Descobrindo uma paixão, através da madeira

Mais do que um hobby, a tornearia é uma atividade que possibilita o surgimento de várias amizades, segundo os seus praticantes. E este é um dos objetivos do Encontro Nacional de Tornearia e Arte em Madeira, realizado em Pomerode há 10 anos.

O evento já se tornou uma tradição na cidade, que possui a Dreschlerschule, a única escola de tornearia em madeira do Brasil que preserva este estilo de trabalho. E, quem esteve presente em todas as edições é a artesã Rafaela Trapp, que fez parte da primeira turma formada pela Escola de Tornearia em Madeira, em Pomerode.

Ela conta que a vontade de aprender sobre a arte em madeira, com a técnica da tornearia, surgiu pelo desejo de confeccionar um quebra-nozes. “No ano em que os quebra-nozes foram anunciados para a decoração de Natal, os artesãos da cidade foram reunidos, porque foi dito que os quebra-nozes seriam torneados. Neste momento, a Sandra Greuel falou sobre o curso. Até então, eu nunca tinha visto um torno, não sabia como era feito, mas eu vi o boneco e coloquei na minha cabeça que eu faria um quebra-nozes”, afirma Rafaela.

Desde que foi anunciado que seria realizado o curso de tornearia, com a criação da escola, Rafaela entrava em contato com Sandra todos os meses, para saber quando iniciariam as aulas. Em agosto de 2012, quando foi aberta a turma, Rafaela logo se inscreveu para aprender a tornear, em madeira.

(Foto: Isadora Brehmer/ Jornal de Pomerode)

“Na primeira vez em que vi o torno, tive um pouco de medo, pois jamais tinha lidado com aquilo. Mas quando aprendi, passei a me encantar cada vez mais pela tornearia. A Sandra nos deu todas as orientações e nós começamos

aos poucos, aprendendo uma coisa de cada vez, com aulas bem completas. E desde então não parei mais, pois é muito gostoso trabalhar com a madeira, sentir o cheiro, ver a cor dela, é realmente apaixonante”, declara.

Rafaela também enaltece que uma das melhores partes é ver quando a ideia da peça sai do papel, deixa de ser um projeto para ser uma peça pronta. E, paralelamente ao aprendizado no início da escola, foi organizado o primeiro Encontro de Tornearia e Arte em Madeira.

Para a artesã, foi um desafio participar da organização do evento, ao mesmo tempo em que preparava as peças para serem expostas. Mas a recompensa veio, com a premiação de sua produção, no concurso de objetos torneados.

“Já era uma alegria poder mostrar as peças que conseguimos fazer, mas ser premiada foi inacreditável. Eu ainda não tinha tanta experiência para fazer peças, mas conseguir produzir uma que, ao nosso ver não era tão incrível, mas que outras pessoas acharam que era digna de ser premiada, é uma emoção. Desde então, tive cerca de cinco a seis peças que já foram premiadas no concurso”, afirma a artesã.

Primeiro objeto premiado de Rafaela. (Foto: Isadora Brehmer / Jornal de Pomerode)

E, como todo o artesão, Rafaela falou sobre uma das peças mais desafiadoras de serem feitas. Trata-se de um motoqueiro, feito inteiramente de madeira. Por ser formado por diversas peças menores e feito com base em uma foto, o trabalho foi mais difícil, de acordo com a artesã.

“A Sandra sempre esteve me ajudando nesta peça, porque ela foi um desafio. Além de ser formado por vários pequenos pedaços, eu tinha como base somente uma foto, então, as proporções, tamanhos, tudo foi sendo feito com cuidado e por tentativas. E todas as peças que a compõem são de madeira”, comenta Rafaela.

Por fim, a artesã destaca que a tornearia vai muito além do hobby em trabalhar com a madeira e dos desafios de criar uma peça. A atividade permite que novas amizades surjam, o que engrandece ainda mais a importância da arte em madeira, na cidade. “A tornearia não é só o torno em si, mas sim, todas as relações que você cria a partir dela. A Sandra, por exemplo, virou uma grande amiga, assim como outras amizades que fiz graças à tornearia. Os encontros acabam sendo uma ‘desculpa’ para rever os amigos e conversar e são as amizades que sempre nos motivam a participar”, enaltece.

A professora Sandra acabou se tornando uma grande amiga. (Foto: Isadora Brehmer / Jornal de Pomerode)

O 10º Encontro Nacional de Tornearia

Entre os dias 18 a 21 de agosto, Pomerode sediou o 10º Encontro Nacional de Tornearia e Arte em Madeira, no Centro Cultural. O evento retornou ao formato presencial, após a pandemia. Para a organização, feita pela Associação dos Artistas e Artesãos em Madeira (Amade), o encontro representou um momento de reencontros e abraços, que sempre caracterizam o evento.

Ao todo, nesta 10ª edição, passaram, aproximadamente, 800 visitantes, nos quatro dias de Encontro.

“No terceiro fim de semana de agosto, reuniu-se o maior número de torneiros por metro quadrado no Brasil. Superamos todas as expectativas, tanto em número de visitantes, quanto em expositores e empresas parceiras”, afirmou a presidente da Associação, Sandra Greuel.

Na Exposição e no Concurso de Melhor Objeto Torneado, foram 170 itens particiantes. O resultado do concurso premiou alguns alunos da Escola de Tornearia em diferentes níveis e categorias. Na exposição houve peças do colecionador Henrique Sampaio, de São Paulo, que trouxe objetos de países como Irlanda, EUA, Inglaterra e Rússia.

“As demonstrações na Sala de Cinema foram muito aproveitadas. Em cada sessão a sala estava lotada. Foram demonstrações de tornearia, palestra sobre segurança no trabalho de torno e conversa entre torneiros, para definir a nomenclatura das ferramentas e acessórios que passou a ser a Nomenclatura Nacional”, comentou Sandra.

E para 2023, a próxima edição do Encontro Nacional já tem previsão de data: ela vai contecer entre os dias 17 e 20 de agosto.