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Saudade que não tem idade

Sentimento que faz lembrar algo com a vontade de manter perto; mudar o que não se pode mais modificar e trazer de volta sentimentos adormecidos.

1 de junho de 2015

Saudade. Sentimento que faz lembrar algo com a vontade de manter perto o que não se pode mais ter; mudar o que não se pode mais modificar e, até, trazer de volta outros sentimentos adormecidos. Independente da definição desta palavra, seu significado é unicamente emocional: um estado de espírito, uma lembrança boa, um pesar…
No Dia da Saudade, celebrado em 30 de janeiro, o Jornal de Pomerode elaborou uma matéria especial, inspirada em um vídeo dos alunos do 7º semestre do curso de jornalismo da Unimep, de Piracicaba/SP.
Originalmente portuguesa, a palavra saudade não tem tradução em outras línguas. A Professora de Língua Portuguesa e Mestre em Educação, Scheila Maas, explica: “sempre ouvi dizer que saudade era uma palavra exclusiva da Língua Portuguesa, de que nas outras línguas não haveria uma palavra que dissesse (ou tentasse explicar) esse sentimento. Por exemplo, na língua alemã falada em Pomerode, comumente ouve-se a expressão Heimat ou Heimweh para se referir à saudade. Mas são aproximações, uma vez que Heimat ou Heimweh significam algo como saudade da casa ou do lugar, ou ainda Sehnsucht, que significa desejo de ter algo de volta. Outras línguas como inglês e francês também têm aproximações, mas não uma palavra única que exprima esse sentimento. Na Língua Portuguesa, temos, lógico, sinônimos para ela, como nostalgia e reminiscência, mas que não traduzem com a mesma intensidade o sentimento. Etimologicamente, de acordo com o dicionário Aurélio, a palavra vem do latim solitas, solitatis, que significa solidão. Como a língua é uma estrutura dinâmica e viva, algumas palavras mudam (ampliam, restringem) seu sentido, ressignificam devido a vários fatores como o passar do tempo, diferenças regionais, culturais e assim por diante. Esse fenômeno aconteceu com a palavra em questão e hoje ela traduz para nós, brasileiros, falantes da língua portuguesa, esse sentimento que às vezes é tão nobre e ao mesmo tempo tão dolorido”.
O Professor de Filosofia, Isaias Kniss Sczuk, faz uma análise da palavra em seu contexto filosófico. “No decorrer da história da filosofia é desconhecida qualquer obra filosófica sobre a saudade, mas o sentimento em-si é perceptível em várias reflexões. Saudade é um sentimento difícil de ser explicitado, se refletirmos profundamente a sua significação caímos em um paradoxo e associamos a saudade à nostalgia, palavra que no século 17, na medicina europeia, indicava a volta de uma dor (etimologicamente temos a junção de dois vocábulos gregos: nostos -refresso e algós-dor). O paradoxo consiste de a saudade ser uma tristeza imensa, com um forte desejo de retornar, assim a saudade é algo bom e ruim. Bom por estar associada a uma lembrança boa que marcou o sujeito que a sente, e ruim por ser uma dor. Para tanto a saudade é abstrata, é uma dor da alegria, como definiu muito bem Chico Buarque “saudade é o revés de um parto”, completa.
Indiferente das diversas explicações, o sentimento é único para cada um e transmite às pessoas a alegria e a dor de um momento, de uma história.

“A saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ela no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o dentista e ela para a faculdade, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-la, ela o dia sem vê-lo, mas sabiam-se amanhã. Contudo, quando o amor de um acaba, ou torna-se menor, ou quando alguém ou algo não deixa que esse amor siga, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter. Saudade é basicamente não saber. Não saber mais se ela continua fungando num ambiente mais frio. Não saber se ele continua sem fazer a barba por causa daquela alergia. Não saber se ela ainda usa aquela saia. Não saber se ele foi à consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ela tem comido bem por causa daquela mania de estar sempre ocupada; se ele tem assistido às aulas de inglês, se aprendeu a entrar na Internet e encontrar a página do Diário Oficial; se ela aprendeu a estacionar entre dois carros; se ele continua preferindo Malzebier; se ela continua preferindo suco; se ele continua sorrindo com aqueles olhinhos apertados; se ela continua dançando daquele jeitinho enlouquecedor; se ele continua cantando tão bem; se ela continua detestando o MC Donalds; se ele continua amando; se ela continua a chorar até nas comédias. Saudade é não saber mesmo! Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos; não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento; não saber como frear as lágrimas diante de uma música; não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche. Saudade é não querer saber se ela está com outro, e ao mesmo tempo querer. É não saber se ele está feliz, e ao mesmo tempo perguntar a todos os amigos por isso… É não querer saber se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais saber de quem se ama, e ainda assim doer; Saudade é isso que senti enquanto estive escrevendo e o que você, provavelmente, está sentindo agora depois que acabou de ler…”
Miguel Falabella

“Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche”.
Martha Medeiros

Depoimentos
“Sinto falta e muita saudade dos meus filhos. Gostaria muitos de vê-los com mais frequência”.
Erika Baade, 79 anos /Aposentada

“Sinto saudade do meu avô, do tempo em que ele me colocava no colo e brincava comigo. Vou visitá-lo umas três vezes por semana, mas sinto saudades entre esse tempo”.
Lucas Fernando Glienke/Estudante

“Saudade pra mim é aquele aperto no peito, aquela vontade de chorar, de relembrar os bons momentos. Sinto muita saudade, em especial dos meus pais, do carinho deles”.
Fabiana Fragoso/Fisioterapeuta

“Sinto saudade de três pessoas muito importantes pra mim. Meu marido e em especial minhas netas, uma delas que morreu de forma trágica, Ariana. Choro muitas vezes por eles”.
Inês Donato/Pensionista, avó de Ariana Donato Arndt

“Sentimos saudade de nossas famílias, nossos pais, irmãos e amigos de Aracajú. Estamos muito distantes deles e não vemos a hora de rever a todos. A ansiedade é muita”.
Casal Cleiton Nunes, 33 anos/Vigilante e Joelma de Lima, 39 anos/Assistente administrativo

“Sinto saudades da minha mãe, que faleceu em 93. Sinto muita falta dela. Também sinto saudades dos meus tempos de infância, dos meus amigos daquela época. Sinto uma angústia, um aperto no peito”.
Antônio Ferreira Padilha, 47 anos/Industriário

“A saudade é um sentimento estranho. Às vezes, nos deixa muito felizes, noutras, muito emotivos. Mas como está sempre presente em nossas vidas, temos que conviver com ela em harmonia. No meu caso, a saudade que mais dói é a do meu pai, Antonio Gonçalves, que faleceu em 2007. Seus ensinamentos me fizeram o que sou, uma pessoa que procura compartilhar bons sentimentos, como a justiça e a amizade”.
Bob Gonçalves, 33 anos/Redator Esportivo

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