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As memórias do saudoso curso de datilografia, em Pomerode

Filhos de Ediltraud Maass, conhecida como Frau Maass, que ministrava um dos mais conhecidos cursos de datilografia da cidade, falam sobre as memórias e o legado da iniciativa

10 de fevereiro de 2024

Filhos de Ediltraud e Eribert Maass: Claus, Fred e Frank, guardam, com carinho, máquinas usadas durante o curso. (Foto: Isadora Brehmer / Jornal de Pomerode)

Há cerca de quatro décadas, quem esperava ingressar no mercado de trabalho para atuar em alguma área administrativa, contábil ou em qualquer vaga que fosse para trabalho em escritório, precisava ter em seu currículo uma formação considerada fundamental: a datilografia.

Para quem não conhece, é a técnica de digitar sem olhar muito para as teclas e com certa velocidade. Por volta dos anos 70, 80 e da primeira metade dos anos 90, a formação era realizada com máquinas de escrever, antes do surgimento e popularização dos primeiros computadores e era uma exigência de muitos empregadores.

Por isso, Pomerode dispunha de alguns cursos de datilografia, a fim de atender a demanda pela formação que o mercado de trabalho passou a exigir. Um dos cursos mais conhecidos e mais frequentados em Pomerode, à época, foi o oferecido por Eribert Maass e Ediltraud Maass, ela mais conhecida por Frau Maass.

O curso não existe mais, pois por volta da segunda metade dos anos 90 e anos 2000, começou a ser substituído pelos cursos de computação e informática. Mesmo assim, há quem guarde memórias carinhosas dos saudosos cursos de datilografia de Pomerode.

Os filhos de Frau Maass, Frank Maass, Fred Maass e Claus Maass, revelam que o curso teve início no começo da década de 70 e era ministrado na casa da família.

“Nossa mãe trabalhou em empresas locais, quando Pomerode ainda era Distrito Rio do Testo, no escritório contábil de Mario Jung se especializou nesta área, e ainda na parte administrativa, na Porcelana Schmidt. Isso tudo lhe deu conhecimento e, quando ela saiu do emprego para cuidar da nossa criação e da casa, optou por criar o curso de datilografia, com o apoio do nosso pai, que era representante comercial”, contam.

Segundo os três filhos da Frau Maass, as aulas de datilografia eram realizadas durante todo o dia, a partir das 7h, e os alunos eram divididos em pequenos grupos, de hora em hora, até o fim da tarde. No início, eram poucos alunos, mas posteriormente, já na década de 80, conforme a cidade foi crescendo e o número de habitantes aumentando, a quantidade de alunos cresceu muito.

“Havia tantos alunos que não tínhamos mais mesas e espaço para recebê-los, então ela direcionava para outros cursos. Lembro em que houve uma época em que havia alunos na sala de visitas, cozinha, sala de jantar, a casa ficava cheia. Acredito que o máximo era ter mais de 20 pessoas em um mesmo horário, fazendo o curso. Alguns até traziam a própria máquina de escrever para poderem fazer o curso, porque não tínhamos máquinas o suficiente”, relata Frank.

 

“O mercado começou a exigir certificado no curso, em praticamente todas as vagas de emprego em escritórios, ligados à parte administrativa e de contabilidade, então houve este ‘boom’ de alunos. Tanto que, acredito que cerca de 80% das pessoas ativas nesta área, passou pelo curso da minha mãe, pois era um dos únicos cursos e era um dos que mais tinha preferência, sendo muito reconhecido pelo mercado, pela qualidade. Nossa mãe era mais rigorosa nos testes, então se tinha o conhecimento de que, quem saía formado do curso dela, estava realmente pronto para datilografar. Ela exigia que se decorasse o teclado e era bem rígida nesta parte, então as pessoas que passavam pelo curso saíam realmente sabendo”, complementa Fred.

A duração do curso era cerca de três meses e meio a quatro meses, com uma hora de aula por dia, mas quem precisava de mais urgência e que tinha máquina própria, segundo os irmãos Maass, ficava cerca de três horas por dia fazendo os exercícios do curso.

Após o término do curso, era aplicada um teste final, no qual as teclas da máquina de escrever eram cobertas e os alunos deveriam escrever um texto. Havia um número máximo de erros que poderiam ser cometidos e, caso o aluno ultrapassasse este número, não passava no teste final.

Máquinas e certificados do curso de datilografia. (Foto: Isadora Brehmer / Jornal de Pomerode)

 

Ediltraud Maass, conhecida como Frau Maass, era quem ministrava o curso. (Foto: Arquivo pessoal)

 

Os alunos que eram aprovados no curso recebiam um certificado, cujo nome e data eram preenchidos pelo Sr. Siegfried Albert Egerland, que era desenhista e pintor, e fazia desenhos da Porcelana Schmidt. Frau Maass assinava os certificados, comprovando a aprovação dos alunos.

“Quem passava pelo curso de datilografia, saía com uma agilidade muito grande, pois aprendia a trabalhar com todos os dedos das mãos. E esta é uma habilidade útil até hoje, pois as pessoas que fizeram o curso de datilografia conseguem trabalhar com muito mais rapidez e exatidão, pois não podia haver muitos erros”, garante Fred.

Os filhos da Frau Maass também passaram pelo curso de datilografia e foram aprovados. Além das memórias relacionadas à época em que o curso existia, eles guardam a primeira máquina de escrever comprada pela família, para o início do curso, adquirida ainda no fim da década de 60.

O curso foi encerrado por volta de 1996 e 1997, mas em um caderno, guardado pela família, Frau Maass deixou anotados os nomes de todos os alunos que passaram pelo curso, em ordem alfabética, com o ano em que foram seus alunos.

“Conhecemos muitas pessoas através do curso que minha mãe ministrava e muitos ainda nos reconhecem hoje em dia, perguntam por ela, como está. É uma sensação muito gratificante”, comenta Frank.

 

Um destes ex-alunos é Edson Klemann, que começou a participar do curso de datilografia da Frau Maass no início de 1987.

“Na época, quem quisesse conseguir algum emprego em escritório, contabilidade, algo assim, precisava ter o diploma deste curso, então eu decidi fazê-lo, também. Lembro que tínhamos vários exercícios para fazer, para memorizar a posição das letras, nas teclas da máquina de escrever, e cada um precisava ser feito 10 vezes. Frau Maass nos dava as instruções, como mexer corretamente nas máquinas de escrever, de diferentes marcas e modelos”, relembra.

Klemann afirma que o início foi o período mas desafiador, pois ainda tinha pouca prática com as máquinas de escrever. Mas com o tempo, com as instruções e exercícios passados pela professora, ia se tornando mais fácil.

Edson Klemann foi aluno do curso da Frau Maass. (Foto: Isadora Brehmer / Jornal de Pomerode)

 

Frau Maass era uma pessoa muito querida, sempre de bem com a vida, compreensiva quando precisávamos remarcar e sempre disposta a nos ajudar. Posso dizer que ela contribuiu muito para minha formação, com um conhecimento que é útil até os dias de hoje, além de ser um conhecimento a mais adquirido e que também ajuda como exercício para a memória”, destaca Klemann.

Os filhos, hoje, celebram o legado deixado por Ediltraud Maass, por meio do curso de datilografia. Ela vive com os filhos e fará 87 anos em janeiro, mas como enfrenta o Alzheimer, não tem condições de falar sobre a época.

“A sensação é muito prazerosa, de saber que a ideia que nossos pais tiveram na época foi uma coisa que deu muito certo para todos e ajudou na formação das pessoas. Nas redes sociais, quando aparece uma foto de uma máquina de escrever e perguntam quem fez o curso de datilografia, nossa mãe é muito citada. Muitas pessoas nos dizem que foi graças ao curso que conseguiram ir bem em seus empregos e, consequentemente, na vida. Então é gratificante saber que o resultado da época é lembrado até hoje”, finalizam Frank, Fred e Claus Maass.

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