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Os animais têm sentimentos

Em entrevista ao Jornal de Pomerode, veterinária comenta alteração do código civil na França, que passa a reconhecer os
animais como seres possuidores de sentimentos como dor, amor, felicidade, raiva e alegria

18 de fevereiro de 2015

Na última semana, foi divulgado que o parlamento francês, em decisão histórica, alterou o código civil do país, reconhecendo os animais como seres dotados de sentimentos. O parlamento francês finalmente percebeu algo que muitas pessoas já sabiam: os animais são capazes de vivenciar seus próprios sentimentos: dor, amor, felicidade, raiva, alegria, amizade e tantos outros. A diferença agora é que este direito é reconhecido de forma legal no código civil do país.
Até então, de acordo com o antigo código elaborado por Napoleão em 1804, os animais eram considerados como bens de consumo, principalmente para trabalho forçado em fazendas. A representatividade legal dos animais na França perante os tribunais era mínima. 

A partir de agora no país, os animais não são mais definidos por valor de mercado ou de patrimônio, mas sim pelo seu valor intrínseco como sujeito de direito. Segundo a ONG idealizadora do projeto, esta virada histórica coloca um fim a mais de 200 anos de uma visão arcaica do Código Civil francês em relação aos animais. Finalmente os parlamentares levaram em conta o estado da ciência e ética de uma sociedade do século 21.

Para saber mais sobre o assunto, o Jornal de Pomerode conversou com a veterinária Roberta Bionda, que deu sua opinião e contou histórias sobre o poder transformador dos animais na vida das pessoas.

Jornal de Pomerode – O que você pensa sobre esse reconhecimento dos animais como seres possuidores de sentimentos?

Roberta Bionda – Já passou da hora deste reconhecimento existir. A cada ano, aumenta o número de pessoas que se apaixonam por animais e procuram cuida-los da melhor forma. É um dos mercados que mais movimenta dinheiro no mundo. Animais domésticos ou não têm seus instintos e sentimentos. Eu duvido que qualquer pessoa que tenha um animal em casa não tenha alguma história para contar, seja ela de um momento de alegria ou tristeza. Pessoas que também trabalham em parques, zoológicos, aquários, todos têm algo a contar. O convívio com os animais transforma o coração das pessoas. Eles as deixam mais leves, alegres e de bem com a vida. Ensina as pessoas a trabalharem diferentes tipos de sentimentos, inclusive saber impor limites. Animais fazem isso. Eles expressam através do olhar a alegria, a raiva, a tristeza, a agonia, a dor, a ansiedade…eu tenho uma experiência sensacional que compartilho com muitas pessoas. 

Minha prima, Sonia, nunca gostou de cães. Quando chegava em casa, sempre tínhamos que prender o Nicky, um cão da raça Beagle que tínhamos. Está bem vai, o Nicky era chatinho (risos) arrumava encrenca com todos os pastores alemães e tinha um ciúme danado da minha mãe. Mas nós o amávamos. Um dia, Guilherme, meu primo, me ligou e disse: Prima quero comprar um cachorro, o que você acha? Acho demais, só que quando você se formar com quem vai ficar esse cachorro se seus pais não gostam? Ahh depois eu vejo, ele disse. Neste momento, já imaginei que ficaria comigo, claro. Escolheu um labrador e a ele foi dado o nome de Bóris. Guilherme se formou e foi trabalhar num lugar longe. Com que ficou o Bóris? Com a Sonia, que numa frase simples e verdadeira me disse: Roberta, como os cães mudam a nossa vida. Eu era uma pessoa fechada, quase não conversava com as pessoas e jamais com desconhecidos. Hoje, eu ando na rua passeando com o Bóris e ao ver outra pessoa vindo em minha direção com um cão, já puxo uma conversa: “Olha Bóris que bonitinho esse outro cão, que raça é? Qual o nome?”. Sonia fez mais amigos, ficou mais descolada e não contente, comprou a Luna, outra labradora. Depois disso, quando Sonia vinha me visitar em Pomerode, meus cães sempre deitavam com ela no sofá, participavam do café da manhã ou lanche da tarde com ela e sempre demos muitas risadas e contamos muitas histórias ao lado destes amigos peludos.

J.P. – No Brasil existe alguma ação do gênero?

R.B. – Hospitais já permitem que cães possam fazer visitas, asilos fazem o mesmo. Está tudo explícito. Os animais são seres vivos que estão aqui para nos transformar em pessoas melhores. Felizes são os que tem a sensibilidade de enxergar isso.

J.P. – Você convive com animais. Já percebeu manifestações de emoções? Se sim, fale sobre elas. 

R.B. – Vivencio isso todos os dias na clínica. Meus clientes que estão sempre comigo devem ter muitas lembranças boas e engraçadas. Como tristes também. Não me lembro de todas, mas uma que me marcou muito, e foi triste, foi quando minha cachorra Atropina morreu atropelada. O meu labrador, ao final do dia, estava com um semblante que jamais me esquecerei. A tristeza da perda da companheira estava nos olhos dele. Sentado aqui no jardim, com as patas cruzadas, ele mantinha o olhar fixo no vazio. E eu chorei ao ver nos olhos dele a dor que ele sentia. Momentos engraçados temos tantos, graças a Deus, muito mais alegrias que tristezas. Meu vizinho Bob Lee, filho cão de Dona Loli e Seu Mario, entra na clínica pela porta da frente, vai sozinho ao banho e tosa e quando vê a Aline abana o rabo feliz da vida. Aline o pega, dá banho, seca, coloca um perfume e ele atravessa a clínica toda e vai embora pra casa. Tem situação mais deliciosa que essa? Têm outros que chegam e vêm me dar beijo, mesmo se eu estou atendendo, invadem o consultorio e eu adoro.

J.P. – Qual é o tratamento ideal a ser dado a um animal?

R.B. – As necessidades básicas como boa ração, visitas ao veterinário constantemente, manter vacinas e remédio de vermes em dia e proteção contra ectoparasitas. Além, é claro, de amor, carinho e respeito.

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