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Costumes que antecedem a festa da ressurreição

Moradora de Pomerode fala sobre costumes e tradições que segue durante o período da Quaresma

15 de abril de 2022

Foto: Bob Gonçalves / Jornal de Pomerode

Que a Páscoa é um dos momentos mais emblemáticos do cristianismo, isso não se tem dúvida. No entanto, o período que a antecede, igualmente, é repleto de costumes e, principalmente, de penitência.

A Quaresma marca os 40 dias que Jesus Cristo passou no deserto, antes do início do seu ministério. Por ser um período de preparação, é enxergado como o momento propício para a realização de jejuns, caridades e bastante oração. O objetivo da realização dessas obras é parte de um esforço para que o fiel amplie sua devoção a Deus e se arrependa dos seus pecados. Tradicionalmente, inicia na Quarta-Feira de Cinzas e se se encerra na Quinta-Feira Santa.

Uma dessas pessoas que praticam a penitência, durante este tempo, é Maria Olinda Rodrigues Caús. Nascida em Palmeira das Missões (RS), desde criança foi doutrinada dentro destes princípios, passados de geração em geração.

“A Quaresma é um tempo de penitência, com bastante oração e jejum. Naquela época, todas as sextas-feiras deste tempo, nossa família jejuava. Eu lembro que, quando a gente levantava, já fazíamos uma oração e ajudávamos nossos pais, sempre pensando em Jesus. Ao meio dia, era apenas um copo de leite, para passar a tarde e tomar outro, às seis horas. Somente no sábado é que voltávamos a comer normalmente”.

Hoje em dia, Dona Olinda – como é chamada – ainda pratica a penitência, só que de uma forma mais branda.

“Atualmente, toda sexta-feira da Quaresma eu não como nenhum tipo de carne, além de não dançar durante neste período. E olha que é uma das coisas que eu mais amo fazer (risos). Sei que por aqui isso não é muito evidenciado, mas na nossa região, sim. E quando eu vim morar para cá, estranhei no começo, mas agora, já me acostumei. Não tenho nada contra com quem dança ou come carne, no entanto, eu mantenho essa tradição, a qual me faz bem. Se Jesus sofreu tanto por nós, na cruz, porque não se doar alguns dias na Quaresma? Afinal, depois teremos o ano todo para dançar e comer carne. Amar o próximo e ajudar as pessoas, é uma coisa que precisamos fazer todos os dias, e não só neste período. Então, eu sigo isso”, destaca.

Outra prática bastante difundida na região de origem de Dona Olinda é a colheita da Macela, ainda na madrugada das Sextas-feiras Santas. “Por lá é bem comum, até mesmo, colhê-la um dia antes e deixá-la ao relento, de quinta para sexta-feira. Depois disso, as pessoas utilizavam a flor para fazer chás e, até mesmo, curar alguma indisposição estomacal. E faz muito bem. Infelizmente, aqui em Pomerode é um pouco difícil de encontrar, mas fui criada com esta tradição, também”.

Para ela, a Sexta-feira Santa já foi bem mais respeitada. “Na minha época, naquele dia, ninguém ia de carro para a igreja, somente a pé. Era um dia de silêncio, sem música, trabalhos pesados ou gritaria. Apenas comíamos peixe e rezávamos. Já na quinta-feira, começávamos uma vigília na igreja, que durava 24h. Todos participavam: Clube de Mães, Grupo de Jovens, Apostolado, catequistas, idosos… Aí no sábado, era realizada a celebração da ressurreição de Cristo”.

Dona Olinda garante que toda penitência tem a sua recompensa, e não seria diferente no seu caso. “Cristo morreu por todos nós, então, eu também procuro fazer a minha parte. E toda vez que a Páscoa chega, eu sinto que minha fé se renova, que todo o sacrifício é recompensado. E como eu me sinto bem, vou continuar fazendo até que Deus permita”, finaliza.

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