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Chapéu Farinhas: uma memória que pode voltar à paisagem pomerodense

Grupo se uniu e já protocolou ofícios solicitando à Prefeitura a reconstrução da estrutura

28 de janeiro de 2024

Foto: Raphael Carrasco / JP

Uma estrutura muito popular em fotos antigas por fazer parte de inúmeras memórias dos pomerodenses e que, atualmente, é apenas uma boa memória.

O Passo Paulo Zimmermann, popularmente chamado de Chapéu Farinhas, era uma construção que existia no Centro da cidade e que era como um ponto de encontro para boa parte dos moradores de Pomerode, ainda Distrito do Rio do Testo na época da inauguração da estrutura.

Em um documento obtido nos arquivos da Prefeitura de Blumenau, o Círculo Juvenil de Pomerode foi convidado a se apresentar na inauguração do coreto do Largo Paulo Zimmermann (posteriormente conhecido como Chapéu Farinhas), no dia 06 de setembro, de 1958, na Semana da Pátria.

Segundo relatos, o Passo Paulo Zimmermann passou a ser conhecido como Chapéu Farinhas devido ao Sr. Alfonso Farinhas, que era um fiscal do controle de obras e tributos e intendente do Distrito Rio do Testo e que costumava ser visto ali.

Em registros nas redes sociais, diversas pessoas compartilhavam memórias e um sentimento em comum: saudade. Por este motivo surgiu uma iniciativa que busca a possível reconstrução do Chapéu Farinhas. Inclusive, o vereador Jean Nicoletto apresentou a Indicação nº 311/2023, que solicita a reconstrução da estrutura.

Um dos envolvidos nesta iniciativa é Valério Romig. Ele explica que a ideia de uma possível reconstrução do Chapéu Farinhas surgiu a partir de conversas com conhecidos, sobre fotos publicadas em um grupo do Facebook chamado “Memórias de Pomerode”.

“Após a minha aposentadoria, passei a ter mais tempo livre e pude explorar mais a internet, encontrando o grupo ‘Memórias de Pomerode’. Como sou natural de Pomerode, comecei a contribuir também com algumas fotos antigas, que eram de um arquivo da minha família. Houve um momento em que publiquei uma foto do Chapéu Farinhas, e diversos amigos e colegas de escola trocaram ideias sobre o assunto, até que se falou sobre como seria legal se o Chapéu Farinhas fosse reconstruído”, conta Valério.

 

Então, por meio de conversas com colegas, um deles Wilson Hoffmann, a ideia de solicitar a reconstrução do Chapéu Farinhas começou a tomar forma, chegando até a Indicação apresentada pelo vereador Jean Nicoletto, em uma Sessão Ordinária da Câmara de Vereadores.

Chapéu Farinhas ficava no coração da cidade (Foto: Arquivo Histórico/ Isadora Brehmer / JP)

 

“Sugeri elaborarmos um ofício, que pudesse ser encaminhado por diversas pessoas à administração municipal, solicitando a reconstrução. Alguns destes ofícios já foram protocolados no Gabinete do Prefeito, pedindo esta reconstrução”, garante Valério.

Em contato com a Assessoria de Imprensa da Prefeitura Municipal, fomos informados de que os ofícios foram recebidos pelo Prefeito e estão em análise por parte da administração municipal.

 

Um ponto de encontro repleto de memórias

Uma das motivações para que a iniciativa do pedido de reconstrução da estrutura fosse colocada em prática, segundo Valério, são as várias boas memórias relacionadas ao Chapéu Farinhas, frutos de momentos marcantes vividos ali.

“Chapéu Farinhas era o ponto de encontro, na época da minha juventude. Com cerca de 12, 13 anos, nossos passatempos eram ir ao cinema, jogar futebol, tomar banho de rio, andar de bicicleta pelas ruas. Eu puxava a fila. Nós perguntávamos onde iríamos nos encontrar e eu logo sugeria o Chapéu Farinhas, passava na casa de alguns amigos e íamos juntos para o Chapéu Farinhas. Me lembro de que esperei para ir ao cinema pela primeira vez, no Chapéu Farinhas”, relembra Valério.

O aposentado também comenta que sempre havia muitas pessoas no Chapéu farinhas, conversando, esperando pelo cinema ou pelo ônibus. E, para Valério, as memórias relacionadas ao local são sempre repletas de muito carinho.

“Do Chapéu Farinhas íamos para o Hotel Schroeder, tomar laranjinhas, e no bar da Frau Wolter, onde fica hoje em dia uma loja de móveis. Ou seja, o Chapéu Farinhas era o ponto de encontro para combinar o que faríamos naquele dia, ou o local de troca de figurinhas. Todos os que veem a foto, comentam sobre as saudades do local, assim como de outras coisas de Pomerode. E foi a partir daí que percebemos que muitas pessoas sentem saudades deste local, que era talvez o principal ponto de encontro, no Centro. Portanto, pensando em uma possível reconstrução, começamos a nos perguntar, por que não? Provavelmente, se a ideia for adiante e o Chapéu Farinhas for reconstruído, muitas pessoas irão até o local, trocarão um abraço e irão relembrar as histórias, e os turistas irão aproveitar para sentar, tomar um sorvete”, reforça.

 

Mas como o Chapéu Farinhas deixou de existir?

O Chapéu Farinhas sofreu um dano significativo após um acidente de trânsito. Quem se lembra bem do episódio é Silvio Schroeder, que morava no segundo do andar do Restaurante Schroeder. Ele comenta que o fato ocorreu em 1980 ou 1981 e pôde ver o estrago da sua janela.

“Naquele dia eu estava e casa, no meu quarto, estudando. Eu tinha uma escrivaninha que ficava de frente para a janela, coma vista para a rua e para o Chapéu Farinhas e escutei um barulho alto, de batida. Quando olhei para fora, logo vi os envolvidos no acidente. Um caminhão que transportava tijolos veio da Rua Frederico Weege, acabou batendo contra a parte traseira de outro caminhão, que transportava leite pela Ruas XV de Novembro e Luiz Abry, e depois o caminhão dos tijolos acabou atingindo um dos pilares que sustentava o Chapéu Farinhas”, conta.

Segundo Silvio, naquele dia havia funcionários na parte de cima da estrutura, pois estava sendo montado o presépio, no local. Com a batida, um dos pilares se quebrou, e a estrutura inclinou. “A parte de cima ficou apoiada no caminhão, então os funcionários que estavam lá pularam no caminhão para chegar novamente à rua, no chão. Uma senhora que estava perto do local, na Rua Luiz Abry acabou sendo atingida por um galão de leite, devido ao acidente e se machucou, mas fora isso não houve mais pessoas feridas”, afirma.

Silvio comenta, ainda que, na época se falava sobre a necessidade de reconstruir a estrutura, como era, mas acabou não acontecendo e não sabe dizer, ao certo, porque não foi refeito.

“Eu sempre conheci o Chapéu Farinhas como Palanque, porque, quando eu era pequeno, os políticos costumavam fazer comícios na parte de cima da estrutura. Também me recordo de um vendedor de pipocas, que sempre ficava instalado lá, com seu carrinho. Havia os bancos, onde as crianças ficavam depois da hora da aula, ou esperando pela hora da sessão do cinema. O Chapéu Farinhas era um ponto de encontro”, comenta.

Quem também descreve o Chapéu Farinhas como ponto de encontro para quem estava no Centro é Lothar Karsten, morador da região desde àquela época.

“Todo mundo se encontrava ali, o Chapéu Farinhas recebia sempre muitas pessoas. Foi construído para as pessoas terem onde se abrigar, esperando horário de ônibus, esperando o início das sessões do cinema. Algumas vezes aconteciam apresentações musicais, como por exemplo do Círculo Juvenil de Pomerode. O Chapéu Farinhas era sempre muito movimentado, as pessoas combinavam para se encontrar ali ou paravam para conversar ao saírem do serviço, pois não havia muitas praças, principalmente no Centro”, relembra.

Silvio Schroeder viu parte do acidente, da janela de seu quarto. (Foto: Isadora Brehmer / JP)

 

O morador de Pomerode comenta que a Rua Paulo Zimmermann, em si, mudou muito e pouca coisa permanece parecida como na época em que seu pai construiu a casa da família, por volta de 1937.

“Guardo uma fotografia que meu pai comprou, da Rua Paulo Zimmermann, onde aparece a casa que ele construiu. O Chapéu Farinhas veio em 1958, na parte de cima havia como se fosse uma cerca, e ali algumas bandas subiam para tocar e, perto do Natal, era montado o presépio. Algumas vezes passei por lá e parava, conversava com os amigos, porque não havia muitos locais para isso, na cidade, ou então até para namorar, algumas vezes. A ideia é que fosse um coreto, mesmo”, relembra.

Por hora o que resta do Chapéu Farinhas são as memórias de quem viveu momentos felizes e criou lembranças relacionadas ao local, mas, no futuro, pode ser que o Chapéu Farinhas volte a fazer parte da tão bela paisagem pomerodense.

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