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A fé como pilar na batalha constante pela vida

Enfrentar uma doença exige, muitas vezes, muita força, esperança e amor. Quem está nesta batalha, só consegue vencer cada etapa com apoio, suporte e fé. O pensamento é da professora Crista Konell, de 45 anos, que, há pouco mais de um ano e meio, descobriu que teria que buscar a cura do câncer

8 de março de 2019

Enfrentar uma doença exige, muitas vezes, muita força, esperança e amor. Quem está nesta batalha, só consegue vencer cada etapa com apoio, suporte e fé. O pensamento é da professora Crista Konell, de 45 anos, que, há pouco mais de um ano e meio, descobriu que teria que trilhar a caminhada em busca de se curar contra o câncer.

Tudo começou em 21 de setembro de 2017, quando procurou auxílio médico, pois estava com um inchaço incomum no pescoço. O médico a encaminhou, com urgência, para o Hospital Santa Catarina, para fazer uma ressonância. No dia seguinte, retornou ao médico, que a encaminhou a outro especialista. Este, por sua vez, solicitou que fizesse uma ultrassonografia e uma biópsia, que apontaram o câncer. Em seguida, o médico disse que seria necessária a cirurgia.

“Porém, eu não queria deixar minha turma no CEI Rosa Borck, queria terminar o ano. Então, meu médico autorizou e pediu que eu aproveitasse minhas férias. Por fim, em fevereiro, fiz a cirurgia de retirada da tireoide. E eu imaginava que a cirurgia resolveria tudo, que voltaria à minha rotina depois, mas não foi isso que aconteceu”, conta a professora.

O susto veio no retorno, quando o médico informou que ainda havia nódulos no pescoço, o que significava que o câncer ainda existia. “Logo, ele também me disse que eu teria um caminho a percorrer até a cura e que precisava ter força. Em abril de 2018, fiz minha primeira iodoterapia, que consiste na ingestão de uma cápsula, que emite a radiação para o tratamento”, explica.

Para realizar o procedimento, Crista precisou fazer uma dieta sem nenhum alimento ou ingrediente que tivesse iodo, o que segundo a professora, foi bem difícil, mas nada que não pudesse superar. Um alívio veio depois deste tratamento, quando fez um exame de corpo inteiro para ver se havia vestígios do câncer, mas o resultado apontou que não havia nada.

“Só que, em junho, voltei a sentir um incômodo na garganta e um novo exame indicou nódulos no pescoço, novamente. Este foi um dos dias mais tristes que eu já tive, pois fui sozinha e recebi a notícia no mesmo dia, sem ninguém ao meu lado”, relembra Crista.

A professora fez uma nova cirurgia, bem como uma segunda sessão de iodoterapia. Este tratamento, de acordo com ela, necessita, posteriormente, de isolamento do paciente, devido à radiação. Ela ficou por 20 dias em um apartamento separado e foi ali que descobriu uma de suas terapias: um quebra-cabeça, de duas mil peças.

“Eu sempre fui muito ativa, não ficava muito tempo parada e como naqueles dias eu estava passando muito mal, decidi que o quebra-cabeça seria um bom passatempo para me manter em atividade, mesmo que ele seja difícil. Mas é uma ótima terapia, me mantém ocupada e distraída”, comenta. Hoje, ela ainda está no processo de montagem do passatempo.

Outro motivo de felicidade na vida de Crista, além do marido, Carlos e da filha, Izabel, é a cachorrinha Olívia, companheira fiel da professora na luta diária. “Tenho dias bons, mas outros em que me sinto muito cansada, ainda. Nos dias em que não estou bem, ela sempre está do meu lado, é minha companheira e sente quando eu preciso. Quando eu me deito, ela está ao meu lado. Montando o quebra-cabeça, ela está ao meu lado. Quando eu choro, ela está lá, ao meu lado”, destaca.
A mudança que Crista precisou enfrentar trouxe, também, novas formas de pensar a respeito da vida. “Durante esse tempo repensei muito do que era, de fato, importante na vida, ao valor que dou às coisas, como final de semana, minha família, meu marido Carlos, minha filha Izabel. Também estou aprendendo a perder a pressa, dando mais valor à simplicidade e sendo mais humilde. Tudo isso foi uma lição”, afirma.

Mas a professora segue forte, vivendo um dia de cada vez. A expectativa, agora, é por um novo resultado sobre seu estado de saúde, pois no dia 22 de fevereiro fez mais um exame de corpo inteiro e ainda aguarda o resultado.
“Tenho fé que dará certo, pois tudo o que eu quero é estar bem. Penso que cada etapa é uma etapa do quebra cabeça da vida que estou montando, sempre tentando ver o lado bom. É nos momentos de dificuldade que nos superamos e o meu pensamento positivo é a fé, que tem uma importância enorme no meu tratamento. Ainda tenho sonhos, de viver hoje e sempre, com amor”, finaliza.

Auxiliando a combater a depressão

Como citado por Crista ao contar a sua história, um de seus passatempos preferidos, hoje, é montar o seu quebra-cabeça de duas mil peças. Mesmo inconscientemente, o que ela está fazendo pode ser considerada terapia ocupacional, que é muito indicada em casos de doenças como o câncer.

A terapeuta ocupacional, Stela Michalak, explica que este método de terapia tem como objetivo melhorar a qualidade de vida de uma pessoa, podendo ser utilizada tanto para prevenção quando para reabilitação de pacientes, e o que será trabalhado depende da necessidade de cada paciente.

“No caso de um paciente oncológico, ele passa por várias alterações na vida. Com isso, acaba tendo várias dificuldades em manter a sua rotina, o que afeta mais ainda o lado psicológico, pois tem menos facilidade em fazer certas coisas. A terapia ocupacional, nestes casos, busca suprir esse vazio, estimulando atividades cotidianas”, esclarece a terapeuta.

Com atividades específicas realizadas com o paciente, a terapia ocupacional visa propiciar um grau maior de independência ao paciente, aliado ao bem-estar no momento da atividade.

“O quebra-cabeça é uma excelente opção por ser uma atividade lúdica, um passatempo que ativa parte do cérebro, estimulando a memória, o raciocínio, a capacidade de observação e comparação. Ao montá-lo, o paciente mantém a mente ativa e focada. E, claro, outras atividades semelhantes também são muito boas para esta situação”, afirma Stela.

Outro ponto que este método de terapia busca trabalhar é o psicológico. “A terapia ocupacional, em casos de pacientes oncológicos, procura combater, também, a baixa autoestima e a depressão, que são problemas que podem agravar a situação do paciente. Através destas atividades lúdicas, conseguimos evitar que isso aconteça, para que a pessoa crie algo legal e se expresse sobre seus sentimentos. Em um desenho, por exemplo, ao longo dos dias, ele pode ser aprimorado, melhorando os resultados e fazendo a pessoa ter conquistas pessoais”, ressalta.

Stela comenta que ter um animal de estimação também oferece uma grande contribuição e é importante para o dono, que é um paciente oncológico. “O animal de estimação ajuda como um todo na condição do paciente. A presença e o companheirismo dele ajudam a reduzir a ansiedade e diminuem as chances de depressão, pois trazem ânimo a amor ao seu dono, é bem bacana”, garante.

Atenção ao aspecto psicológico

Um dos aspectos mais afetados de um paciente oncológico, além da saúde física, é a mental, porque a descoberta da doença e seu tratamento impactam diretamente no equilíbrio emocional desta pessoa.

De acordo com a psicóloga Cínthia Theis, o tratamento do câncer, principalmente quando envolve radioterapia ou quimioterapia, resulta em muitos efeitos colaterais e desgastes para os pacientes, mas existem algumas atitudes que podem ser tomadas para diminuir tais impactos.

“Há uma grande melhora terapêutica, com uma série de benefícios ao equilíbrio emocional do paciente com câncer, quando há convívio com outras pessoas, com animais, se assim for permitido, conforme o quadro clinico do paciente, e com a realização de atividades ou passatempos dos quais a pessoa goste. Dentre estas melhoras, podemos citar o alívio da dor e desconforto, redução da ansiedade e de sintomas depressivos, diminuição da sensação de solidão ocasionada pelo tratamento, dentre outros”, destaca a psicóloga.

Ela também enaltece que tentar consolar a pessoa que está com câncer pode não ser a maneira mais eficaz de auxiliá-lo nesta batalha diária contra a doença. Cínthia argumenta que, sem dúvida, as pessoas doentes entendem a demonstração de compaixão e apreço, mas, se você quer mesmo ajudar, ser proativo é a melhor opção.

“Ofereça-se para fazer compras para o paciente ou levá-lo às terapias e consultas. As amizades verdadeiras, neste momento, são de uma ajuda inestimável. Quando aceitamos a condição do paciente, e falamos menos, temos menos problemas em saber o que é ofensivo para a pessoa e o que não é, pois cada paciente expressa suas emoções de forma diferente, e vê sua situação de forma diferente”, ressalta.

Como muitas coisas mudam na vida do paciente com câncer ao descobrir a doença, segundo a psicóloga, ter pessoas ao seu lado que sejam pilares de sustentação é fundamental, assim como atividades que o façam esquecer um pouco pelo que está passando naquele momento.

“Uma pessoa não é mais a mesma após passar por um tratamento de câncer, a maneira como ela vê o mundo muda, e neste processo de mudança, há ‘altos e baixos’. Ter pessoas ao seu lado e ocupações nos momentos de tratamento é fundamental para o equilíbrio psicológico do paciente”, frisa.

 

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