Aliando saúde e ciência
Com o objetivo de traçar perfis de saúde, projeto que tem parceria entre Pomerode e Alemanha, prevê o aperfeiçoamento
de tratamento e a prevenção de doenças, contribuindo para melhorar a qualidade de vida
O Projeto Lebenund Gesundheit – Vida e Saúde em Pomerode deu mais um importante passo na quarta-feira, 15 de abril.
Isso porque a equipe do projeto, juntamente com o reitor da Furb, João Natel, o professor Dilson Tomio, vieram a Pomerode debater, na Prefeitura, melhoria na questão do transporte dos voluntários, além de ajudar a tornar o projeto mais conhecido na cidade.
No mesmo dia, o grupo também se reuniu na Acip para conseguir o apoio dos empresários da cidade na pesquisa, principalmente na questão da liberação do funcionário para a realização dos exames no Hospital Universitário da Furb, em Blumenau.
O projeto é uma pesquisa que vem traçando um perfil da saúde da população pomerana através de vários exames realizados com seus habitantes. O objetivo foi verificar quais eram as doenças mais frequentes na região e os seus fatores de risco, visto que o índice de qualidade de vida da Pomerânia, na época, era um dos mais baixos do país e se percebia um grande número de doenças comuns entre as pessoas da região. Com os resultados desta pesquisa, é possível aperfeiçoar o tratamento e a prevenção destas doenças, o que contribuiu para melhorar a qualidade de vida destas pessoas.
O projeto deu tão certo que ele continua até hoje e está se expandindo, tanto dentro da própria Alemanha (para mais regiões do país) como para fora dela. A primeira cidade estrangeira selecionada para dar continuidade ao projeto foi Pomerode, recebendo aqui o nome “LebenundGesundheit – Vida e Saúde em Pomerode”.
Por que Pomerode? Pomerode foi fundada por imigrantes pomeranos, gerando um grande número de descendentes diretos na cidade, cuja cultura e traços genéticos ainda são presentes nos dias atuais. Em 2011, o Dr. Marcello Ricardo Paulista Markus, médico brasileiro que mora na Alemanha e um dos pesquisadores deste projeto, viu em Pomerode uma forma de internacionalizar a pesquisa. Foi então que surgiu a parceria entre a Universidade Regional de Blumenau (Furb) e a Universidade de Medicina de Greifswald (UniversitätsmedizinGreifswald). “A cidade foi fundada por imigrantes que se originaram em regiões perto de Greifswald, onde o estudo alemão é realizado”, disse o Dr. Markus, que acredita que “o fato de existirem muitos descendentes desses primeiros imigrantes, que mantiveram sua ascendência original, permitirá que façamos comparações entre a população alemã de Greifswald e a população alemã de Pomerode”, afirmou o pesquisador.
Segundo o Dr. Markus, na Alemanha, “os resultados alcançados permitiram que o governo da região do estudo desenvolvesse ações especificas para os principais problemas de saúde, como por exemplo, campanhas e leis para diminuir a prevalência de tabagismo e consumo de álcool”. Estes fatores foram, segundo o pesquisador, alguns dos problemas que mais se destacaram na Alemanha, além de identificar algumas situações clínicas mais graves, das quais os voluntários não tinham conhecimento.
O Dr. Markus complementa: “O estudo acabou fazendo com que as pessoas tivessem um maior conhecimento a respeito de sua saúde e se cuidassem melhor”.
Mas o projeto não é apenas uma mera “comparação de dados” com Pomerode. Segundo um dos coordenadores do projeto no Brasil, o médico e professor Dr. Ernani Tiaraju de Santa Helena, os habitantes de Pomerode também se beneficiarão com as descobertas obtidas, uma vez que,analisando estes resultados e identificando as doenças e as suas causas, haverá com certeza uma melhoria nos tratamentos e nas formas de prevenção aqui também. O Dr. Markus explica que “o benefício para a população será a possibilidade de elaboração de estratégias de prevenção em saúde que se adaptem à realidade da cidade de Pomerode e de sua população”.
Pioneirismo no Brasil – Pomerode, até o presente momento, é a única cidade fora da Alemanha que participa desta pesquisa e pode se tornar referência internacional na área da saúde. Na Alemanha, este foi um grande projeto que começou há 16 anos e é contínuo, sempre sendo atualizado devido ao seu sucesso no país e na comunidade científica.
No Brasil, além do Dr. Ernani, o projeto também é coordenado pelos professores da Furb, Dr. João Luis Gurgel Calvet da Silveira (odontólogo) e Dr. Caio Maurício Mendes de Cordova (farmacêutico-bioquímico).
Quem pode participar do Projeto? Somente aqueles que foram selecionados poderão participar dos exames, o que inclui tanto pessoas doentes como saudáveis. “A intenção não é analisar apenas as pessoas que já apresentam patologias, mas também as pessoas saudáveis, para fazer a comparação e detectar se há alguma predisposição genética para determinadas doenças”, explicou o Dr. Ernani.Da mesma forma, também não serão apenas os descendentes de pomeranos que participarão da pesquisa. Os habitantes de Pomerode que não apresentam traços desta ascendência também participarão, para verificar como estes fatores influenciam.”Podemos comparar a população alemã de Pomerode com a população miscigenada da cidade, para verificarmos a influência genética destes descendentes”, esclarece o Dr. Markus.
Estas pessoas, que pertencem à faixa etária de 20 a 79 anos, foram selecionadas aleatoriamente. Na Alemanha, o número de voluntários é de quase nove mil, pois eles trabalham com duas populações de estudo, e os exames são refeitos a cada quatro ou cinco anos. Em Pomerode, o objetivo é atingir aproximadamente quatro mil pomerodenses, com previsão para que toda a coleta de dados seja realizada até final de 2016.
Como acontecem os exames? As entrevistadoras contratadas pelo projeto de pesquisa, com a ajuda das agentes comunitárias de saúde, convidam os selecionados de casa em casa para fazer os exames e aplicam um questionário com perguntas sobre a situação de saúde, o estilo de vida e os hábitos de cada um. Depois, elas marcam o melhor dia para os convidados realizarem os exames.
Estes exames ocorrem no Centro de Exames do Hospital Universitário (HU) da Furb, em Blumenau, de segunda a sexta, sempre na parte da manhã. O transporte de ida e de volta dos voluntários é realizado pela central de ambulâncias, em parceria com a Prefeitura de Pomerode. Para aqueles que trabalham, é entregue um comprovante de participação no projeto. “Esperamos buscar a compreensão dos empresários para que liberem seus funcionários por algumas horas, pois esse projeto é realmente importante”, declarou o Dr. Ernani.
O diferencial desta pesquisa está nos seus padrões. Todos os examinadores receberam treinamento para aplicar os exames de acordo com os padrões alemães, para que não haja nenhuma interferência nos resultados – inclusive os aparelhos são de mesma marca e modelo dos que foram utilizados na pesquisa original. O controle de qualidade também é de alto nível e se dá através do conhecimento dos parceiros alemães.
Duas enfermeiras de Blumenau, entre elas Silvana Scheidemantel Schroeder, receberam este treinamento diretamente na Alemanha. “Isto foi extremamente importante, pois no Brasil não teríamos condições de aprender da mesma forma”, explica.
Silvana conta que, na Alemanha é feito periodicamente “uma calibração de todos os examinadores em todos os exames a fim de detectar desvios”. As duas enfermeiras treinavam 8h por dia, inicialmente nelas mesmas e depois com pacientes que tinham patologias, com examinadoras alemãs responsáveis que estão há anos no projeto.
Sobre os voluntários, ela conta: “Lá, os pacientes vem de livre e espontânea vontade, com seu próprio carro ou de ônibus, pois eles têm muita consciência da importância em participar”. Segundo a enfermeira, inclusive quando trocam de endereço, vão até o centro de saúde para informar o atual.”Alguns estão no projeto há mais de 15 anos! Eles se sentem responsáveis pelo sucesso e pioneirismo da pesquisa”, afirmou. “O rigor na metodologia da pesquisa é a característica deles (dos alemães), mas penso que isso nós também temos aqui, mesmo com todas as dificuldades”, completa Silvana.
Segundo Lais Carolini Theis, enfermeira coordenadora do Centro de Exames do HU, são realizados diversos exames típicos de um checkup geral, entre eles: ultrassom de tireoide, fígado e carótidas, eletrocardiograma, avaliação odontológica, nutricional, preventivo de colo uterino, medição da pressão arterial, coleta de sangue, fezes e saliva, etc. “Recentemente incluímos um novo exame, que é o acelerômetro, um sensor que mede a atividade física do voluntário e que é colocado na cintura através de uma cinta elástica, sendo utilizado durante oito dias”, contou.Sobre os resultados, Lais complementa: “Eles são encaminhados à unidade de saúde de onde o voluntário reside, onde deverão ser analisados pelo médico da unidade e, posteriormente, devolvidos aos participantes”.
Como costumam ficar no HU das 7h até quase 13h, também é oferecido aos participantes um café da manhã, ou melhor, um “früstück”, que inclui sanduíches, pães de queijo, café, suco, etc.”Eles geralmente gostam bastante dessa hora”, conta Júlia Rigo Weiss, estudante de psicologia da FURB que trabalha no projeto.Ela é uma das meninas que encaminham os voluntários para o café e para os locais dos exames. “Consigo perceber que eles chegam ansiosos, mas depois muitos elogiam, dizendo que estão sendo bem atendidos e que todo mundo é muito simpático aqui”, comentou.
Delegação alemã no Centro de Exames da Furb – Os executivos alemães do estado de Mecklemburg-Vorpommern, que estiveram no início de novembro do ano passado em Santa Catarina, também visitaram o centro de exames do Hospital Universitário. O propósito da visita ao estado foi comercial, mas eles também demonstraram interesse em conhecer o local em que ocorrem os exames deste projeto.
Durante esta visita, os alemães também encontraram uma das voluntárias que estava realizando exames na ocasião, a Sra. Rosita Bloedorn, moradora do bairro Testo Rega. Além de mencionar que reconheceu algumas pessoas presentes, como o vice-prefeito, Ricardo Campestrini, também mencionou que “é muito bom ver gente da Alemanha aqui”. E sobre os exames, disse que foi bem atendida por todos e que “foi tudo muito bom”.