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A alegria das pequenas conquistas

Moradora de Pomerode revela luta contra problemas no coração e fala sobre chance de continuar sua vida, agradecendo a cada pequena conquista

29 de outubro de 2023

Hoje, Mara é um exemplo de leveza e alegria por cada pequena bênção, na vida. (Foto: Isadora Brehmer / JP)

Uma lição de superação, força de vontade e simplicidade. Este é o início da história moradora de Pomerode, Mara Lúcia Nunes de Lima Oliveira, que passou por diversas provações ao longo da vida e hoje agradece por cada pequena conquista.

Mara descobriu a sua cardiopatia com 18 anos e, na época, questionou ao médico se conseguiria viver com a doença, sem cirurgia, e teve a resposta positiva. “A ideia inicial era seguir vivendo normalmente, sem fazer nenhuma cirurgia e nem mexer no meu corpo, mas Deus não quis que fosse assim. Então, minha primeira cirurgia foi por volta de 2014, 2015, pelo que me lembro”.

Tudo começou com pedras descobertas na vesícula e no canal biliar, para as quais era necessária cirurgia, uma vez que poderiam causar uma pancreatite. Após a cirurgia, no entanto, Mara começou a ter mais problemas com o coração, que ficou mais fraco.

“Sentia muito cansaço, sentia muito cansaço nas aulas de ballet que eu ministrava. O cardiologista pediu novos exames e depois me informou que eu precisaria de cirurgia. Neste momento, havia duas opções, colocar uma válvula biológica ou metálica. No entanto, após um acidente bobo, ouvi de um médico que era bom não ter a metálica, que poderia me provocar uma hemorragia. Então coloquei na minha cabeça que jamais teria uma válvula metálica e, na primeira cirurgia do coração foi colocada a biológica, com previsão de vida útil de 10 a 15 anos, e depois voltei a minha vida normal”, relembra Mara

Quatro anos depois, em dezembro de 2019, no entanto, veio uma nova preocupação, já que Mara sentiu um desconforto. Em uma consulta de retorno, o médico informou que o coração estava fazendo um barulho diferente e foi descoberto que havia novamente um problema coronário. Mesmo com a resistência inicial de Mara, o médico a convenceu de que a tecnologia evoluiu e, portanto, seria seguro ter uma válvula metálica.

“Fiz a cirurgia e voltei para casa em 20 de fevereiro de 2020, mas sentia muita dor. Falei com o médico que disse que seria normal nestes primeiros dias e que deveria continuar com a medicação. No entanto, depois de 30 dias, eu comecei a tossir sangue e a válvula metálica faz um barulho de batida, mas a minha parou de fazer este barulho, então eu sabia que havia algo errado. Marquei uma nova consulta e insisti que não estava normal, então para me acalmar ele sugeriu fazer um ecodoppler, já na sequência, no mesmo hospital. No resultado, o especialista me questionou quantos anos fazia que eu havia colocado a válvula, então entrei em desespero, porque fazia apenas um mês. E aí ele me informou que eu estava com uma trombose dentro da válvula e precisaria fazer uma cirurgia de novo”, conta.

Neste procedimento, foi colocada uma nova válvula biológica e voltou para casa. Porém, as provações não pararam por aí. Depois de cerca de 30 dias, Mara sofreu com febres muito altas e procurou o médico novamente. Em exames, foi descoberta uma vegetação de bactéria no coração, que já tinha devorado a válvula. Então iria para uma nova cirurgia, feita no dia 13 de maio de 2020.

“Cheguei a despertar no meio da cirurgia, ouvi algumas coisas e depois apaguei novamente, ficando 17 dias em coma. Então acordei depois deste tempo, descobrindo que meus pés estavam para ser amputados e as mãos enfaixadas, mas rezei muito para continuar com as mãos. Lembro muito de ouvir meu marido, Alan, dizendo sempre ‘Princesa, não importa o que aconteça, sempre ou cuidar de você, sempre estarei aqui’, e isso me deu muita força”, garante Mara.

Ela ficou em coma mais algum tempo, porque sentia muita dor. Várias vezes chamaram o marido, Alan E. de Oliveira Lima dizendo que ele precisaria se despedir, mas de alguma forma as visitas dele ajudavam a esposa, que começou a ter pequenas melhoras a cada visita dele. Então ele foi incluído no tratamento. Entre junho e julho de 2020 saiu da UTI e foi para o quarto.

Os filhos, Andy, Rafael e Prince, que não está na foto, são parte da motivação diária de Mara. (Foto: Isadora Brehmer / JP)

 

Mara recebei alta em 31 de julho e, em casa, o marido estava sempre do seu lado, me ajudando a cada movimento. Em 27 de dezembro ela terminou o atendimento médico e, àquela altura, a família não tinha mais nada. Eles venderam a casa, o carro, a moto, e Alan havia saído do emprego também.

“Por isso, nos perguntamos o que faríamos agora. Não tínhamos mais nada a perder em Hidrolândia (GO), onde morávamos, e meu marido quis realizar seu sonho, se mudar para Santa Catarina, porque a família dele era daqui. Viemos primeiro para Timbó, fomos muito bem abraçados. Alugamos um carro, viemos apenas com a roupa do corpo, minhas cadeiras de rodas, nossos cachorros e nossos filhos. Uma moça nos cedeu um lugar para dormir, nos cedeu uma cama, e compramos só alguns colchões e começamos literalmente do zero”, revela.

Depois a família se mudou para Pomerode, conseguiu a casa onde moram com um amigo, o Sr. Armando, que alugou por um bom valor. A mudança foi aceita porque seria uma moradia perto da escola, a qual os filhos poderiam frequentar, inclusive com o ônibus buscando e deixando n frente de casa.

“Recentemente, tínhamos até conseguido comprar um carro mais simples, mas meu marido decidiu vende-lo, para podermos trocar o encaixe da minha prótese, porque o atual me machuca bastante e um encaixe é R$ 19.000 mil”, conta Mara.

Hoje, Mara afirma que só precisa agradecer e não pedir nada. A moradora de Pomerode um dia de cada vez, tendo a família como maior motivação e, inclusive, pratica vôlei adaptado com a pomerodense Marciana Piske.

“Minha família é minha maior motivação, assim como Deus. Sempre tentei fazer as coisas certas, ter fé em Deus, e me questionei muito no início. Até porque o que eu mais gostava de fazer era andar, então perder minhas pernas me destruiu um pouco. Mas as pessoas ao me redor foram tão boas para mim, me deram tanto amor, que eu sigo por eles, pela minha família. Mesmo que as vezes a dor fosse grande, eu agradecia por não serem meus filhos ou meu marido que estivesse sofrendo com isso, pois se fosse eu morreria de tristeza. Minha missão na Terra eu ainda não sei. Deus diz que a nossa missão é fazer o que gostamos, Eu sempre amei ensinar e se eu puder, se Ele me der a oportunidade de ver meus filhos chegarem a maior idade e conseguirem se virar, estarei satisfeita. Quero que eles sejam livres, que possam voar

Quero realizar um sonho de cada vez, quando eu acordei era conseguir sentar, depois queria andar, meu marido sempre me apoiou nisso, e seguir em frente, correr atrás de um sonho de criança, ser professora e terminar o curso de pedagogia. Pretendo fazer algo, depois, na área do voluntariado. Somos abençoados e queremos devolver ao mundo em dobro”, finaliza.

 

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