SUS oferece teste do pezinho e tratamento para doenças detectadas
O choro forte do bebê é o momento mais aguardado na hora do parto. O som é um dos sinais de que está tudo bem com a saúde da criança, mas só isso não basta.
O choro forte do bebê é o momento mais aguardado na hora do parto. O som é um dos sinais de que está tudo bem com a saúde da criança, mas só isso não basta. Mesmo com uma aparência saudável, é importante que os recém nascidos sejam submetidos a um exame essencial para o diagnóstico de doenças congênitas graves: o teste do pezinho.
Por meio desse teste é possível detectar doenças como a fenilcetonúria e o hipotireoidismo congênito. Essas doenças, se não tratadas rapidamente, podem levar à deficiência mental do bebê. O exame é um direito de toda criança e deve ser feito 48 horas após o nascimento.
“Com a simples coleta de gotinhas de sangue retiradas do calcanhar do bebê é possível mudar o curso de doenças que causariam seqüelas irreparáveis na saúde física e mental deles”, afirma Tania Marini de Carvalho, assessora técnica em Triagem Neonatal do Ministério da Saúde. “É importante que a população saiba que tem direito à realização deste teste pelo Sistema Único de Saúde (SUS)”, acrescenta.
Existem versões do teste do pezinho capazes de identificar mais de 30 doenças, mas apenas fenilcetonúria e hipotireoidismo congênito são habitualmente detectadas nos programas nacionais em todo o mundo. Essas duas doenças são congênitas e podem provocar graves seqüelas.
A fenilcetonúria é considerada uma doença rara e atinge uma em cada 15 mil crianças brasileiras. A fenilcetonúria provoca alterações no metabolismo do bebê. Se não for tratada a tempo, causa deficiência mental irreversível, convulsões, alterações na pele e no cheiro característico da urina. A criança portadora da doença precisa ter uma alimentação controlada durante toda a vida. Devem ser eliminados de sua dieta alimentos à base de proteínas, que contêm o aminoácido conhecido como fenilalanina. “Com o diagnóstico precoce, é possível dar inicio a uma dieta especial e assim evitar o aparecimento de seqüelas”, ressalta a assessora técnica do ministério. “O tratamento é tão eficiente que evita a deficiência mental e muda o curso da doença”, completa.
A incidência do hipotireoidismo congênito no Brasil é muito maior. Atinge uma em cada 3.500 crianças. A doença é provocada pela diminuição ou ausência de um hormônio produzido pela glândula tireóide. Sem o hormônio, impede-se o desenvolvimento de todo o organismo e a criança pode começar a apresentar sinais de deficiência mental já no primeiro mês de vida. Feito o diagnóstico precoce, é preciso iniciar o tratamento, repondo o hormônio que o bebê não fabrica. “O tratamento é simples, barato e seu efeito é grande e permite uma vida normal para a criança”, observa Tania Carvalho.
Rede municipal de saúde de Pomerode oferece o serviço há 10 anos
A rede pública de saúde oferece gratuitamente para os pequenos pacientes tanto a realização do exame como todo o acompanhamento e tratamento, por meio do Programa Nacional de Triagem Neonatal (PNTN) do Ministério da Saúde. Vinte e quatro estados brasileiros estão credenciados no programa, que está implantado em quase 90% do País. Apenas o Amapá, Roraima e Piauí ainda não participam. O teste já é viabilizado pela rede municipal de saúde de Pomerode, através do Estado, há aproximadamente 10 anos. Hoje, no Posto de Saúde do Centro, assim como em todos os PFS´s do município, o serviço é oferecido gratuitamente. No Brasil, a cobertura do PNTN atinge mais de 70% dos recém-nascidos, beneficiados pelo acesso ao exame e ao tratamento das doenças.
Para a realização deste trabalho, foram credenciados serviços de referência em triagem neonatal, que são os núcleos operacionais em cada estado. O programa é implantado em diferentes fases. De acordo com o nível de organização do sistema de saúde estadual, o estado pode se habilitar em determinada fase do PNTN.
Na primeira fase é oferecido o diagnóstico, o acompanhamento e o tratamento de crianças detectadas com fenilcetonúria e hipotireoidismo congênito. A segunda fase garante toda assistência oferecida na fase um e ainda o diagnóstico e o tratamento das hemoglobinopatias (doenças que envolvem a hemoglobina). A principal hemoglobinopatia é a anemia falciforme.
A terceira fase do programa engloba tudo o que é oferecido nas fases anteriores e inclui também o diagnóstico e atendimento à fibrose cística ? doença genética que afeta especialmente pulmão e pâncreas. “Pelo Programa Nacional, disponibilizado pelo SUS, é possível diagnosticar até quatro doenças. O grande diferencial é que o governo garante não só o exame de triagem, mas a realização de exames confirmatórios, o acompanhamento, o tratamento e os medicamentos necessários”, observa Tania Carvalho.
Após o resultado dos exames e da confirmação de que o bebê é portador de uma das doenças diagnosticadas no PNTN, é realizado o trabalho chamado de busca ativa. Convoca-se a família para uma consulta de orientação e início do tratamento. Este atendimento é feito por uma equipe multidisciplinar, garantida também pelo SUS.
Nesse serviço de referência, a equipe mínima obrigatória inclui profissionais das áreas de pediatria, endocrinologia pediátrica, nutrição, psicologia e serviço social. “Todos os serviços do Brasil que foram credenciados têm essa equipe; muitos têm até mais profissionais do que o mínimo exigido”, afirma a assessora do PNTN. Ela ressalta que pelo fato de todas as doenças previstas no programa serem crônicas, o acompanhamento e tratamento deve ser realizado por toda vida. Isso reforça a importância da atuação de profissionais de psicologia e do serviço social para apoiar tanto o paciente como a família.
Para cada doença, o SUS oferece os insumos específicos. No caso da fenilcetonúria existe uma fórmula de aminoácido fornecida na rede pública de Saúde. Essa fórmula é necessária para equilibrar a dieta alimentar do portador da doença. “A fórmula complementa a alimentação restritiva da criança, em quantidade suficiente para garantir o desenvolvimento do bebê”, explica Tania Carvalho.
O exame de triagem neonatal poderia detectar outras doenças, mas apenas essas quatro foram escolhidas como prioritárias para dar início ao programa nacional. “O governo acredita que se deve priorizar a triagem neonatal de doenças com tratamento estabelecido, assim como o fornecimento de insumos pela rede pública de Saúde que garantam os benefícios do programa de prevenção “, conclui.
Um exame rápido, indolor e de extrema importância
A recomendação do Ministério da Saúde para a realização do teste do pezinho é de que a coleta do sangue seja feita 48 horas após o nascimento. Ou seja, o exame deve ser realizado na primeira semana de vida da criança, para dar início ao tratamento o mais rápido possível. É feita uma punção no calcanhar da criança com uma lancetinha. O sangue é colhido em um papel filtro especial distribuído para todos os postos de coleta. Deve-se destacar que o calcanhar da criança é um local razoavelmente indolor que permite uma coleta simples e segura.
O sangue seco no papel filtro é colocado em um envelope e enviado para análise no laboratório credenciado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Quinze dias após a coleta já se pode ter o diagnóstico. Caso o resultado seja positivo para alguma doença prevista no PNTN, o laboratório faz uma busca ativa para localizar o bebê e realizar uma segunda coleta para o exame urgente de confirmação e diagnóstico final.