Vida, esperança e a certeza do recomeço

Era dia 10 de março, e a chuva não cessava. Há alguns dias, a água caia do céu, mas não chegava a preocupar os moradores de Pomerode. Ao anoitecer, veio também uma chuva muito mais intensa, que começou a provocar alguns sinais de preocupação na população; mas nada que alarmasse. E dessa vez, contrariando a música, as águas de março não levaram apenas o verão; levaram também a vida inteira de batalha de muitas pessoas. Cada vez mais forte, a chuva fez com que entre às 18h e 20h de quinta-feira (10), chovesse 144 milímetros, quantidade que estava prevista para todo o mês de março do ano passado. Esse aumento repentino foi suficiente para deixar a cidade debaixo d’água. O Ribeirão do Testo, que passa no Centro da cidade, transbordou. E contribuiu para que mais de 80% da cidade ficassem inundados.
As fortes chuvas deixaram a cidade de Pomerode com vários pontos de alagamentos e deslizamentos. A Prefeitura decretou situação de emergência e teve o reconhecimento do Estado de Santa Catarina. Pela manhã, cerca de 40 pontes e pontilhões foram vistoriados e constatadas situações de risco em algumas estruturas. Muitas terão que ser reconstruídas, incluindo as cabeceiras das pontes. Outras terão que ser removidas para a reconstrução das cabeceiras, o que exigirá mais tempo.
Além dos pontos de alagamentos que causaram grandes prejuízos, Pomerode apresentou inúmeras quedas de barreiras e danificação nas redes de abastecimento de água e de energia elétrica.
Na manhã de sexta-feira (11/03/11), a equipe do Departamento Estadual de Infraestrutura (Deinfra), esteve em Pomerode para vistoriar as rodovias. A SC-416, que faz acesso entre Pomerode e Jaraguá do Sul foi a mais afetada, apresentando vários pontos de deslizamento. A pista foi desobstruída parcialmente.
Para Pomerode, um dos municípios mais atingidos pelas chuvas, o Departamento Estadual de Defesa Civil em parceria com a Cruz Vermelha Brasileira, encaminhou na manhã de sábado (12/03/11), 600 colchões, 800 kits de higiene pessoal, 460 kits de limpeza, 300 cestas básicas e 400 litros de água potável.
Ainda na madrugada de sexta-feira alguns pontos da rodovia SC-418 já haviam sido comprometidos e interditados, mesmo sendo a região de Testo Central uma das últimas localidades a sofrer as consequências, já que recebe todo o volume de água do município, que ali desemboca.
O centro da cidade ficou totalmente isolado das demais localidades. Uma das vias mais danificadas da região central foi a Rua Luiz Abry. Nas mediações da Porcelana Schmidt, motoristas de ônibus, vans com universitários e caminhões, além dos carros e motocicletas, tiveram seus roteiros interrompidos pelas águas que deixaram a região praticamente ilhada. O fluxo dos veículos foi interrompido em ambos os sentidos, pois o volume chegou em alguns pontos a mais de um metro. Pessoas tiveram que dormir em seus veículos ou nas residências de amigos e familiares. Somente por volta das 05h30min as águas baixaram, deixando verdadeiros rastros de lama, mas liberando o trânsito.
Hoje, um ano depois, em alguns locais as marcas desse dia ainda poderão ser vistas, mas nada se compara a memória de quem viveu este dias de tristeza, medo e também, de esperança. Afinal, esse é o povo pomerodense. Que mesmo diante das dificuldades, ergue a cabeça, ainda com lágrimas nos olhos e vai a luta para reconquistar seus objetivos. Talvez a sensação de perda de conquistas de uma vida inteira não sejam conseguidas tão rapidamente, mas a sensação de recuperação e de poder compartilhar de novas vitórias é o que move cada um de nós que é daqui, ou que adotou Pomerode como cidade.