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Pediatria, destino Timbó

A falta de médicos é um problema que está sendo registrado em todo o território nacional. E, por mais que a realidade quisesse ser evitada, ela chegou a Pomerode.

1 de junho de 2015

A falta de médicos é um problema que está sendo registrado em todo o território nacional. E, por mais que a realidade quisesse ser evitada, ela chegou a Pomerode. E chegou à área de pediatria, obstetrícia e ginecologia. Desde o dia 1º de agosto, o Hospital e Maternidade Rio do Testo (HMRT) deixou de realizar os atendimentos em questão, para pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). Isso porque o único pediatra que efetuava o sobreaviso no hospital solicitou redução de carga horária, em virtude de sua aposentadoria e, até o momento, não há substituto.
O pedido de afastamento foi efetuado no dia 19 de junho de 2013 e, desde então, a diretoria da entidade, junto com a Secretaria de Saúde do município, está à procura de um pediatra que assuma a função. O único pediatra que efetuava o sobreaviso no hospital, nos formalizou seu pedido de redução de carga horária e função, no dia 19 de junho. E é isto, de fato, que está acontecendo agora, onde ele nos certificou que desde o dia 1º de agosto não efetuaria mais este serviço. O hospital tem convênio com a Secretaria de Saúde, onde nos são repassados valores para as especialidades em sobreaviso, e, neste caso específico, tentamos de diversas formas, com apoio da nossa equipe interna, bem como diretoria e Secretaria, mas não tivemos sucesso até este momento, reitera o Diretor Executivo do HMRT, Rolf Kühn.
Para solucionar, provisoriamente o problema, foi firmada uma parceria com o Hospital e Maternidade OASE, em Timbó. Com isso, o sobreaviso de pediatria, obstetrícia e ginecologia serão efetuados no município vizinho, ou seja, partos e cesáreas, bem como internações de crianças, não mais poderão ser efetuados no hospital pomerodense. O Hospital e Maternidade OASE, em Timbó, passou a ser referência nestes atendimentos, a partir de agora. Nós, no Pronto Socorro, estaremos atendendo as pessoas, dentro das urgências e emergências. E, ao invés de acionar os nossos profissionais, vamos ter que acionar os profissionais de Timbó. E, com relação a gestantes e gestão de trabalhos de parto, pode-se, neste caso, se dirigir direto ao Hospital OASE. O HMRT continuará de portas abertas, efetuando todo atendimento e encaminhamento que compete para que essa situação, nesse momento um pouco delicado, não reflita de forma tão forte na comunidade. Estamos nos empenhando para que a contratação de um pediatra seja feita o mais breve possível, afirma Rolf.
Em caso de emergências, o HMRT continuará efetuando atendimentos. Todavia, fará o encaminhamento necessário para cada caso. Em caso de partos de emergência, cada situação será analisada e terá seu encaminhamento. Nestes casos, não tenho dúvida nenhuma de que nossa equipe efetuará o melhor trabalho. Teremos nossos médicos de plantão, que são clínicos gerais, e na hora em que for necessário, farão o melhor para que a pessoa seja bem atendida, explica.
O encaminhamento, segundo Rolf, será efetuado através da ambulância da Prefeitura. Toda essa atenção e cada caso vai ser avaliado. Se for uma emergência, não vamos medir esforços para dar toda orientação e suporte. Essa, inclusive, é uma orientação pessoal minha. Estamos com um problema e temos que amenizá-lo, para que tudo transcorra da melhor maneira possível. Nós, com certeza, não estamos nada satisfeitos e confortáveis com o que está sendo feito, mas se não temos profissional, não temos o que fazer, ressalta.
O problema registrado em Pomerode, não é um problema isolado. O país inteiro sofre com a falta de profissionais na área de pediatria. A falta de pediatras é um problema nacional. E, se for olhar, em todos os lugares temos a deficiência desse profissional e, se e em nossa cidade, os dois pediatras da Secretaria de Saúde também estão sobrecarregados. Nós nos empenhamos muito para trazê-los, mas com a agenda cheia, eles não têm como largar suas funções, para trabalhar conosco da maneira como nós precisamos, explica.
A diferença do profissional de sobreaviso é que ele se põe à disposição de uma instituição 24h por dia. Precisamos enaltecer que o Dr. John trabalhou por diversos anos, 24h por dia, 365 dias por ano de sobreaviso, praticamente sozinho. Ali reside outra dificuldade, pois, às vezes, é necessário ter três médicos ou, no mínimo dois, para compartilhar. Esta é outra dificuldade real. Não há negação por parte do Dr. John de continuar participando do sobreaviso, mas de maneira parcial, se conseguirmos trazer, pelo menos mais um ou dois, de preferência, para diluir essa carga, completa.
A falta de um profissional de sobreaviso, interfere, apenas, nos atendimentos prestados aos pacientes do SUS. O sobreaviso, pago pela Secretaria de Saúde, na verdade, é para o SUS. É um complemento de horário para o SUS, reitera.
O convênio firmado entre o HMRT e a Secretaria de Saúde aconteceu em 2009. Este convênio iniciou em maio de 2009 e está sendo mantido até hoje. Na verdade, até então, não existia o sobreaviso, explica.
O valor pago aos médicos também não agrada. A definição dos valores foi efetuada na época e foi tomado um valor base e atualizado monetariamente até hoje. Se percebe que esse valor está defasado e, talvez, está abaixo da média do mercado. E isso é uma discussão que terá que ser feita pela Secretária de Saúde com o Prefeito para o orçamento de 2014, enaltece.
O valor pago pela Secretaria é um repasse, aprovado legalmente. O hospital tem um convênio de pouco mais de R$ 7 mil reais, por especialidade, sendo o valor integral repassado ao sobreaviso. São cinco especialidades diferentes, além da laboratorial e anestesista, que tem um valor diferenciado, por atender a todas as especialidades.
A falta da prestação desse serviço é, para o HMRT, prejudicial. Com certeza, nós, de maneira nenhuma gostaríamos que isso fosse dessa forma. Prejudica, e muito, principalmente as gestantes, pois elas precisam se preocupar em ir a um local mais distante. O serviço do hospital também fica defasado, tendo em vista que a quantidade de serviços gerados, prejudica, também, na receita do hospital e ociosidade, pois temos toda a estrutura, mas não poderemos efetuar os atendimentos. Pois, mantendo só o convênio particular, vou reduzir em 60% o número de atendimentos na maternidade, sem falar na pediatria que também acarretará nas não internações, pois não tem pediatras.
Falando em números, o atendimento efetuado de maneira particular e através de convênio, nos últimos três meses, correspondeu a 40% dos atendimentos, o que somou mais de R$ 13 mil. Os outros 60% são ligados ao SUS e somam pouco mais de R$ 20 mil.
Uma das grandes dificuldades na contratação do profissional, além da falta de mão-de-obra especializada, é o valor abaixo do mercado pelo qual ele trabalhará. Tivemos diversas reuniões com profissionais, no entanto, em nenhuma delas obtivemos sucesso. Os profissionais que chegam aqui, muitas vezes, chegam estabilizados e com valores definidos, o que excede a nossa possibilidade, pois o nosso hospital, ainda sendo pequeno, tem um baixo volume de giro e não comporta o profissional que vem de um hospital e cidade maior, explica.
O Diretor Executivo do HMRT exalta a sua preocupação com o tema e afirma que a entidade está buscando uma solução para a questão. Nossa equipe está orientada para atender de forma eficiente aos que procurarem nosso pronto atendimento. Todavia, pedimos a compreensão da comunidade, pois estamos procurando uma solução. Nossa preocupação era para que isso não chegasse a acontecer. Mesmo assim, não tivemos outra opção e acreditamos que, agora, mais do que nunca, todos vão se engajar para solucionar o caso, finaliza.
Sem data definida para a solução do problema, os pomerodenses que necessitarem de atendimento pediátrico, ginecológico e de obstetrícia, através do SUS, devem se dirigir para o Hospital OASE de Timbó. O HMRT efetuará o atendimento emergencial e, se necessário, encaminhará os pacientes ao hospital da cidade vizinha. Enquanto o problema não é solucionado, a cidade encontra-se desamparada, quando o assunto é parto, cesáreas e internações. Pelo menos no que diz respeito às pessoas menos favorecidas economicamente.
Procurado pela redação do Jornal de Pomerode, até o fechamento desta edição, o prefeito Rolf Nicolodelli não se manifestou sobre o assunto.

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