando de Forças Especiais). Ele teria sido expulso do exército devido à venda não autorizada de armas dos estoques do antigo exército da Alemanha Oriental.

No Brasil, seu nome consta como sócio de duas empresas. Em Pomerode, a Acera, uma consultoria em gestão empresarial, com endereço registrado na Avenida 21 de Janeiro, 2050. A residência esteve em propriedade de seu sócio até julho de 2020, quando foi vendida. O atual proprietário não possui registro de locação do espaço nos dias atuais. A empresa, aberta em 2006, segue com registro ativo.

Foto: Jornal de Pomerode

Segundo apuração do Jornal de Pomerode com moradores na região, a casa está fechada há um bom tempo e não há informação sobre movimentações que possam ser comerciais e nem de moradores no local.

Em Blumenau, a empresa com atuação na área de energias renováveis, aberta em 2016, também continua em funcionamento.

Segundo informações da imprensa alemã, Rüdiger costuma passar parte do seu tempo no Brasil, mas foi preso em Freiburgo, no sul da Alemanha, onde mora sua filha.

Em 2019, numa página de um agitador de ultradireita alemão, alguém se identificando com o nome de Rüdiger von P., deixou uma mensagem pedindo a eliminação de “maçons” e afirmando “a verdade só estará acessível à humanidade após a mudança do sistema”. Finalizou afirmando “saudações do Brasil”.

 

A operação

Os cerca de três mil policiais militares realizaram a série de operações na Alemanha na quarta-feira, dia 07 de dezembro. Segundo informações do canal alemão Deutsche Welle, as buscas ocorreram em 130 casas, apartamentos e escritórios em 11 dos 16 estados da Alemanha, com o objetivo de coibir apoiadores do movimento de extrema direita Reichsbürger (“Cidadãos do Império Alemão”, em tradução literal). Os membros do grupo rejeitam a Constituição alemã do pós-guerra e pedem a queda do governo.

O ministro da Justiça, Marco Buschmann, descreveu as buscas como uma “operação antiterrorista”, acrescentando que os suspeitos podem ter planejado um ataque armado contra instituições do Estado.

De acordo com as autoridades alemãs, além dos 22 cidadãos alemães detidos sob suspeita de “filiação a uma organização terrorista”, três outras pessoas, incluindo um cidadão russo, são suspeitas de apoiar a organização.

Juntamente com as detenções na Alemanha, os promotores disseram que uma pessoa foi detida na cidade austríaca de Kitzbuehel e outra na cidade italiana de Perugia.

Investigadores suspeitam que membros do grupo tinham planos concretos para invadir a sede do Parlamento alemão em Berlim com um pequeno grupo armado, afirmou a promotoria.

Ainda segundo a promotoria, o grupo foi formado no ano passado e operava sob a convicção de que “a Alemanha é atualmente governada por membros de um chamado Estado profundo” que precisava ser derrubado. Os 25 presos são acusados de se preparar há um ano para tomar o poder e formar um governo, com nomeações já definidas para departamentos de Saúde, Justiça e Relações Exteriores.

 

“Príncipe”, ex-militar e juíza envolvidos

Os promotores alemães identificaram os líderes do grupo como Heinrich 13º P. R. e Rüdiger von P. A revista Der Spiegel relatou que o primeiro envolvido, de 71 anos, faz parte de uma pequena família nobre alemã, que exibe o título de “príncipe”. Rüdiger, como já mencionado, era ex-comandante de paraquedistas.

Outra pessoa detida foi identificada pelos promotores federais como Birgit M.-W. De acordo com a revista alemã, a mulher é juíza em Berlim e ex-parlamentar do partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD).

Promotores federais disseram que Heinrich 13º P. R. havia contatado autoridades russas com o objetivo de negociar uma nova ordem no país assim que o governo alemão fosse derrubado. Ele teria sido supostamente auxiliado por uma mulher russa, Vitalia B. No entanto, de acordo com as investigações, não há indicação de um retorno positivo por parte das pessoas contatadas.

Ainda de acordo com as autoridades alemãs, o complô previa que Heinrich 13º assumisse a liderança do Estado alemão caso o golpe fosse bem-sucedido, enquanto Rüdiger seria nomeado o chefe do braço militar.

O braço armado comandado por Rüdiger seria o responsável por um ataque armado ao prédio do Parlamento alemão. O trabalho de Rüdiger era, entre outras coisas, o recrutamento de membros, principalmente das Forças Armadas e da polícia. Ele teria recrutado vários soldados da ativa e da reserva, incluindo um membro do Comando das Forças Especiais.

Segundo a Promotoria, o grupo estava preparado para usar a violência para instalar a própria forma de governo. A polícia está investigando se os membros cometeram crime de traição.

 

 

Com informações do Correio Braziliense, Deutsche Welle e Der Spiegel

 

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