Saúde

Alzheimer: mais de 50 pacientes portadores da doença são acompanhados em Pomerode

Saiba mais sobre a doença neurodegenerativa, como fatores de risco e prevenção

22 de março de 2025

Foto: Envato Elements

De acordo com a Biblioteca Virtual em Saúde, do Ministério da Saúde, o Alzheimer é a forma mais comum de demência neurodegenerativa em pessoas de idade. No mês de fevereiro, uma das campanhas relacionadas à saúde realizadas no Brasil é o Fevereiro Roxo, voltado à conscientização do Lúpus, da Fibromialgia e do Mal de Alzheimer.

Ainda segundo o Ministério da Saúde, o Alzheimer é uma doença neuro-degenerativa que provoca o declínio das funções cognitivas, reduzindo as capacidades de trabalho e relação social. Com o passar do tempo, ela também interfere no comportamento e personalidade da pessoa, causando consequências como a perda de memória.

O Alzheimer é a causa mais comum de demência – um grupo de distúrbios cerebrais que causam a perda de habilidades intelectuais e sociais. No Brasil, existem cerca de 15 milhões de pessoas com mais de 60 anos de idade. Seis por cento delas têm a doença de Alzheimer, segundo dados da Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz).

Em Pomerode, segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde (SESA), no período de janeiro de 2023 a janeiro de 2025, estão sendo acompanhados 52 usuários, portadores de Doença de Alzheimer em suas diferentes apresentações. Destes, 14 pacientes são homens e 38 mulheres.

Também de acordo com a SESA, o Sistema Único de Saúde (SUS) utiliza a Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename) como instrumento orientador sobre o uso de medicamentos disponíveis no SUS em todos os níveis de atenção e organizados por responsabilidades de financiamento.

Os medicamentos para Doença de Alzheimer mais indicados são a donepezila, rivastigmina, memantina e galantamina, além de antipsicóticos, antidepressivos e ansiolíticos para controlar sintomas como agitação e ansiedade.

Atualmente a Secretaria de Saúde através da Secretaria Estadual de Saúde fornece medicações de alto custo, mediante os protocolos de indicação, a 13 usuários do SUS em Pomerode. Em apoio às famílias de Doentes portadores de Doença de Alzheimer a Secretaria Municipal disponibiliza: 13 Equipes de Saúde da Família, o Centro de Apoio Psicossocial – CAPS e a Unidade Sanitária Prefeito Alwin Klotz; conta ainda com atendimento “on-line” 24 horas/dia através do “Alô Saúde”, onde as pessoas podem obter atendimento qualificado com profissional de saúde e até teleconsulta médica. E no caso de acompanhamento domiciliar, temos o Serviço de Atendimento Domiciliar (SAD), que faz o seguimento destes pacientes em casa, quando necessário (atualmente com dois pacientes).

“Todo este sistema encontra dificuldades e desafios diariamente, mas a Secretaria de Saúde busca o aprimoramento contínuo destes serviços, para atender melhor seus usuários”, afirmou a SESA, em nota.

Primeiros sinais são subjetivos

A médica especializada em geriatria e estudos do envelhecimento, Dra. Nathany Raup, explica que a análise a respeito dos primeiros sintomas é subjetiva. Isso porque nem todos os pacientes vão apresentar os sinais da mesma forma e nem todos os domínios cognitivos serão afetados da mesma forma.

“O que conseguimos observar, no senso comum, é que os principais sintomas são, normalmente, perda de memória recente, alterações comportamentais, que nem sempre são relacionadas totalmente com Alzheimer, às vezes tem relação com outro tipo de demência. Mas percebemos que o comportamento, a personalidade da pessoa acaba mudando. Além disso, há a questão da perda de memória recente, perda do senso de localização, são algumas situações que acontecem e que podem ser sinais de que esteja acontecendo um declínio cognitivo ou que há um quadro demencial já em curso”, explica a médica.

A Dra. Nathany também explica que há formas de prevenir a ocorrência do Alzheimer e de outras demências, dedicando atenção aos fatores de risco para o desenvolvimento da doença e que são modificáveis.

Os não modificáveis são ser do sexo feminino, o histórico familiar positivo, a Síndrome de Down, por exemplo, que são situações que não podem ser mudadas, mas que podem receber um modo de vida que evite a progressão da demência.

“Já fatores modificáveis, conseguimos resolver, como por exemplo praticar atividades físicas regularmente, ter uma dieta que não seja tão rica em carboidratos. A dieta ideal para esse tipo de prevenção de demência é a dieta do Mediterrâneo, que é rica em ômega 3. Também é importante manter o que nós chamamos de uma boa reserva cognitiva, ou seja, ter um bom exercício da função cerebral. Por exemplo, uma pessoa que lê muito, que tem um bom convívio social, que consegue se manter ativa na sua rotina”, destaca a Dra. Nathany.

 

A inatividade, segundo a médica, pode ser um fator de risco para a progressão de um quadro de demência e, quanto menos uma pessoa estiver em movimento, maior o risco de desenvolver uma doença como o Alzheimer. Para as pessoas mais idosas, enquanto for possível, é muito importante permitir que realizem atividades do dia a dia, de forma autônoma.

“Outros fatores também estão relacionados a doenças crônicas, diabetes, hipertensão, obesidade, tudo isso vai aumentar o risco de desenvolver um quadro demencial em uma idade mais avançada”, complementa Dra. Nathany.
A médica cita também um tema que vem ganhando espaço nas discussões acerca do envelhecimento saudável, a sarcopenia, assunto discutido inclusive no Congresso Europeu de Geriatria, em 2024.

A sarcopenia é a perda da massa muscular que, segundo a especialista, está relacionada ao risco de demência. “A indicação é que se mantenha a massa muscular, especialmente das pernas, pois ajudará a reduzir o risco de demência na terceira idade. Sabemos, portanto, que manter exercícios de força, como a musculação, por exemplo, é um fator de prevenção importante e a musculação não é contraindicada para idosos. Na realidade, é uma prática recomendada, pois existe a perda de massa muscular conforme a pessoa envelhece e a musculação é a maneira de se manter essa massa”, ressalta.

Além disso, hábitos como o tabagismo e etilismo devem ser evitados a fim de prevenir a demência na idade mais avançada.

Tudo isso nos leva a pensar no conceito do envelhecimento saudável, que engloba hábitos e cuidados que ajudam a prevenir diversas doenças, não apenas as demências, como é o caso do Alzheimer.

“Muitos dos fatores citados podem ser contornados iniciando a prevenção precoce. Por exemplo, falando de doenças crônicas, se uma pessoa leva uma vida sedentária, com ganho de peso, com pouca mobilidade, automaticamente vai desenvolver síndrome metabólica e, por consequência, pode vir a ter diabetes, hipertensão. Se não houver um pensamento a longo prazo, iniciando a prevenção de forma precoce, estas doenças terão se desenvolvido, podendo provocar outros problemas como a aterosclerose, hipercolesterolemia. Portanto, manter hábitos saudáveis o mais precoce possível é a melhor decisão”, frisa a médica.

Ainda, é importante destacar que esta prevenção precoce deve começar cedo, já que, segundo a especialista, a alteração estrutural e o processo de envelhecimento da parte cerebral e também do corpo começa aos 30 anos. A partir desta faixa etária, é importante haver um projeto de prevenção, com atividades físicas, boa alimentação, além, claro, de cuidar da saúde mental, já que depressão e ansiedade também são fatores de risco para desenvolvimento de demências.

“Exercícios físicos precisam fazer parte da rotina, a fim de manter a massa muscular, bem como o cuidado com a reserva cognitiva, fazendo leituras, tendo convívio social, lazer. Tudo isso é importante”, ressalta a Dra. Nathany.

A avaliação neurológica

A Dra. Danielle De Lara, neurocirurgiã do Hospital Santa Isabel, explica que a demência é uma síndrome clínica que tem como característica a perda progressiva da capacidade de tomar decisões, pensar e lembrar de fatos. A doença de Alzheimer é a forma mais comum de demência, afetando principalmente pacientes acima de 60 anos, ou seja, pessoas idosas.

“Além de afetar a memória, o Alzheimer prejudica também as funções cognitivas, que são a atenção, o raciocínio e a fala, por exemplo. Para que a gente possa conversar sobre prevenção do Alzheimer, é importante compreender as principais causas. A causa exata da doença de Alzheimer ainda é desconhecida pela ciência, mas nós sabemos que existem fatores genéticos muito importantes”, comenta a neurocirurgiã.

Além da genética, fatores como idade, hábitos de vida, falta de atividades físicas, doenças crônicas, como a pressão alta, o diabetes, colesterol elevado e a perda auditiva são fatores de risco para desenvolver Alzheimer.

“Ou seja, para que a gente possa tentar evitar ou retardar a manifestação dessa doença, é importante ter um estilo de vida saudável. Então, algumas formas de prevenção são fazer exercícios físicos regulares, como caminhar, nadar, manter a mente sempre ativa, estudando, lendo, aprender um novo idioma, fazendo jogos inteligentes, como palavras cruzadas, por exemplo. Outro fator de risco muito importante é o sono. Nós sabemos que, durante o sono, o que acontece é a limpeza do cérebro de algumas proteínas que, ao se acumularem dentro do nosso cérebro, podem causar a doença de Alzheimer. Então, o sono é importante, tanto (2:25) como uma possível causa da doença, mas também como consequência”, explica a doutora Danielle.

O Alzheimer é mais comum em pessoas com mais de 60 anos, mas pode aparecer em pessoas mais jovens, por isso a importante ter um estilo de vida saudável desde cedo.

“Quando nós fazemos o diagnóstico da doença de Alzheimer, ele vai ser avaliado de acordo com a fase da doença que o paciente está, se é um quadro inicia ou avançado, e isso vai determinar o tipo de tratamento que será proposto. Nós temos tratamentos medicamentosos, ou seja, através de remédios. Os primeiros deles foram os que nós chamamos de inibidores das colinesterases, e existem outras classes de medicação que vão auxiliar”, afirma a neurocirurgiã.

Segundo a Dra. Danielle, também existem remédios que, além de atuar nas características da memória e da cognição, vão tratar sintomas de comportamento, que são muito comuns no Alzheimer, como, por exemplo, agitação, agressividade. Nestes casos, passam a ser usados remédios para ajudar nessas características.

Ainda, existem os tratamentos não medicamentosos, como por exemplo a reabilitação cognitiva, envolvendo também psicólogos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas no auxílio às dificuldades de movimento.

A neurocirurgiã também comenta que é muito importante que o cuidador, se houver, tenha um treinamento adequado, para saber lidar e reagir a essas situações de confusão, agitação, irritabilidade. “Nós sabemos que, ao treinar adequadamente o cuidador, é nítida uma redução nos problemas de comportamento do paciente, porque a relação se torna um pouco menos conflituosa”.

O uso de telas e o Alzheimer

A Dra. Danielle também cita outra reflexão importante, acerca de questionamentos que têm surgido recentemente em relação ao uso excessivo de telas, com o aparecimento do Alzheimer.

“Se nós pensarmos na geração Z, que é a que vem mais exposta e, de forma até, diria, abusiva das telas, nós ainda não temos tempo suficiente de exposição para que essas pessoas cheguem numa fase de desenvolver realmente o Alzheimer. Mas existe algo que nós já vemos hoje, que tem sido chamado de demência digital. Então, o que é isso? A exposição excessiva às telas, além de causar uma distração, a dependência digital, também acaba por afetar a concentração e, por consequência, a memória”, afirma.

De acordo com a neurocirurgiã, já existem diversos estudos que mostram que crianças e adolescentes expostos de forma excessiva às telas rendem menos na escola, têm mais dificuldade de aprendizado. “Aquele aprendizado superficial da tela, ele tem uma baixa capacidade de retenção, o cérebro tem dificuldade de lembrar o que foi exposto há pouco tempo atrás, diferente de quando é um aprendizado tradicional, presencial, com a fala, e a aplicação. Nós ainda não temos dados para confirmar que isso causa Alzheimer, mas nós já temos visto uma alteração da cognição do funcionamento do cérebro em pessoas expostas de forma excessiva às telas. É importante lembrar, novamente, que o Alzheimer é um tipo de demência, e existem outros, por exemplo, a demência causada pela doença de Parkinson, demência frontotemporal. Mas praticamente todas as demências se baseiam em, além de questões genéticas, hábitos de vida não adequados. Então, pensando no futuro, pensando que nós não queremos experimentar esses sintomas e queremos, se possível, prevenir ou pelo menos retardar, quero deixar o recado de que procuremos ter hábitos de vida saudáveis, praticar atividades físicas, não fumar, evitar o excesso de bebida alcoólica. Tudo isso pensando num amanhã mais saudável”, finaliza a neurocirurgiã.

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