Do departamento pessoal à produção, mais de 30 anos na Porcelana Schmidt
Na primeira de uma série de reportagens com pessoas que fizeram parte da história da Porcelana Schmidt, confira as memórias de Ademar Ramthun
Foto: Isadora Brehmer / JP
Uma empresa que virou um dos símbolos de Pomerode e que fez parte da história de milhares de pessoas, em nossa cidade. A Porcelana Schmidt, fundada em 1945 por obra dos fundadores Hans Herwig Schmidt, Hans Ernst Schmidt, Ailhen Krämer, Arthur Leopold Schmidt e Rodolph Pedro Schmidt, segundo a historiadora Angelina Wittmann. Na época, a Porcelana tornava-se a 3ª fábrica de cerâmica do Brasil.
Em 1948, a Família Schmidt admitiu novos acionistas e, com o novo quadro de entrada de capital, adquiriu as ações da Porcelana Real Ltda., de São Paulo. Em 02 de janeiro de 1954, foi fundada a Porcelana Steatita e, em 1956, a Porcelana Schmidt adquiriu o controle acionário da Cerâmica Brasileira de Campo Largo (PR), transformando-a, também, em fábrica de cerâmica, Porcelana Steatita.
Em 1972, as três empresas se fundiram, surgindo o Grupo Schmidt a partir de três cidades, em três estados distintos: Pomerode, Campo Largo (PR) e Mauá (SP). Neste período, a empresa chegou a produzir mais de um milhão de peças de porcelana por mês, a partir de uma estrutura de 60.000 m2 e com, aproximadamente, 1.500 funcionários.
Em seus anos de ouro, estes milhares de funcionários passaram pelos prédios e corredores da Porcelana Schmidt, gerando centenas de milhares de memórias e momentos.
Ademar Ramthun foi um dos colaboradores que passou pelo quadro de funcionários da Porcelana Schmidt. Sua história na empresa começou em 1972, quando fez um teste para começar a trabalhar na Porcelana Schmidt, visando uma vaga na então sessão pessoal, hoje chamada de Recursos Humanos.
“Eu passei no teste, mas não entrei pois no ano seguinte fui servir ao Exército. No então, após a minha baixa no dia 26 de dezembro de 1973, houve novamente a oportunidade de trabalhar na Porcelana Schmidt, pois foi aberta uma vaga na sessão pessoal, com a saída de um funcionário. Como eu havia feito o teste e passado nele, consegui o emprego. Comecei a trabalhar na empresa em 9 de janeiro de 1974, como auxiliar de departamento pessoal”, relembra.
A partir de então, Ademar e sua mãe iam todos os dias juntos para o trabalho, a pé, já que moravam na região central da cidade, próximo à Porcelana Schmidt. “Na época a empresa tinha 1.200 funcionários, e muitos iam para o trabalho de bicicleta, então a calçada do outro lado da rua, onde ficava o bar do senhor Mario Harmel, estava sempre cheia das bicicletas”, comenta Ramthun.
Como auxiliar de departamento pessoal, diariamente, Ademar era um dos responsáveis por coletar assinaturas, fazer arquivos, fazer lançamento de férias, atualizar fichas de serviços, e tudo o que se relaciona com a sessão pessoal.
“Me lembro muito bem, quando era época de férias de algum funcionário, era necessário buscar estas pessoas, então conheci praticamente todos os funcionários daquela época, ia até o local de trabalho deles colher a assinatura, e memorizávamos inclusive o número do registro de cada um. Também pude aprender mais o dialeto Platt, já sabia um pouco de casa, mas lá pude aprimorar, pois muitos falavam o dialeto Platt, na Porcelana Schmidt”, recorda.
Enquanto fazia o curso para contador, Ademar teve oportunidades de seguir sua carreira em outras empresas, mas optou por seguir na Porcelana Schmidt, pois havia a chance de evoluir na hierarquia da empresa, o que ocorreu em 06 de setembro de 1978, quando foi nomeado chefe da sessão pessoal, após fazer um teste.
Além de ter sido chefe do departamento pessoal, Ademar também exerceu a função de gerente administrativo, e, quando as três fábricas passaram por uma estruturação e foram unificadas na marca Porcelana Schmidt, em 1991, o ex-colaborador passou a ser gerente de produção.
Nesta função, Ademar passou ser responsável por todo o processo produtivo da fábrica, desde a entrada da matéria prima até a saída do produto. “Para ter este controle, criei um modelo, a sim de podermos saber de tudo o que estava em cada etapa do nosso processo produtivo. Para cada peça produzida na Porcelana Schmidt, eram necessários os processos de esponja, forno biscoito, aplicação de verniz, forno branco, classificação e transporte. Portanto, passamos a contabilizar quantas peças, de cada tipo produzido pela empresa, estava em cada etapa produtiva, para contarmos também as perdas que ocorriam durante o processo, a fim de termos um balanço interno mais preciso. Por isso, também sei de cor até hoje os códigos de cada uma das peças que produzíamos”, explica.
Ademar se aposentou da empresa em 18 de maio de 2007 e, segundo ele, um dos grandes desafios ao longo de sua trajetória na Porcelana Schmidt era justamente cumprir as funções do trabalho, devido ao grande número de funcionários que a Porcelana tinha, na época. Mesmo assim, sempre houve orgulho em ter feito parte de uma história tão rica, como a da Porcelana Schmidt em Pomerode, por mais de 30 anos.
“Na época em que eu comecei a trabalhar na empresa, as duas fábricas que mais empregavam em Pomerode eram a Porcelana Schmidt e a Indústria Weege. Quando comecei a trabalhar na Porcelana Schmidt, meu número de registro era 4.768, então até lá mais de 4 mil pessoas já haviam sido empregadas pela Porcelana. Muitas pessoas passaram pela empresa e eu fui uma delas, e, para mim, era como uma casa, nos sentíamos muito bem lá e aprendemos muito. No setor do departamento pessoa, tínhamos que ter muito respeito e paciência com todos, tendo ciência de que, ao assumir uma posição de liderança, precisava buscar sempre acertar, pois é modelo para os demais. E eu sempre busquei ser o mais correto possível, na minha época da Porcelana e depois em toda a minha vida, talvez não tenha agradado a todos, mas busquei sempre acertar em meu trabalho e minhas decisões, e posso dizer que fiz muitas amizades, ao longo destes anos”, pondera.
A criação da Associação da Porcelana Schmidt
Por ser um fã de esporte, principalmente do futebol, Ademar Ramthun também se dedicou a um outro marco importante para a Porcelana Schmidt, a criação da Associação dos Funcionários.
“Algumas vezes haviam competições esportivas entre os funcionários do grupo, contando as fábricas de Mauá e de Campo Largo. Quando íamos para estas cidades, eles nos recebiam em suas associações, então achei que deveríamos ter uma associação nossa, também. Reunimos algumas pessoas, afirmamos o quanto seria bom para os funcionários ter a associação, e assim começou o processo de construção dela. Tive liberdade e a confiança da gestão para procurar um terreno e, como 70% dos funcionários eram da região norte da cidade, escolhemos o terreno onde hoje é a Associação”, relembra.
O ex-funcionário aposentado auxiliou no processo de idealização da Associação e também no processo de construção dela, fazendo parte dos nomes que fundaram o grupo, graças à liderança criada na empresa e à confiança adquirida junto à diretoria, a partir de seu trabalho.