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Brasileira que morava em Israel fala sobre os últimos dias em meio ao conflito

Fernanda Amaral Rojtenberg é irmã do membro do Rotary Club de Pomerode, Bruno Rojtenberg e voltou no 2º avião da Força Aérea Brasileira, que resgatou cidadãos em Israel

13 de outubro de 2023

Fernanda residia em Israel há quatro anos. (Foto: Arquivo pessoal)

Medo, tristeza e incertezas. Estas foram algumas das palavras utilizadas por Fernanda Amaral Rojtenberg, de 29 anos, uma das brasileiras resgatadas de Israel e que voltou ao Brasil em um avião da Força Aérea, no segundo grupo repatriado, que chegou ao Brasil na madrugada desta quinta-feira, 12 de outubro.

A diretora de marketing em uma empresa de tecnologia esportiva é irmã do morador de Pomerode Bruno Rojtenberg, membro do Rotary Club, e mora em Israel há quatro anos. Em entrevista ao Jornal de Pomerode, ela falou sobre como foram os últimos dias em Israel, desde o início dos ataques, até a chegada ao Brasil.

Fernanda reside em Tel Aviv, que fica no litoral do país, a cerca de 40km da Faixa de Gaza, zona do conflito. A diretora de marketing afirma que foi a Israel inicialmente para ficar por seis meses, por ser um polo de tecnologia. “Eu tinha o objetivo de aperfeiçoar alguns aspectos da minha carreira profissional e, como sou filha de judeus, queria aprender mais sobre a cultura. Não tinha o objetivo de morar lá, inicialmente, mas como consegui um emprego acabei me estabelecendo em Israel”, conta.

Em Tel Aviv, Fernanda morava sozinha e tinha apenas o contato mais próximo com amigos. No dia do ataque, Fernanda conta que recebeu o primeiro alerta de possíveis ataques de bombas às 6h30min da manhã de sábado, 07 de outubro.

“Demoramos um pouco a receber as primeiras informações. Soube primeiro do ataque do Hamas por amigos que estavam na festa, mas não conseguíamos entender muito bem o que estava acontecendo. Acordei às 6h25min de sábado, porque tinha planos às 8h30min, mas senti que havia algo estranho e já estava pensando em não ir. Às 6h30min começamos a receber os alertas no celular de bombas, e que sirenes iriam tocar na nossa região. Mas não estávamos entendendo o que estava acontecendo, porque estava tudo ‘tranquilo’, não acontecia nada há alguns meses, e havia semanas em que não havia ataques de bombas na Faixa de Gaza. Tanto que pensei que pudesse ser algum erro, quando recebi o primeiro alerta no celular. Uma hora depois do primeiro alerta, veio um novo alarme, e logo começamos a receber mensagens em grupos de amigos que foram ao festival, perto da Faixa de Gaza, que começaram a relatar o que aconteceu lá”, conta Fernanda.

Foi a partir deste momento que Fernanda e alguns amigos começaram a entender a magnitude do que estava acontecendo. Segundo a diretora de marketing, duas horas depois do primeiro ataque ela começou a tomar medidas de segurança, se esconder em locais seguros.

 

Os primeiros dias em meio à situação de guerra

Fernanda comenta que o primeiro dia foi mais tenso, principalmente com o excesso de notícias falsas correndo, envolvendo situações reais.

“No Sul, os terroristas estavam invadindo, atacando, vestindo as roupas e fingindo ser membros do exército israelita, e assim abordando as casas da população para sequestrar e matar as pessoas. Havia comentários de que isso aconteceria no país inteiro. Eu e uma amiga pegamos nossas coisas e fomos para casa de outra amiga, todos sem família em Israel, e ficamos aguardando e torcendo para não acontecer. Neste ponto, foi um privilégio estar em Tel Aviv, onde nada aconteceu, além dos alarmes”, conta.

Ainda segundo a brasileira, nos outros dias, a rotina foi semelhante, de permanecerem em casa, reclusas, aguardando novas informações e se algo iria acontecer.

“O pior é o medo que sentimos estando lá, é algo inexplicável. Você fica o tempo todo apreensivo, com qualquer som, mesmo um escapamento de carro, você já leva um susto. Não tínhamos coragem de sair de casa, e alguns momentos tinha medo até de ir para o banho ou escovar os dentes, pois eram tarefas que levariam mais tempo, e eu não sabia se conseguiria correr para um abrigo, se houvesse um ataque”, relata.

Aos poucos, Fernanda e os amigos começaram a entender o que estava acontecendo e se tinha a ideia de que Tel Aviv talvez fosse uma zona mais segura. No entanto, a diretora de marketing conta que começaram os ataques no norte do país, então a insegurança voltou, segundo ela.

“A cada dia que passava, ficávamos sabendo de mais e mais pessoas conhecidas que morreram. Tive amigos que perderam melhores amigos. Conhecidos que perderam membros da família, pai, mãe, namorado. Há pessoas que eu conheço que estão desaparecidas e que talvez estejam mortas. Além do medo, há o sentimento de impotência, de saber que você está a 30km do que está acontecendo e não pode fazer nada. Também havia a preocupação das pessoas aqui no Brasil, com a situação lá, que nos deixava muito tensos”, destaca Fernanda.

 

A volta ao Brasil

A brasileira conta, também, que recebeu a notícia que poderia voltar ao país de origem, com o avião da Força Aérea Brasileira às 20h de terça-feira (10) e que precisava estar pronta no dia seguinte, às 10h, com duas malas, apenas, e o passaporte, para embarcar de volta ao Brasil.

“Então corri para o apartamento e tentei colocar tudo o que mais gostava dentro de apenas duas malas. Nos encontramos às 10h, com militares do Exército Brasileiro no hotel, e foi tudo muito tranquilo ali. Eles nos acalmaram, com psicólogos e várias pessoas conosco. Foi um voo direto, algo que não acontece normalmente. Dentro destes seis dias de caos de medo, eles conseguiram nos trazer tranquilidade. Foi um privilégio e uma sorte gigantescos ter conseguido pegar este avião, porque sabemos que há pessoas que não conseguiram, que estão tentando”, revela.

O 2º voo da “Operação Voltando em Paz”, do governo federal, trouxe de volta ao Brasil 214 resgatados, além de um cachorro e três gatos. A decolagem foi em Tel Aviv, às 12h30min de quarta-feira (11) e o pouso foi na madrugada de quinta (12), no aeroporto do Galeão (RJ).

 

“Nunca imaginamos algo nesta magnitude e que isso fosse possível”

Fernanda comenta, ainda, que o país convivia com o conflito, mas que nunca imaginaram que algo como este ataque pudesse acontecer.

“Nunca pensamos que os terroristas conseguiriam entrar por terra e fazer o que fizeram. O exército israelense traz uma certa calma, segurança, pois os vemos 24 horas por dia andando na rua. E até agora ninguém entende como isso aconteceu, mesmo sabendo da zona de guerra, com conflitos, mas nunca imaginamos algo nesta magnitude e que isso fosse possível. Os sentimentos são de medo, tristeza, incerteza do que vai acontecer daqui para frente, o que também traz ansiedade. Eu estou há cerca de três, quatro dias sem conseguir dormir, sem comer direito, pensando o que será do lugar onde eu morava, das pessoas que eu gosto, de quem estas pessoas gostam, do que será do país, dá muito medo”, admite.

No entanto, a diretora de marketing também ressalta a resiliência que surge a partir deste momento, em todos que vivem em Israel. “Nos dias anteriores ao meu retorno ao Brasil, eu doei tudo o que eu conseguia, roupas e comidas, tudo o que eu pude fazer, eu fiz. Queria fazer mais, mas não conseguia. E como eu me mudei há quatro anos, não tive treinamento para o exército, mas pessoas que eu conheço tiveram e estavam se voluntariando”.

Fernanda afirma que não conhece, diretamente, algum dos desaparecidos ou alguém que morreu nestes conflitos recentes. No entanto, conhece pessoas que perderam pessoas que amavam.

“Uma menina que foi minha aluna no ano passado perdeu o namorado, um colega de trabalho perdeu um irmão, então mesmo que não seja diretamente, é algo que está muito perto de mim”, revela.

Mesmo ainda abalada pelo ocorrido, a diretora de marketing afirma que pretende retornar a Israel, mesmo que provisoriamente. “Eu pretendo voltar para Israel nas próximas semanas, pois tenho um apartamento lá, tenho uma vida lá, deixei tudo do jeito que estava. Depois disso, vou resolver o que vou fazer a longo prazo, se retornarei definitivamente ao Brasil ou ainda continuarei morando em Israel pois os conflitos não devem terminar. Não tenho uma resposta definitiva, tudo depende do que acontecer nos próximos dias”.

 

O conflito em Israel e na Faixa de Gaza

De acordo com a CNN Brasil, o conflito mais intenso começou no sábado, 07 de outubro, quando o Hamas – classificado pelos Estados Unidos e pela União Europeia como grupo terrorista – disparou uma chuva de foguetes sobre Israel. Os lançamentos foram feitos da Faixa de Gaza.

Além disso, houve avanços do Hamas por terra e mar. O ataque surpresa é considerado um dos maiores dos últimos anos, e houve centenas de mortos.

Um dos ataques por terra foi em um festival de música eletrônica, que reunia jovens. Lá, foram ao menos 260 mortes. O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, declarou guerra.

No entanto, as tensões entre Israel e Palestina duram mais de 70 anos, e misturam questões políticas e religiosas. Milhares de pessoas, dos dois lados, já morreram nesta disputa.

Em 1947, a Organização das Nações Unidas (ONU), apresentou a proposta da criação de dois estados, um judeu e um árabe, sendo o lado judeu de Israel e os palestino de Gaza e Cisjordânia. Porém, os árabes não aceitaram o acordo, sob a justificativa de terem ficado com o lado com menos recursos.

No ano de 1948, foi criado o estado de Israel, provocando revolta nos palestinos, dando início à Guerra árabe-israelense.

O Hamas não reconhece Israel como um estado e reivindica o território para a Palestina. Por sua vez, Israel quer seu reconhecimento como estado judeu. Os palestinos pedem, ainda, a suspensão da colonização em seu território e o encerramento do bloqueio de Israel à Faixa de Gaza.

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