Uso de medicamentos para Mal de Alzheimer deve ser acompanhado
Ministério da Saúde destinou cerca de R$150 milhões em 2003 à compra de remédiospara tratamento de demência em idosos. Eficácia depende do estágio da doença.
Ministério da Saúde destinou cerca de R$150 milhões em 2003 à compra de remédiospara tratamento de demência em idosos. Eficácia depende do estágio da doença.
A perda da memória em idosos pode ir desde um esquecimento natural da velhice ? chamado de esquecimento senil benigno ? até ocorrências mais graves. Uma delas é o Mal de Alzheimer, doença cerebral degenerativa que leva ao declínio do funcionamento intelectual, com interferência nas atividades diárias. Estudos mostram que hoje, no Brasil, cerca de 20% da população com mais de 80 anos são vítimas de algum tipo de demência, sendo o Mal de Alzheimer responsável por 50% dos casos. Na busca de amenizar o sofrimento desses pacientes, o Ministério da Saúde oferece medicamentos indicados na fase inicial da doença.
“No ano passado, foram investidos aproximadamente R$ 150 milhões na compra de medicamentos excepcionais para idosos, incluindo os remédios voltados para o tratamento do Mal de Alzheimer”, destaca a coordenadora do Programa de Saúde do Idoso do Ministério da Saúde, Neidil Espínola da Costa. No entanto, esses remédios só fazem efeito se forem devidamente receitados. “Esses medicamentos precisam de uma indicação muito precisa para oferecer algum benefício. É necessário que o idoso seja avaliado por um médico ou especialista e esteja dentro dos critérios estabelecidos pelo protocolo indicado pelo Ministério”, ressalta Neidil.
A coordenadora observa que ainda não existe um medicamento específico para prevenir o mau funcionamento da memória ou para curar o Mal de Alzheimer. Neidil explica que o remédio oferecido pelo ministério só traz benefícios para os idosos na fase inicial ou moderada da doença. “Para o paciente que já tem seu diagnóstico e está em uma fase avançada do Mal de Alzheimer, o medicamento não está indicado”, reforça.
O problema é que, na ânsia de que a pessoa querida seja curada, a maioria dos familiares deseja que o idoso utilize os remédios, mesmo sabendo que ele não apresenta as indicações necessárias e que não terá qualquer benefício com o tratamento. Mesmo quando há indicação precisa dos medicamentos, o seu uso deve ser avaliado. “Se nos três primeiros meses o idoso não apresentar melhora, o tratamento deve ser descontinuado por falta de benefício”, conclui Neidil.
A doença ? Estima-se que hoje exista, no Brasil, cerca de 1,2 milhão de pessoas maiores de 60 anos com demência, como o Mal de Alzheimer. Trata-se de uma doença cerebral degenerativa. Sua causa não é bem conhecida, mas sabe-se que existem fatores genéticos associados. Em geral, a doença se desenvolve lentamente. “Por muitos anos, ela vai se instalando de forma insidiosa; pode aparecer na meia idade, mas é mais comum após os 60 anos. Ou seja, é uma doença mais freqüente na população idosa e a própria idade é um fator de risco para a demência de modo geral”, observa a coordenadora. Por isso, quanto mais velha é a população, maior é o risco de adoecimento.
O Mal de Alzheimer se caracteriza pela perda de memória, com grande impacto nas atividades cotidianas. Na maioria das vezes, os portadores da doença perdem, inicialmente, suas funções cognitivas: além da memória, a capacidade de aprendizado, atenção, orientação, linguagem e compreensão. À medida que o comprometimento intelectual acontece, a pessoa torna-se mais e mais dependente. Perde, por exemplo, a capacidade de fazer sua higiene, de se vestir e de se alimentar sozinha. Ou seja, perde a sua autonomia e independência para as atividades de vida diária.
Assim, os portadores de Mal de Alzheimer são pessoas que, embora possam estar fisicamente bem, precisam de supervisão e assistência 24 horas por dia. “Após o diagnóstico, os portadores da doença sobrevivem, em média, cinco anos”, destaca a coordenadora.
Embora o Mal de Alzheimer responda por cerca de 50% dos casos de demência registrados no Brasil, apenas um percentual muito pequeno da população idosa tem essa doença. Isso porque os estudos demonstram que no máximo 20% dos idosos com mais de 80 anos são acometidos por demência. “A grande maioria do segmento populacional dos idosos, mesmo com alguma doença crônica, vai estar muito bem; pode ter a sua hipertensão, o seu diabetes, mas mantendo sua autonomia e independência para as atividades de vida”, ressalta Neidil.
O diagnóstico do Mal de Alzheimer é basicamente de exclusão. É preciso estar atento para não confundir um esquecimento benigno e comum na velhice com a demência de Alzheimer. “O esquecimento de uma data de aniversário ou do lugar onde foi deixada uma chave por uma pessoa idosa, não significa que ela está desenvolvendo alguma demência; significa apenas que está com sua memória mais lenta”, afirma a coordenadora.
Neidil destaca que, graças à tecnologia e ao desenvolvimento de vacinas, antibióticos e cuidados sanitários, houve um crescimento da população idosa no País. Ela observa que à medida que essas conquistas sociais foram acontecendo, a população foi envelhecendo, mas a sociedade não se preparou para isso. É que junto com as conquistas sociais também vêm os problemas, como o desafio de controle de doenças como hipertensão arterial e diabetes. “Se por um lado todos querem envelhecer, por outro a sociedade não está preparada. No Brasil, que ainda tem um percentual importante de jovens, é grande o preconceito contra a velhice, que precisa ser combatido”, conclui.
Estímulo da memória pode ajudar a prevenir a doença
Atividades simples como ler bastante, fazer contas, jogar palavras cruzadas e, principalmente, participar ativamente de atividades sociais podem ajudar a prevenir o desenvolvimento de demências, incluindo o Mal de Alzheimer. Como se trata de uma doença relacionada a um fator genético, as pessoas que já têm uma tendência para o seu desenvolvimento e estimulam pouco a memória correm o risco de desenvolvê-la mais cedo e mais gravemente. “As características genéticas podem se manifestar mais ou menos rápido, em função do meio-ambiente e também da escolaridade, por isso a importância de se estimular a memória”, reforça a coordenadora do Programa de Saúde do Idoso do Ministério da Saúde, Neidil Espínola. “Participar de grupos, estar ativo na família e na sociedade, ser estimulado para atividades, pode ajudar a memória”, acrescenta.
Quando se obtém o diagnóstico do Mal de Alzheimer, é importante que a família seja apoiada e orientada. A Associação Brasileira de Alzheimer promove grupos de auto-ajuda aos familiares em vários estados brasileiros. São encontros em que as famílias trocam experiências e aprendem a cuidar e a entender o que está acontecendo com o idoso. “Uma das situações mais dramáticas para uma família é ver um familiar querido com uma demência. É muito difícil porque aquele idoso que sempre foi o esteio da família está comprometido nas coisas mais simples da vida”, afirma Neidil.
A coordenadora destaca que não se deve confundir velhice com a doença. “Velhice não é doença. É importante que a família, os médicos e os profissionais de saúde estejam preparados para fazer a diferença entre o que é fisiológico e o que é patológico na velhice”, alerta.