Esporte

Talento precoce nos tabuleiros

Com uma sólida base familiar, pequenos atletas de Pomerode vêm conquistando seu espaço dentro do Xadrez

3 de julho de 2023

Foto: Bob Gonçalves / Jornal de Pomerode

Um esporte como o Xadrez requer muita concentração, disciplina e, principalmente, estratégia. E estas qualidades, se trabalhadas desde cedo, podem ser a garantia de muito sucesso, tanto na parte esportiva, quanto na pessoal.

Nos últimos meses, dois atletas de Pomerode vêm se destacando em competições pelo Estado e até pelo Brasil. Mas o que mais impressiona é a idade deles.

Um deles é Bruno Arthur Krüger, de apenas seis anos. O interesse pela modalidade iniciou há cerca de 10 meses, influenciado pelos resultados obtidos por usa irmã mais velha, Nathalia, em torneios e campeonatos.

“Toda vez que ela voltava com a medalha para casa, ele também queria. Foi então que começou a brincar com as peças no tabuleiro e não parou mais. E como sempre viajamos em família, para as competições, ele acabava vendo a Nathi jogar. E como havia outros atletas com a idade parecida com a dele, um certo dia, resolveu tomar coragem e enfrentar os outros atletas”, destaca o pai, Wolnei Krüger.

Apesar de não treinarem juntos, Bruno tem como influência a sua irmã, por conta da sua dedicação e a disciplina.

“Quando percebe que para obter resultado, é preciso treinar, ele se espelha na irmã e resolve levar a sério. Tanto que a sua rotina é bastante ‘puxada’ com estudos nos dois períodos, na Escola Básica Municipal Dr. Amadeu da Luz, além de frequentar as Escolinhas da Acaen e do Floresta, três vezes por semana. Então, sobra pouco tempo para treinar Xadrez, tanto em casa, quanto no Clube de Xadrez de Jaraguá do Sul, equipe pela qual joga”.

Mas mesmo sem treinar muito, o pequeno atleta impressiona pela qualidade do seu jogo. “O Bruno sempre foi uma criança muito agitada, porém, assim que iniciou na modalidade, percebi melhoras no raciocínio lógico e na memorização. Há situações de mudanças táticas de 10, 15 lances que, muitas vezes, ele já memoriza na primeira vez em que é passado para ele”, comenta o pai.

A primeira competição de Bruno ocorreu em junho de 2022, no Circuito Escolar de Penha, a convite de Michael da Costa. Segundo Wolnei, o professor daquela cidade foi o maior incentivador.

“Devo admitir que não queríamos que ele jogasse, pois era muito novo. Mas o Michael insistiu e o Bruno começou a pegar gosto pelo esporte. Uma coisa engraçada é que ele jogou aquele torneio contra crianças de 14 anos e, a maioria das partidas, teve que jogar em pé, pois a mesa era muito alta e ele mão enxergava o tabuleiro direito”.

Wolnei destaca que o primeiro troféu conquistado por seu filho, no Festival Catarinense da Criança e Sub 20, em Rio Negrinho, foi um dos momentos mais emocionantes já vividos por ele.

“Já tínhamos vivenciado algo parecido com a Nathalia, quando ela tirou o quarto lugar no Campeonato Brasileiro de Xadrez Escolar, em Poços de Caldas (MG), ano passado. Mas ver a alegria do Bruno com seu primeiro troféu, não tem como explicar. É um sentimento que não cabe no peito dos pais. Ver seu filho feliz é a maior emoção que um pai pode sentir, é fazer parte daquele momento único que seu filho está passando e sentindo”.

E ainda segundo Wolnei, isso é aflorado por conta da dedicação dos pais, que não medes esforços para que seus filhos possam participar das competições e proporcionar este tipo de emoção a eles.

“Por serem dependentes em tudo que envolve a competição – inscrições, estadia, transporte, logística, descanso e apoio psicológico, principalmente, quando os resultados não são tão bons -, os pais são fundamentais. Mesmo os custos sendo elevados, vale a pena, pois acabamos sendo os gestores da carreira. Além disso, a família acaba se fortalecendo, com os momentos vivenciados juntos. É gratificante ver seu filho ter amor e abraçar a causa pelo esporte. Outro ponto importante é saber dosar a responsabilidade do esporte, sem perder a ‘essência da infância’. A Nathalia já tem uma exigência por resultados maior, em categorias muito competitivas. Então, temos que ter esse cuidado de dar esse tempo livre a eles, para que tenham prazer naquilo que façam e a consciência de que os resultados são consequência do esforço diário”, conclui Wolnei.

 

Conquistas em família

Se ter uma irmã ligada ao esporte já é algo bom, imagina ter irmão, pai e mãe como suas grandes referências. Pois este é o caso de Théo Henrique Schlüter, de cinco anos, outro atleta precoce do Xadrez em nossa cidade.

O atleta, que representa a Associação Pomerodense de Xadrez / Seel / Sefe, frequenta as aulas desde os quatro anos.
“Por sermos de uma família de enxadristas, ele começou a ter contato com as peças desde pequeno, o que acabou se tornando um grande incentivo. Ele via o irmão, Caio Lucca, e meu marido, Heidy Almeida, ganhar medalhas nas competições, e quando ele conquistou a sua primeira, foi muito emocionante. Tem uma frase que ele falou certa vez, que marcou muito: ‘quando alguém da nossa família ganha uma medalha, todos nós ganhamos’”, comente sua mãe, Martina Schlüter, que também é árbitra da modalidade.

Ela conta que o filho é um menino com muita energia e muito amoroso, por isso, acreditava que mantê-lo sentado, na frente de um tabuleiro, seria um grande desafio. “Mas aconteceu justamente o contrário do que pensei. Desde o ano passado, no seu primeiro torneio, ele já conseguiu jogar todas as partidas do dia”.

Praticante de outros esportes, como futebol, tênis de mesa e tênis de campo, Théo estuda na E.E.B.M. Prof. Vidal Ferreira, onde frequenta o Pré 2. E no que depender da família, o menino sempre terá muito apoio.

“Sempre guiaremos ele e faremos de tudo para que possa ‘voar alto’. Acho que o fato de ter começado cedo, será um impulso a mais para ele. E se um dia ele quiser e preferir outro esporte, está tudo bem, estaremos aqui para incentivá-lo. Queremos que ele conheça e pratique outras modalidades também”, destaca Martina.

Mas além dos troféus e medalhas que já conquistou – 15 no total, em torneios realizados Pomerode, Blumenau, Penha, entre outras cidades -, um dos grandes momento dentro do Xadrez foi quando os irmãos se enfrentaram.

Foto: Bob Gonçalves / Jornal de Pomerode

 

“Eles jogam e treinam juntos. Mas quando as competições são com as categorias mistas, eles acabam se enfrentando. A primeira vez que isso aconteceu, para mim, foi muito emocionante e desafiador, ter que torcer para os dois (risos). Eles brincam muito e brigam, como todo irmão, costumo dizer que incomodam um ao outro pelo menos dez vezes ao dia, mas que defendem um ao outro, no mínimo, onze. E tenho certeza que esse elo de irmãos enxadrísticos e a parceria entre eles só tem a crescer”, conta.

Martina destaca, também, duas premiações que marcaram, tanto ela, quanto a família. “O primeiro troféu que ele ganhou, em uma competição, na cidade de Timbó, foi o de terceiro lugar. E também, sua medalha de 4º lugar no Campeonato Brasileiro de Xadrez Escolar, competição onde as melhores crianças do Brasil participaram, em Poços de Caldas (MG). Essa é a recompensa pelo esforço que os pais dispensam para seus filhos. Afinal, as vitórias só chegam com treinos e com disciplina, mas precisa ser algo divertido para a criança também, sem ser forçado.

Costumamos falar que a criança aprende mais em uma derrota que com uma vitória, fazendo-a refletir que, para ser ainda melhor, é preciso continuar se dedicando”.

A mãe de Théo também ressalta o quanto o Xadrez é um esporte lindo, que traz muitos benefícios, muito acima do que qualquer medalha ou troféu.

“Em cada partida, a criança aprende muito: aprende a esperar sua vez de fazer o lance, aprende a perder, aprende a se concentrar e a respeitar. E o mais importante de tudo: se diverte… e muito! Faz várias amizades, conhece vários lugares novos, está junto de crianças e adultos de diversas culturas diferentes. Os atletas só são adversários durante a partida. Acabou o jogo, já estão brincando juntas, é lindo de ver a interação delas entre uma partida e outra. O Caio, que vai para competições desde os cinco anos, tem amigos que fez no Xadrez e só vê nos torneios. Mas parece que estão juntos todos os dias, pelo laço de amizade que formam”.

Para finalizar, Martina diz que a modalidade o é um Universo sem fim, afinal sempre há algo novo acontecendo, e é por isso que ela é espetacular.

“Mesmo ‘acontecendo’ dentro de um tabuleiro com 64 casas e 32 peças, na aparência pode parecer simples, mas em sua essência, é muito profundo. Hoje, já temos uma agenda de competições, pois o Caio, pratica outros esportes também. Pode até ser exaustivo, mas é compensador. E esse apoio da família se torna ainda mais fundamental, quando há amor envolvido. Um amor que se reverte em conquistas, dentro e fora do esporte”, conclui, orgulhosa.

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