A herança da fada das cucas
Família continua legado de sabores inigualáveis nas cucas, de dona Hanna-Lora Dahlke
Foto: Isadora Brehmer / Jornal de Pomerode
Ao pensar em uma cuca genuinamente pomerodense, é impossível não lembrar da nossa fada das cucas, Hanna-Lora Dahlke. A pomerodense, tão conhecida pelas mãos mágicas, que produzem cucas e outras delícias, doces e salgadas, hoje já “passou o bastão”, para sucessores muito especiais.
Atualmente, são as filhas Kátia Cristiane Dahlke Reichel e Cinthia Cristina Dahlke que dão continuidade a este legado de tradição na produção de cucas. Kátia é quem mais se dedica, inclusive tendo ficado responsável pela Casa das Cucas, na 38ª Festa Pomerana, além de fornecer a iguaria e outras receitas para eventos.
Dona Hanna-Lora fala com orgulho sobre como as filhas passaram a fazer parte deste legado familiar, de envolvimento na produção de cucas e, consequentemente, na preservação da tradição da nossa gastronomia.
“Não sei dizer há quantos anos elas já estão participando comigo, mas são vários. Sempre tentei leva-las junto e as duas ajudavam. Kátia tem mais tempo para se dedicar e está mais envolvida, em festas e eventos. A Cinthia também sempre ajudou muito, mas hoje, devido ao trabalho, tem menos tempo e precisa também de seus momentos de descanso. Algumas vezes era um pouco forçado (risos), mas acabou sendo natural seguir esta tradição familiar, com o tempo”, conta dona Hanna-Lora.
Cinthia comenta que esta valorização da tradição familiar no preparo das cucas veio com o tempo. Na juventude, é claro que havia mais interesse por bailes, por outras opções de lazer, mas as irmãs afirmam que foi uma fase.
“Agora que temos as nossas famílias, conhecemos mais a nossa cultura e enxergamos que isso está se perdendo, nós começamos a ter este sentimento de querer resgatar estas tradições juntos. Quando temos nossos encontros em família, geralmente falamos muito sobre receitas e esse dom relacionado às cucas nos une ainda mais”, conta Cinthia.
Portanto, a cada ano, o envolvimento da família na tradição foi aumentando, assim como o gosto por sempre experimentar novos sabores, com a tradicional cuca. Segundo a família Dahlke, houve um ano, durante a Festa Pomerana, em que mais de 40 sabores de cucas eram oferecidos ao público. Neste mesmo ano, foi criada por dona Hanna-Lora, a famosa cuca de linguiça com farofa.
E mesmo que dona Hanna-Lora não esteja mais tão envolvida na produção de cucas para ocasiões externas, a família mantém a tradição de inovar nos sabores da iguaria.
“Hoje, quem inventa muitos sabores diferentes é o Thomas, meu sobrinho. Ele sempre ajuda muito a mãe dele, e a namorada dele também já auxilia. E eu tento ajudar também, embora tenha bem menos tempo e seja mais cansativo, pelo emprego, e alguém precisa degustar (risos)”, destaca Cinthia.
E a tradição se aplica também aos conhecidos Concursos de Delícias Caseiras da Festa Pomerana. Neste ano, a família Dalhke conquistou prêmios em todas as nove categorias disputadas. Nas cucas, Cinthia assinou a receita vencedora, e dona Hanna ficou com o quarto lugar, com as receitas de cuca de ameixas ao vinho com farofa de amêndoas e de maracujá com chocolate branco, respectivamente.
As duas receitas foram “invenções” de Thomas, que vem agregando novas receitas ao vasto acervo da família Dahlke.
E, claro, como mais uma peça fundamental para a garantia de um sabor inigualável às criações, o patriarca Ilmo Dahlke, cuida da parte de assar as cucas e outros quitutes, sempre preocupado com a qualidade da lenha, tempo no forno e outros detalhes que influem diretamente no sabor.
“As mãos da Kátia e da minha mãe são maravilhosas, mas sem a lenha do meu pai, não seria a mesma coisa. É escolhida e preparada cuidadosamente e é ele quem coordena o momento de assar as cucas. Gosto de afirmar que o cuidado que eles sempre tiveram, faz toda a diferença. É uma engrenagem, um elo cada um tem a sua participação, que contribui para que tudo funcione e seja sempre este sucesso”, enaltece Cinthia.
Kátia, que hoje assume grande parte da produção de cucas, no lugar de dona Hanna-Lora, reitera o amor pelo que faz e a gratidão pela chance de manter um legado familiar vivo.
“Eu gosto de fazer as cucas, gosto de cozinhar e fazer coisas diferentes. Tenho gratidão por tudo que minha mãe me ensinou e fico honrada por seguir os passos dela. Estivemos na Festa Pomerana neste ano de novo, na casa das cucas e é gratificante, as pessoas vêm e elogiam o que nós fazemos. Vinham muitas pessoas, por causa das cucas da dona Hanna-Lora que ficaram famosas e isso nos deixa muito felizes”.
“Vemos nossos pais envelhecendo e nossa maturidade mudou, o que nos faz ter esta vontade de continuar com algo da nossa cultura. Na nossa infância, fazíamos cucas apenas aos sábados, e sempre demorava muito. Este era o nosso sábado, algo que não é mais comum hoje em dia. Hoje, eu daria tudo para ter a cuca que minha fazia aos sábados, anos atrás. Minha mãe resgatou a tradição das cucas, agora minha irmã a ajuda e já assume este posto em eventos, inclusive trazendo novos sabores, junto do meu sobrinho. Tudo o que é feito com amor, à mão, fica muito mais gostoso, isso aprendi com a minha mãe”, complementa Cinthia.
Emocionada, dona Hanna-Lora fala sobre o orgulho em ver o empenho de sua família, em ver sua herança preservada.
“Me sinto muito orgulhosa, da Cinthia e da Kátia, com os filhos dela, que está indo aos eventos, como a Festa Pomerana, por exemplo. Também estou realizada por eles continuarem com este legado, pois não queria que isso morresse e se perdesse”, finaliza.