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A arte de incorporar a essência de um personagem

Jovem moradora de Rio dos Cedros chama a atenção nas redes sociais pelos cosplays de seres fantasiosos e ligados à natureza

18 de março de 2023

Foto: Arquivo Pessoal

Incorporar a essência de um personagem, com um toque pessoal, a fim de despertar boas lembranças. Este é um dos objetivos do Cosplay, uma prática que vem ganhando força nos últimos anos, e que reúne milhares de apaixonados ao redor do mundo.

A etimologia do termo (cos+play) é a junção do Cos, de costume, que significa fantasia, em inglês, com o play, de roleplay, que é interpretação. Ou seja, o cosplay é fantasiar-se de um personagem e interpretá-lo, em toda a sua essência.

Para Camila Viebrantz, o cosplay representa um hobby e uma paixão, que permite a ela expressar-se por meio de um personagem, que possua semelhanças com ela de personalidade, jeito de se expressar e de maneiras de ver o mundo. A jovem explica que, diferente do ato de se fantasiar, apenas, que algo relacionado à diversão, para um momento específico, o cosplay é uma junção do estar fantasiado, com a incorporação da essência do personagem representado.

“O cosplay está dentro de mim há muitos anos, até mesmo antes de colocá-lo em prática. Sempre quis ser atriz, então a arte já existia dentro de mim há muito tempo, tanto que por volta dos meus seis, sete anos, eu me fantasiava de personagens em casa e brincava de ser eles. Eu não conseguia brincar sem estar fantasiada, por exemplo com os Thundercats, eu precisava da espada, para fazer a brincadeira de ser um dos personagens. E embora tivesse o sonho de ser atriz e gostasse de teatro, na escola, sabia que seria difícil conseguir criar uma carreira como atriz. Por isso, surgiu também o cosplay como um hobby”, relata.

Elementos da natureza sempre fazem parte das produções de Camila. (Foto: Arquivo Pessoal)

 

Ele começou a fazer parte de sua vida, de forma efetiva, após conhecer mais a família do namorado de sua irmã. Camila comenta que o cosplay é de origem japonesa, de se caracterizar de um personagem do anime, na cultura local e, embora a jovem gostasse de desenhos animados como pokemón, digimón, não conhecia muito sobre a prática.

“Eu sempre fui muito pequena, magra demais, então não usava shorts, ou saias, pois não me sentia confortável. Mas quando minha irmã se casou com meu cunhado, conheci a avó dele, que é de origem japonesa, e ela me disse que eu parecia um personagem de anime. Naquele momento me explicaram o que era e, depois disso, fui pesquisar mais sobre e ali encontrei o mundo dos cosplays, que conseguiu me tirar de um trauma que eu tinha em relação ao meu corpo”, afirma Camila.

Foi através dos personagens que a jovem conseguiu se mostrar mais, usando peças de roupas como shorts, saias, e se sentir confortável com elas. Camila enaltece que conhecer o cosplay e aderir ao hobby, foi muito importante para sua autoestima, neste sentido. Além disso, ela destaca que o cosplay lhe permitiu conhecer melhor a si mesma.

“É um hobby tão benéfico para a saúde quanto vários outros, pois durante uma pesquisa sobre algum personagem, para saber sobre essência, detalhes de sua personalidade, acabamos encontrando muito sobre nós mesmos. O cosplay é uma prática rica em experiência própria, buscando parte de você, até onde você consegue chegar para ser aquele personagem. Para mim também é uma forma de meditação, de fazer com que eu tenha um tempo voltado a mim”, destaca.

Foto: Arquivo Pessoal

 

Para Camila, hoje, a sociedade em geral já começa a ver o hobby cosplay como algo sério, diferente de cerca de 10 anos atrás, quando ainda era uma prática considerada infantil. “Para mim, o cosplay é fazer a alusão a um personagem e, assim, trazer felicidade às pessoas, por meio daquela fantasia e daquela personificação. Trazemos a nossa criança interior ao mundo e proporcionamos lembranças afetivas felizes. É uma arte, e eu acredito que a fantasia vive um pouco em mim”, complementa.

 

Estilo medieval

Ao longo de sua vivência com o cosplay, Camila já incorporou diversos personagens. Alguns deles são a princesa Anna, do filme Frozen; a fada Sininho, da história do Peter Pan; a jovem Astrid, do filme Como Treinar o Seu Dragão; Ravena, do seriado animado Os Jovens Titãs, são alguns dos exemplos. Mas hoje, o seu estilo de cosplay é mais voltado à cultura medieval, celta, próximo ao universo dos filmes de Senhor dos Anéis. Em seu Instagram (@sweetyweenie), a maioria de seus personagens são Hobbits ou Elfos, sendo um deles, uma hobbit criada por ela conquistou o primeiro lugar em um concurso Tolkien, em alusão ao nome do escritor que criou o universo de Senhor dos Anéis.

“Com o cosplay, você tem que se divertir, saber o seu limite, se descobrir como pessoa. Quero mostrar para as pessoas a essência daquele personagem de uma forma leve, divertida. Questões como raça, altura, peso, não são importantes e não determinam o cosplay ser bom ou não, o importante é ter os acessórios do personagem, ter a conduta do personagem, ser o personagem durante o seu cosplay. Eu sempre busquei ser autêntica, desde a infância, fazendo um personagem, mas trazendo um toque meu e, hoje, junto à temática medieval”, comenta a jovem.

E, além de incorporar personagens já existentes, para Camila, o cosplay também é feito com personagens próprios, incorporando os estilos trazidos em jogos, séries ou filmes. “Nos meus cosplay, meus personagens são de autoria própria. Me inspiro em jogos RPG que eu jogo, ou crio um personagem, geralmente elfos, brinco muito com essa parte de criação. E sempre que posso estou mostrando às técnicas usadas e como fazer através de vídeos pelo meu Instagram. Gosto de coletar galhos secos e improvisar, podendo virar um cajado, por exemplo. Inclusive uma ideia futura é montar uma loja, com alguns acessórios, até mesmo para ter alguma renda”.

A Princesa Anna, de Frozen, foi um dos cosplays já feitos por Camila. (Foto: Arquivo Pessoal)

 

Camila já conquistou alguns prêmios, já representou personagens em alguns eventos, como em Itajaí, por exemplo, e já foi jurada de cosplay, mas não possui uma renda relacionada a ele. Normalmente, a jovem frequenta eventos mais voltados à cultura medieval na região, mas também participa de outros como feiras de livros, eventos geek, também relacionados ao universo japonês.

Ela destaca que uma parte importante do cosplay são os acessórios e que aqueles feitos à mão contam muito quando existe uma apresentação, com avaliação. Por isso, a atenção a cada detalhe, na hora de fazer um cosplay, é muito importante.

“Quando eu faço um cosplay, a primeira coisa é a peruca, caso o meu cabelo não seja parecido com o da personagens. Eu sempre busco personagens que combinam um pouco comigo, tenho que me identificar com aquela personagem. É preciso saber a história do personagem, se encaixar, para que seja um trabalho artístico valioso. Para eu montar um cosplay hoje, analiso, vejo várias vezes a série, o filme, estudo muito sobre a personagem, para incorporar o jeito de falar, de andar, personalidade, anoto o que eu preciso, base do que eu vou utilizar e técnica que vou usar”, explica a jovem.

Hoje, a principal personagem de Camila é uma Elfa Drúida, baseada em um jogo RPG (“Role Playing Game”, em tradução livre, jogo de interpretação de papéis) de mesa, que a jovem joga. Os acessórios são feitos com coisas simples, que podem ser confeccionadas em casa, e com vários elementos da natureza, encontrados no local onde ela mora.

 

Conexão com a natureza e com a própria essência

Conforme já dito, ter o cosplay como hobby foi uma forma de Camila conectar-se consigo mesma e aumentar sua autoestima. “Antes eu me sentia para baixo, não me sentia bonita, e ao estar em um personagem, queria estar o mais parecida possível, sempre sabendo diferenciar. Ali a minha autoestima foi crescendo, por meio da maquiagem eu consegui fazer diferentes técnicas e assim fui conhecendo o meu corpo, errando e acertando, sempre tentando coisas diferentes, até que eu gostasse”, revela.

Natural de Indaial, Camila mora há 12 anos na cidade de Rio dos Cedros, na qual a família possui uma pousada, local onde a jovem também trabalha.

“Adoro morar em meio à natureza, estar sempre em contato com ela, é algo que sempre aflora a minha criatividade. Eu fui adotada, não conheço meus pais biológicos, e sou muito feliz com toda a minha história, sinto muita gratidão. Sempre me senti muito diferente das outras crianças, tinha amigos imaginários e me sentia muito conectada a seres da natureza, sempre gostei de cogumelos, imaginava como grandes casas, que me despertavam muitas histórias, com uma hiper criatividade, desde criança, e o cosplay foi uma forma de aceitar essa criatividade, essa necessidade de conexão com a natureza e com quem eu sou”, frisa a jovem.

A fada Sininho também foi um dos cosplays feitos por Camila. (Foto: Arquivo Pessoal)

 

Camila também conta que sempre adorou ajudar as pessoas e, depois de ter iniciado o curso de medicina veterinária, mas ter trancado os estudos, descobriu no turismo, juntos dos pais, na pousada da família, como a prática pode ajudar na saúde das pessoas, proporcionando experiências ricas de imersão e relaxamento. “Amo meu trabalho, amo o que eu faço e isso me dá muita sustentação para o meu hobby, para o cosplay. Hoje sou muito grata ao meu pai, que é uma pessoa que sempre me apoia, divulga e enaltece o que eu faço e é muito bom quando há essa aprovação dos pais”, destaca.

Em seu perfil, Camila tem mais de 18 mil seguidores. Para quem quiser acompanhar os cosplays de Camila e saber mais sobre a prática, pode seguir, no Instagram, o perfil @sweetyweenie.

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