Polícia

Polícia Civil dá detalhes do ataque à creche, em Blumenau, após conclusão do inquérito

Segundo a Polícia Civil, o autor foi indiciado por quatro homicídios – com quatro qualificações.

17 de abril de 2023

Foto: Raphael Carrasco / Jornal de Pomerode

Em uma coletiva de imprensa realizada na tarde desta segunda-feira, 17 de abril, o delegado-geral da Polícia Civil de Santa Catarina, Ulisses Gabriel, bem como os delegados responsáveis pela investigação, Ronnie Esteves e Rodrigo Raitez, apresentaram a conclusão do inquérito policial que apurou o atentado ao CEI Cantinho Bom Pastor, em Blumenau, ocorrido no dia 05 de abril.

Acompanhado de representantes das entidades envolvidas na investigação e das Forças de Segurança, o delegado apresentou os detalhes da investigação e também sobre o histórico do autor dos crimes.

Segundo a Polícia Civil, o autor foi indiciado por quatro homicídios – com quatro qualificações – sendo motivo torpe, meio cruel, impossibilidade de defesa das vítimas e por serem menores de 14 anos. Além disso, ele responderá por cinco homicídios tentados, com os mesmos qualificadores.

 

Depoimentos obtidos e histórico com drogas

O delegado Ronnie Esteves, coordenador da DIC Blumenau, explicou que a 1ª etapa da investigação foi o flagrante do crime, momento em que o autor se apresentou à Polícia e foi detido, seguido do início da documentação da dinâmica do ocorrido.

Outro passo da investigação foi a identificação de pessoas próximas ao autor, que poderiam ser ouvidas e, com base nestes depoimentos, começar a traçar um perfil sobre quem era o homem que cometeu o atentado.

Um dos depoimentos mais significativos foi o da mãe do autor. Segundo o delegado, ela afirmou ter criado o filho sozinha e que ele era tranquilo e respeitador. Inclusive, quando começou o relacionamento com o padrasto do autor, a relação entre os dois era próxima e tranquila.

O padrasto teria ajudado o homem a adquirir uma moto e depois também o auxiliou a ingressar em um serviço de transporte por aplicativo. No entanto, logo após este fato, o autor teria começado a consumir drogas, algo que trouxe mudança ao seu comportamento.

O autor do atentado teria começado a se comportar de maneira mais agressiva e paranoica, ouvindo barulhos que não ocorriam. Inclusive, ele começou a criar a ideia de que o padrasto o estava perseguindo e o vigiando, afirmando à mãe que o companheiro dele tentou instalar um chip no olho dele.

Diante da situação, o autor dos crimes saiu de casa e foi morar com um tio. Depois de cerca de 30 dias, ele retornou à casa da mãe e atacou o padrasto, fato já citado no levantamento da ficha criminal do homem.

“Após este ataque, ele foi internado em uma clínica de reabilitação e, no meio tempo em que permaneceu internado, houve o término da relação entre a mãe e o padrasto dele. Quando voltou para casa, o autor também voltou a ser usuário de drogas, mesmo após a internação”, disse o delegado Ronnie Esteves.

Ainda com relação aos depoimentos obtidos, outro que mereceu destaque foi de um amigo do autor. Este amigo contou à Polícia Civil que o homem que realizou o ataque lhe disse sobre a machadinha, sobre a suposta perseguição do padrasto e sobre um policial militar, por quem parecia ter admiração.

Também neste depoimento, o amigo afirmou que o autor teria lhe dito que “faria algo grande”, mas que como já dizia outras coisas que pareciam alucinação, não levou a sério as afirmações.

Segundo o delegado, o policial militar citado frequentava a mesma academia na qual o autor esteve uma única vez, e que era um lutador de jiu-jitsu. O policial foi ouvido e qualquer envolvimento dele com o autor ou participação no crime foi descartada.

“O autor chegou a dizer, nos depoimentos, que o policial era quem teria ordenado o crime, porém, quando comprovamos que não havia qualquer relação entre eles, ele já mudou o discurso. Quando o questionamos sobre o porquê de ter feito aquilo, afirmou que não foi coagido ou ameaçado, e que fez para mostrar para ele (o policial) que também era corajoso”, disse o coordenador da DIC Blumenau.

Ainda, em depoimento, o autor teria afirmado que teve como alvo uma creche pela fragilidade das vítimas. “Ele disse que ‘escolheu’ uma creche porque as crianças seriam alvos mais fáceis e correm mais devagar, o que facilitaria para o autor alcançá-las, caso tentassem fugir, nas palavras deles”, completou Esteves.

O autor disse ainda, à Polícia, que não se arrepende do que fez e que faria novamente.

 

Cronologia dos fatos

O outro delegado à frente das investigações, Rodrigo Raitez, afirmou que a Polícia Civil também apurou, com detalhes, como foi o dia do ataque e quais foram os passos do criminoso, até que se apresentasse à Polícia e fosse detido.

“Buscamos câmeras de segurança na cidade, de estabelecimentos e as cedidas pela prefeitura, e conseguimos montar um panorama daquele dia”, disse Raitez.

Segundo a investigação, o autor saiu de casa por volta das 8h03min, no dia 05 de abril, e seguiu até uma rua, no bairro Escola Agrícola, onde há dois estabelecimentos de ensino. Ele estava em uma motocicleta, uma Honda/CG e afirmou, em depoimento, que inicialmente havia pensado em executar o ataque ali, mas que os muros das instituições eram altos e ele não conseguiria passar, conforme o autor disse, à Polícia.

Dali, ele seguiu para uma academia, no bairro Itoupava Seca, onde ficou por cerca de 21 minutos, entre 8h16min e 8h39min. Ao sair da academia, ele seguiu para a Rua dos Caçadores, onde fica o CEI Cantinho Bom Pastor.

Ele invadiu o local por volta de 8h49min e ficou apenas 20 segundos dentro das dependências da creche. Segundo a investigação, da chegada dele às imediações do CEI até a fuga, se passaram cerca de três minutos.

Dali, ele seguiu em direção ao Batalhão da PM, pela Rua dos Caçadores, parando em um posto de gasolina a cerca de 500 metros da sede da PM, onde comprou uma água e um cigarro. Ele se entregou por volta de 9h08min.

 

Avaliação do perfil e do celular do autor

O delegado Ulisses Gabriel afirmou a Polícia Civil analisou o celular do autor, além de pesquisar sobre seu perfil nas redes sociais.

Com isso, foi possível a produção de conhecimento para traçar um perfil psicológico e de redes sociais, que, de acordo com o delegado, serve para identificar traços que possam apontar tendências a crimes e, com isso, prevenir que novas ocorrências aconteçam.

Na coletiva, o delegado afirmou, ainda, que não houve coordenação no crime, ou seja, não foi planejado por mais de uma pessoa, por isso a classificação como caso isolado. Foi uma ação não preparada e não coordenada.

Quanto a um possível transtorno mental, a investigação afirmou que ainda não é possível apontar qualquer diagnóstico e que, pelos depoimentos, é possível apenas identificar episódios de surto. Seria necessária, portanto, uma análise mais aprofundada para afirmar ou não que ele possui algum transtorno mental.

Ainda, o delegado-geral destacou que o autor não possui qualquer relação com células neonazistas.

 

Fake News

Outro ponto destacado durante a coletiva foi a enxurrada de Fake News que surgiu logo após o ocorrido e que, segundo Ulisses Gabriel, prejudica o trabalho da Polícia. Por isso, houve o apelo à população para que não compartilhe Fake News, já que o trabalho para desmentir esses boatos atrasa o trabalho da Polícia, que deveria estar 100% focado na investigação do crime.

Por fim, foi reforçado o compromisso das forças de segurança em relação às ações de prevenção nas escolas, com programas especiais, além do compromisso do Governo do Estado em garantir a segurança nos estabelecimentos de ensino.

 

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