Educação

Oportunidades criadas por meio do Ensino Bilíngue

Entenda como funciona a iniciativa existente em três escolas de Pomerode e saiba quais os benefícios do projeto

28 de agosto de 2024

Professora Viviane em sala de aula, com os alunos do Ensino Bilíngue. (Foto: Isadora Brehmer / JP)

Os alunos da rede pública de educação de Pomerode possuem, desde o ano de 2008, acesso a uma iniciativa que proporciona o aprendizado do idioma alemão com o Ensino Bilíngue.

Segundo a coordenadora da iniciativa e gerente de ensino dos anos finais da Secretaria de Educação e Formação Empreendedora de Pomerode, Ranice Dulce Trapp, o então Projeto Bilíngue foi iniciado no ano de 2008, a partir do 2º bimestre, na Escola Básica Municipal Olavo Bilac.

“A ideia de criar o projeto Bilíngue em Pomerode surgiu em 2007, quando nosso então prefeito Ércio Kriek esteve presente no Encontro Brasil-Alemanha, em Blumenau, e lá teve contado com uma participante do Encontro que atuava em uma escola português-alemão, na Alemanha. Ela explicou como a escola funcionava, e depois o prefeito iniciou as conversas com a secretaria de educação. Assim começou a ideia de criar um ensino bilíngue, porque se tinha a consciência de que, para preservar a cultura, era preciso manter o idioma, pois se não, as pessoas que ainda falavam alemão morreriam e não haveria como preservar a cultura sem o idioma”, explica a coordenadora do Ensino Bilíngue em Pomerode.

Quando o projeto foi criado, na Escola Olavo Bilac, havia duas turmas de 1º ano, e a ideia inicial é que uma seria do Bilíngue e a outra do ensino regular. No entanto, quando foi aberta à comunidade a possibilidade de escolher entre as duas turmas para os alunos, todos sinalizaram que gostariam que seus filhos frequentassem o Bilíngue.
Ranice foi a professora destas primeiras turmas e, desde o início, havia a intenção de expandir o projeto para, pelo menos, mais uma escola em Pomerode. Então, em 2009, a Escola Básica Municipal Dr. Amadeu da Luz passou a ter o Ensino Bilíngue e Ranice passou a trabalhar na parte da manhã em uma escola, e à tarde na outra.

“No início, os alunos do 1º ano tinham aula na metade da manhã em português e na outra metade em alemão. Para isso, a turma era dividida em duas, voltando a ficar unida em algumas disciplinas como educação física, artes, inglês e ensino religioso. Assim continuou por um tempo, por alguns anos o 1º e o 2º ano assim. A partir de 2012, então, foi definido que os alunos teriam, a partir do 2º ano, dois dias de contraturno”, explica Ranice.

Quando a primeira turma de alunos do projeto chegou ao 3º ano do Ensino Fundamental, os alunos passaram a ter 10 aulas de alemão do Bilíngue, sendo necessário que ficassem por dois dias no período integral na escola. E depois, mais uma mudança, o 1º ano tinha a turma dividida e a partir do 2º os alunos tinham dois dias com aula em período integral.

O Ensino Bilíngue foi mantido assim até o ano passado e, em 2024, houve uma nova adequação nas três escolas em que a iniciativa existe: Olavo Bilac, Amadeu da Luz e Professora Noemi V. C. Schroeder.

A Escola Amadeu da Luz tem o Bilíngue com o 1º ano tendo 17 aulas em língua alemã e, nas outras duas escolas, são oito aulas em alemão para esta turma. A partir do 2º ano até o 9º, alunos da Olavo Bilac e Amadeu da Luz têm 10 aulas em alemão e na Noemi Schroeder são oito aulas. Nas três escolas, a educação infantil tem cinco aulas em alemão.

“Esta mudança neste ano foi feita para conseguirmos adequar as aulas do Ensino Bilíngue à realidade de cada comunidade e a mudança foi regulamentada pelo Conselho Municipal de Educação. Para o ano que vem, novamente vamos analisar as realidades de cada comunidade e adequar ou não, conforme a necessidade”, explica Ranice.

 

Nas aulas em alemão, são trabalhadas quatro disciplinas: Deutsch (idioma alemão), Matematik (matemática), Zachkunde, (estudo do meio – história, gerografia e ciências) e Kunst (artes). Os alunos destas turmas precisam alcançar as médias mínimas de nota necessárias para a aprovação, assim como no ensino regular. Em caso de reprovação em uma destas disciplinas, o aluno precisa cursar novamente o Ensino Bilíngue e o regular na mesma turma em que houve a reprovação.

Para alunos novos que ingressarão nas escolas com o Ensino Bilíngue, é realizada uma prova proeficiência para ingressar na turma bilíngue, então, segundo Ranice, quanto mais novos, mais chances eles têm de conseguirem entrar. “Mas é algo que estamos estudando para nos adequarmos à realidade da migração, que vem crescendo na cidade”, pondera a coordenadora.

Segundo dados da Secretaria de Educação e Formação Empreendedora, Pomerode possui 825 alunos matriculados no Ensino Bilíngue, desde a Educação Infantil até o 9º ano. Destes, 299 são da Escola Olavo Bilac, 319 da Escola Amadeu da Luz e 207 da Escola Noemi V.C. Schroeder.

Um destes alunos é Tobias Siewerdt, do 8º ano Escola Olavo Bilac, onde estuda desde o 6º ano, já no Ensino Bilíngue. Para o aluno, estar na turma do projeto é uma forma de se preparar para o futuro e também levar consigo as raízes familiares do idioma alemão.

Aluno Tobias Siewerdt, do Ensino Bilíngue. (Foto: Isadora Brehmer / JP)

 

“Minha família inteira fala alemão, eu não era muito apegado, mas desde que entrei aqui aprendi mais o idioma e hoje falo em alemão em casa também. Gosto que as aulas são bem dinâmicas, com atividades diferentes, além de me dar a chance de fazer a prova para obter o certificado no 9º ano, pois vai me ajudar na minha carreira profissional”, afirma o estudante.

 

O Ensino Bilíngue na prática

Viviane Regina Lemke Rothermel é professora do Ensino Bilíngue na Escola Amadeu da Luz. Ela explica a forma como a iniciativa se diferencia de um curso de idiomas, em seu currículo.

“A educação Bilíngue, ao contrário de um curso de idiomas, traz o idioma para dentro de outras matérias do currículo escolar. É como se as professoras de português e de alemão desenvolvessem as matérias de forma integrada. O alemão é inserido no ambiente de aprendizagem. Estar em contato com o Ensino Bilíngue desde a infância facilita a aprendizagem de outros idiomas no futuro. Além disso, saber o alemão também abre muitas portas em relação ao futuro profissional e traz muitas oportunidades, como vaga de emprego em empresas alemãs da região, comércios locais e até intercâmbios e propostas de estudos em universidades no exterior. Além disso, ter escolas bilíngues oportunizam aos estudantes o contato com culturas de países diferentes em que se é falado o alemão. Esse contato traz referências como literatura, músicas, poesias em alemão”, enaltece a professora.

Ainda segundo Viviane, os temas desenvolvidos em sala de aula, no seu caso, são temáticas familiares ao contexto das crianças, e que sejam de interesse deles, por exemplo, apresentação pessoal, família, animais, frutas, brinquedos, lazer, escola.

“Um dos grandes desafios hoje em lecionar em língua alemã seria a questão de material didático de apoio para os alunos e que seja consumível. Neste momento, grande parte do que é desenvolvido em sala é elaborado por nós, principalmente no que diz respeito a alfabetização bilíngue. Outra questão é o desinteresse principalmente dos alunos maiores em querer aprender mais uma língua. Manter os alunos motivados durante as aulas muitas vezes é um desafio. As aulas precisam ser atrativas e lúdicas e mesmo assim muitas vezes não atendem as expectativas. Nossas salas de aula estão cada vez mais diversas, e muitas vezes adaptar as aulas as individualidades das crianças é um desafio. Um exemplo é que cada vez menos crianças estão vindo falando alemão de casa o que em minha opinião é uma perda lastimável, logo a maioria das crianças estão aprendendo o alemão comigo na escola, muitas tem o primeiro e único contato na escola. Quando planejo minhas aulas, eu preciso oportunizar experiências que desenvolvam a aprendizagem do alemão para estas crianças, mas que de certa forma também contribuam para que os alunos que já falam alemão também desenvolvam mais suas habilidades. Isto na prática muitas vezes é um desafio”, pondera a professora.

A coordenadora do Ensino Bilíngue reforça, ainda, que os alunos que chegam ao 9º ano fazem uma prova que garante um certificado de nível iniciante, chamado A2, e, na sequência, quem continua estudando alemão no Colégio Doutor pode elevar este nível.

“Temos ciência de que alunos que passaram pelo bilíngue com resultados expressivos e alçando boas oportunidades, além de relatos dos professores e famílias que os alunos ficam mais intuitivos, com raciocínio mais rápido, mais comprometidos, responsáveis. Têm relatos de alunos que, ao chegarem em empresas e citar o Ensino Bilíngue e o certificado, foi um diferencial. O ensino Bilíngue é uma oportunidade aos nossos alunos, na rede pública, para aprender mais, que vai além do idioma, passa pela socialização, viver em grupo, responsabilidades, tudo isso vem no Ensino Bilíngue, além de promover mais contextualização de mundo, viagens de estudos e conhecimento de outras culturas. E, para o ano que vem, acordamos com o Colégio Doutor que os alunos formados em 2023, pelo Bilíngue, e os deste ano, farão as aulas de alemão de forma gratuita no Colégio”, finaliza Ranice.

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