Saúde

Gravidez na adolescência: importância da informação

Ginecologista e obstetra, Dr. Paulo Pizzolatti fala sobre os riscos de uma gestação precoce e da importância da educação na prevenção destes casos

26 de março de 2023

Foto: Envato Elements

A gravidez na adolescência pode ser considerado um problema de saúde pública, mas também um problema social. E para auxiliar a evitar que casos de uma gestação precoce para uma adolescente, a informação é fundamental.

O ginecologista e obstetra Paulo Maurício Pizzolatti, explica que a adolescência é o período da vida que começa aos 10 e termina aos 19 anos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) conceitua como adolescentes os indivíduos com idade entre 12 e 18 anos. Portanto, gestações neste período são consideradas na adolescência.

O especialista também destaca que, quanto mais nova for a gestante, maiores são o risco e o impacto desta gestação. “A gestação pode mudar radicalmente a vida de uma jovem. Do ponto de vista obstétrico aumentam os riscos para anemia durante a gestação, Pré-Eclampsia, maior taxa de aborto espontâneo, além de a incidência de depressão ser quase o dobro das outras gestantes ou adolescentes não grávidas”, afirma.

Segundo o Dr. Paulo Pizzolatti, em uma gravidez na adolescência há o aumento de risco da mortalidade materna, sendo que este risco é ainda maior para as meninas com menos de 15 anos. “As complicações na gestação e no parto são as principais causas de morte. A falta e o início tardio do pré-natal também contribuem”, destaca.

Em relação aos dados de gravidez na adolescência, de acordo com o especialista, as taxas de gestação ainda são consideradas altas. 14% de todos os partos realizados em 2020 foram em mães de até 19 anos, o que corresponde a 380 mil partos.

Doutor Paulo Pizzolatti. (Foto: Arquivo pessoal)

 

O ginecologista e obstetra afirma que a educação é fundamental para contribuir com a diminuição destes índices. “Esta é uma responsabilidade coletiva, que precisa unir família, escolas e sociedade. Quando a adolescente tem acesso ao conhecimento, ela tem condições de prevenir, tanto a gestação quanto as IST (infecções sexualmente transmissíveis). É imprescindível abordar as mudanças desta fase da vida, caracterizada por alterações físicas, fisiológicas, psíquicas e sociais”, destaca.

 

Prevenção e apoio da família

Quando ocorre uma gestação, é a mãe quem enfrentará mais consequências, dos pontos de vista médico, biológico, social, psicológico e econômico, devido às mudanças físicas, psicológicas e sociais que a gravidez traz consigo. Por isso, quando a gestação é descoberta, o apoio do parceiro, da família e da própria sociedade são importantes para a boa evolução da gestação.

“Em relação à prevenção, hoje as formas mais seguras ainda são de domínio feminino. Mas o comportamento masculino também é importante na prevenção da gravidez e das IST. Está responsabilidade deve ser dos dois”, frisa.
Ainda falando sobre prevenção, o especialista comenta que o tema deve ser tratado também como pauta nas escolas, pois a educação é a forma de preparar os adolescentes para conhecerem seus corpos, suas mudanças, sobre os métodos contraceptivos e suas perspectivas de terem um futuro melhor, social e profissional.

 

Primeira consulta ao ginecologista

De acordo com o Dr. Paulo Pizzolatti, por ser um momento muito pessoal, a primeira consulta deve ser agendada dependendo da evolução da menina, que sempre ocorre de forma diferente para cada uma. “Normalmente, esta primeira consulta ocorre após a primeira Menstruação, ou quando surgiram algumas dúvidas ou sintomas que necessitem avaliação médica. Muitas mães trazem as meninas para o profissional ajudar na orientação da fisiologia e dos métodos contraceptivos, ou para perderem o medo do médico”, afirma.

 

Métodos contraceptivos mais indicados na adolescência

Primeiramente, segundo o ginecologista e obstetra, é muito importante que os adolescentes tenham acesso à educação sexual e contraceptiva, para criar a consciência de que a atividade sexual, embora prazerosa e um direito de todos, é uma atividade de riscos, de uma gravidez não planejada e de IST.

“Os tipos de anticoncepção devem ser analisados em conjunto com a adolescente, após uma explicação sucinta e com uma linguagem de fácil entendimento sobre os métodos contraceptivos, para decidirem o mais adequado”, comenta.

As opções são:

– Contraceptivos hormonais;
– Progestagênio isolado injetável;
– Contraceptivo hormonal combinado oral;
Há, ainda, os contraceptivos reversíveis de longa duração:
– DIU de cobre;
– DIU de cobre com núcleo de prata;
– DIU liberador de Levonogestres (Mirena, Kyleena);
– Implante de Etonorgestrel.

Além disso, há a barreira, que é o preservativo.

 

Casos difíceis para a medicina

Algumas ações equivocadas podem prejudicar o atendimento médico à gestante, principalmente na adolescência.

“O início tardio, seguimento irregular ou insuficiente do Pré-Natal, ou até não realizá-lo, contribui para o maior risco de eventos perinatais e maior mortalidade materna. As principais razões que explicam o atraso são: o desejo de esconder a gravidez, falta de conhecimento sobre a importância do Pré-Natal, história de violência sexual, medo do julgamento das pessoas e dos profissionais de saúde, vergonha, fata de apoio dos familiares e problemas socioeconômicos”, destaca o ginecologista e obstetra.

 

Gravidez na adolescência: riscos para os bebês

Além dos riscos para as gestantes, em caso de gravidez na adolescência, há riscos para os bebês, da mesma forma. Segundo o Dr. Paulo Pizzolatti, um bebê gerado na adolescência pode nascer com baixo peso ou subnutrido, nascer de forma prematura, adquirir uma IST, sofrer com uma possível indiferença da mãe, e ainda não receber leite materno.

“Por isso, a mensagem principal é alertar as jovens da importância de buscarem orientação sobre planejamento familiar, de lembrar da proteção das IST com o uso associado do preservativo. E, caso a gravidez aconteça, a orientação é que procurem atendimento médico para fazerem o Pré-Natal de forma correta. Não tenham medo ou vergonha, conversem com o parceiro e com a família. Procurem apoio, tenham hábitos saudáveis e uma boa alimentação”, finaliza o especialista.

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