SC-418: uma rodovia traiçoeira
Estrada que liga Pomerode a Blumenau registra mais de 100 acidentes em 10 meses, o que tem assustado a população que mora às margens da rodovia.
Era para ser um domingo comum. Comum em todos os sentidos. Família reunida, passeios, brincadeiras e tudo que um domingo pode oferecer. Era para ser. Mas de comum não houve nada, no dia 20 de maio deste ano. Duas famílias tiveram seu ciclo interrompido por causa de um acidente de trânsito. Naquela tarde chuvosa de maio, seis pessoas perderam a vida, em um grave acidente na SC-418, que corta a cidade de Pomerode e que dá acesso a Blumenau. A colisão aconteceu no Km 07 da rodovia, próximo a uma lombada eletrônica desativada.
Adair Cardoso de Souza e sua esposa, Angelita Aparecida Carneiro, junto com o irmão Ademar Carneiro de Souza, os filhos Thiago André Ramos de Souza e Tarsila Naiara Ramos de Souza, e Marcos Konell, 40 anos, que era morador da cidade de Pomerode, foram vítimas fatais do acidente.
Poucos meses antes, no dia 17 de dezembro de 2011, há cerca de 400m do local desta tragédia, cinco pessoas também perderam a vida. O acidente ocorreu por volta das 17h30min, no Km 6,6 da rodovia SC-418, onde há uma curva acentuada. O acidente envolveu um Corsa de Pomerode e um Fiat Uno, com placas de Fazenda Rio Grande (PR). O motorista do Corsa, e todos os ocupantes do Fiat Uno, morreram na hora.
A maior preocupação: as lombadas eletrônicas
Estas foram apenas 11 das 21 mortes registradas de dezembro de 2011 até novembro deste ano. Só em 2012, 10 pessoas perderam a vida nesta rodovia. Um fato que chama a atenção, é que a maioria das mortes registradas neste período, aconteceu próximo a locais onde existiam as lombadas eletrônicas. Sim, existiam, pois atualmente elas não estão cumprindo seu papel. Desligadas há meses, uma delas, que ficava em frente a uma escola às margens da SC-418, foi totalmente retirada do local. O motivo do desligamento das outras é o mesmo que em tantas outras localidades: licitação por parte do Estado. Os equipamentos do consórcio Perkons/TES foram desativados por determinação de uma liminar da Justiça, que analisa suspeita de improbidade administrativa na licitação. A decisão final ainda não foi julgada.
Enquanto o impasse não é resolvido, as lombadas eletrônicas permanecem desligadas e pedestres, ciclistas e motoristas correm perigo em uma das rodovias estaduais mais movimentadas do Vale do Itajaí.
A reivindicação: retorno das lombadas das eletrônicas
O número de acidentes, as mortes e a falta das lombadas eletrônicas têm assustado a população que mora às margens da SC-418. Não só moradores, mas também educadores, pais e alunos da E.B.M Olavo Bilac. A diretora do educandário, Joana Wachholz, afirma que a situação é preocupante, são centenas de alunos que circulam diariamente pela escola. Nos horários de entradas e saídas, a apreensão é ainda maior. Há anos, existia na escola o projeto Aluno-Guia. Trabalho que foi extinto depois da desativação da lombada eletrônica e por mudanças estruturais nos acessos à unidade escolar. “Nos preocupamos com a segurança dessas crianças, não podemos permitir que a vida delas corra riscos. Os motoristas passam aqui em alta velocidade e quando o projeto existia, alguns motoristas não respeitavam nem o trabalho nem os alunos, usando palavras de baixo calão para agredi-los”, relata.
Antes, a lombada eletrônica havia sido desligada e foi retirada do local, deixando a passagem livre para motoristas em alta velocidade. Agora, depois de muito reivindicar, foram colocadas lombadas físicas, nas duas vias, para tentar amenizar a passagem acelerada dos veículos.
“Com essa instalação, já pudemos observar uma melhora, temos um pouco mais de segurança; mas o que nos completará mesmo será a volta das lombadas eletrônicas”, desabafa.
A direção da escola diz que sabe que a falta destes equipamentos, é em função de problemas do Estado.
Sem lombadas, alta velocidade: um outro problema
Que as lombadas voltem a funcionar na rodovia, não é um pedido só da escola e dos pais dos alunos. Comerciantes ao longo da estrada também pedem essa solução ou, pelo menos, a diminuição dos problemas da alta velocidade. Outro grande problema, segundo Dáureo Manske, proprietário de um posto de combustíveis que margeia a rodovia, é a saída de caminhões do Distrito Industrial, no bairro de Testo Central.
“Nós observamos isso. Diariamente, os caminhões de grande porte, tanto para entrar ou para sair na rua, e que transitam na SC-418, precisam invadir a pista contrária ao fluxo para seguir adiante. Como não há uma lombada eletrônica, os carros vêm muito rápido e, às vezes, não conseguem parar, o que gera as colisões no local”, relata.
Além das lombadas, falta estrutura
De acordo com Valmir Kurth, morador de Testo Central, a insegurança, é grande. “Posso afirmar que a rodovia possui alguns pontos onde há o abuso da velocidade. Isto se dá pela falta de controladores de velocidade, famosos ‘pardais’ em diversos pontos da rodovia. Posso até citar uma situação que eu vi no fim de semana, quando me deslocava pela rua Bahia, em Blumenau, sentido a Indaial, onde estão instalados e ativos, vários controladores de velocidade”, relata.
Outra situação que o morador vivencia é defronte à saída da sua residência, pela falta de acostamento. “Esta situação vem desde a reforma da rodovia, quando deixaram muito pouco espaço para o acostamento, e até hoje, eu e meus familiares corremos o risco de sofrermos um acidente e, muitas vezes somos pré-julgados como infratores e imprudente pelos outros motoristas, quando tentamos acessar na pista de rolagem”, conta Valmir.
O local da falta de acostamento é defronte à saída do Vale do Selke, logo após a Escola Básica Municipal Olavo Bilac, em Testo Central. Segundo ele, outro ponto que apresenta problema é em frente à Escola Básica Municipal Olavo Bilac, no lado da Igreja Evangélica de Testo Central, onde o acostamento também é muito estreito, colocando muitas vezes em risco alunos da escola, moradores e os motoristas.
“Outra situação que vejo, deveria ser a colocação de iluminação pública logo após a divisa do município de Pomerode com Blumenau. E esta situação vai até aproximadamente a rua Johann Findeis, que fica há 400 metros da divisa. Para finalizar, acho que as faixas de segurança da rodovia, deveriam receber uma nova pintura, pois em dia de chuva, estas não são mais visíveis”, conclui.
A SC-418 em números
Mensalmente, a Polícia Rodoviária Estadual, responsável pelo policiamento da SC-418 e de todas as outras rodovias estaduais, lança no site do órgão as estatísticas de cada rodovia.
De janeiro até outubro, foram registrados 103 acidentes em todo o trecho entre Blumenau, onde ela tem início, e Pomerode. Ao todo, 194 veículos estiveram envolvidos e 55 pessoas ficaram feridas.
A redação tentou entrar em contato diretamente com o Secretário de Infraestrutura do Governo do Estado, Paulo França, todavia ele não atendeu e nem retornou as ligações.